“A nossa vida é uma coletânea de histórias, experiências, conexões, encontros, despedidas, dores, alegrias, escolhas, renúncias e aprendizados. A vida é uma narrativa viva, por isso requer movimento. E ao estar em movimento, percebemos que a vida é transitória.” Este é um trecho do livro ‘O que você quer de verdade? Aprenda a escolher o caminho do não sofrimento e construa uma jornada próspera, significativa e feliz’, de autoria de Luciana Barbosa (editora Paraquedas).

Aos 51 anos, psicóloga, empresária, palestrante, mãe de 5 filhos e ex-atleta, a autora já colecionava inúmeras conquistas e aprendizados valiosos sobre a vida. Após o final da pandemia, ela se incomodou com o fato de ser considerado “normal” socialmente estar ansioso ou deprimido de forma constante. Com essa indignação, sentiu a necessidade de passar seus conhecimentos e práticas adiante por meio da escrita.

Em sua obra, propõe reflexões contrárias à normalização dos sofrimentos e mostra que existem outras maneiras de viver as experiências e responder a elas com mais leveza, autenticidade e significado. Ao longo dos nove capítulos, são abordados assuntos como identidade, transitoriedade e a construção de uma narrativa pessoal.

Trajetória

Luciana nasceu no Rio de Janeiro, mas, atualmente, vive em Brasília, capital federal. Quando criança, mudou-se com frequência, tendo morado na República Dominicana durante parte de sua adolescência. É formada em psicologia e nas técnicas breathwork e EFT (Emotional Freedom Technique). Além disso, tem uma longa trajetória como empresária, sendo atualmente sócia-conselheira do Grupo AYO (tecnologia) e da rede Tio Gu Creperia (alimentação). É voluntária nos movimentos do Grupo Mulheres do Brasil e Junior Achievement, em que fomenta o empreendedorismo.

Foi atleta de alta performance como nadadora, conquistando, aos 17 anos, em 1989, o título de campeã brasileira na competição de 200 metros nado peito do centro-oeste. Seu recorde foi batido somente 32 anos depois, em 2001. Em 2023, realizou um desafio pessoal de seguir sozinha pelo Caminho Francês até Santiago de Compostela, Espanha, concluindo em 34 dias os 800 quilômetros.

Qual o motivo da atual tendência de normalizar sofrimentos, como ansiedade e depressão?

Estar ansioso, que é o excesso de preocupação com o futuro, e estar deprimido, caracterizado pelo foco demasiado no passado, são sentimentos que, quando se tornam persistentes e exacerbados no cotidiano, podem indicar um desequilíbrio emocional. A atual tendência de caracterizar esses sentimentos como algo comum é conhecida por normose, termo cunhado por Roberto Crema e Jean-Yves Leloup nos anos 1980. Essa ideia descreve como as pessoas consideradas “normais” acabam se adaptando a um sistema doente, reforçando sua existência.

Muitas pessoas buscam se realizar seguindo padrões externos, motivadas pela competição e pela pressão social, o que as afasta de sua verdadeira essência. Esse desalinhamento entre a busca pessoal e as expectativas sociais geram frustração e sofrimento, que acabam sendo aceitos como algo inevitável na vida, tornando-se uma normose.

Como psicóloga, mãe de 5 filhos e alguém que busca construir uma jornada de vida próspera, significativa e feliz, as normoses me incomodam profundamente. Ignorar o desequilíbrio emocional pode levar a patologias graves. Escrever o livro ‘O que você quer de verdade?’ foi uma das maneiras que encontrei para trazer luz a esse assunto.

E quais as consequências dessa normalização?

As consequências dessa normalização são profundas e impactantes. Ao aceitar situações que afetam nossa integridade, saúde e bem-estar, ou ainda que nos impedem de manifestar nossa natureza para nos ajustarmos ao status quo convencionado, distanciamo-nos de nossa singularidade.

Isso resulta na perpetuação do sofrimento e da infelicidade, pois nos afastamos cada vez mais de nossa essência autêntica. Além disso, perdemos a capacidade de reagir conscientemente ao sofrimento, pois é considerado “normal” na vida “moderna”. Muitas vezes, optamos por recorrer a medicamentos (e drogas), prazeres voláteis e amores líquidos em vez de buscar uma reflexão interna mais profunda. Perdemos a capacidade de expressar indignação e agir de acordo com nossa consciência e intenção na direção do que realmente queremos.

Em vez dessa normalização, quais as outras maneiras de viver as experiências e responder a elas com mais leveza, autenticidade e significado?

Em vez de normalizar o sofrimento como algo inevitável e parte integrante da vida, é fundamental explorar outras maneiras de viver as experiências com mais leveza, autenticidade e significado. O caminho para isso passa pelo autoconhecimento e pela conexão com a essência.

Para alcançar essa perspectiva, é essencial estar consciente no momento presente. Isso significa questionar os padrões automáticos que adquirimos ao longo da vida e buscar uma compreensão mais profunda de nossos verdadeiros desejos e valores. Esse processo não é simples nem fácil, especialmente considerando a prevalência do status quo convencionado que nos aprisionou e nos fez acreditar que o sofrimento é algo normal e inevitável.

Qual a importância e como saber o que se quer?

Saber o que se quer é fundamental para dar direção à vida e encontrar realização pessoal. Apesar de parecer uma pergunta simples, a resposta raramente é fácil de ser encontrada. Muitos de nós estamos imersos em uma realidade ilusória, buscando algo que sequer compreendemos totalmente. Essa desconexão de nós mesmos nos leva a travar lutas incessantes por objetivos que, no fundo, não nos trazem paz e plenitude verdadeira. Como resultado, nunca nos sentimos verdadeiramente satisfeitos.

No entanto, ao longo da jornada da vida, podemos aprender, desenhar novos objetivos e trilhar novos caminhos. É importante fazer uma pausa e se questionar: “Que oportunidades se apresentam para mim? O que eu quero de verdade? Qual o primeiro passo com o que tenho em mãos? O que eu posso testar se ainda não sei o que eu quero?”

Ao se aprofundar cada vez mais nas perguntas, novos leques de oportunidades irão surgir e, com eles, novas descobertas sobre o que você valoriza e o que traz um real significado para a sua vida. Manter-se em movimento constante e consciente é essencial, pois permite que as respostas pertinentes venham à tona, guiando-nos para a próxima etapa do caminho.

Como o modelo mental influencia as escolhas e, consequentemente, os resultados das pessoas?

O modelo mental exerce uma influência significativa sobre as escolhas e, por conseguinte, sobre os resultados das pessoas, moldando seus pensamentos, crenças e hábitos. Esses padrões mentais influenciam as decisões tomadas no dia a dia. Eles podem tanto limitar quanto expandir as possibilidades de uma pessoa, direcionando suas ações e impactando diretamente os resultados obtidos.

É importante ressaltar que estar consciente no momento presente é essencial para tomar decisões verdadeiramente alinhadas com nossos objetivos e aspirações, permitindo que nos libertemos da influência da programação mental adquirida no passado e muitas vezes inconscientes.

As perguntas são uma excelente ferramenta para identificar os nossos padrões mentais. Quando bem formuladas, têm um poder incrível de explorar o mundo e nós mesmos, desafiando-nos a crescer e a buscar todo o nosso potencial. Elas estimulam o pensamento crítico, expandem o conhecimento, despertam a criatividade, desenvolvem habilidades de resolução de problemas, autoconhecimento e crescimento pessoal. Ao identificar, compreender e transformar nossos padrões mentais, podemos ampliar nosso repertório de possibilidades e tomar decisões mais conscientes e alinhadas com nossos verdadeiros e atuais desejos.

De que forma os sentimentos são fonte de informação e como utilizar essa informação?

Os sentimentos são respostas internas a algo que está acontecendo. Quando conseguimos desvendar o que eles estão querendo nos dizer, somos capazes de entender o que está por trás. Por que o que está acontecendo agora me faz sentir medo? Ou raiva, ou alegria, ou tristeza? A questão é que não nos damos uma pausa – tempo para parar, nos observar e questionar. E aqui gostaria de fazer uma distinção. Não somos os nossos pensamentos, somos os observadores deles. Aqueles que têm a capacidade de se distanciar, questionar, refletir e fazer escolhas. Mas, para isso, precisamos estar no momento presente e não agir no automático.

Lidar com um turbilhão de sentimentos com a agitação do mundo “moderno” é inevitável. Precisamos refletir o quanto de sofrimento criamos para nós mesmos ao darmos aos problemas uma dimensão muito maior do que o necessário. Por que tantas vezes focamos no problema e não na solução ou no aprendizado que ele nos oferece? Os sentimentos são uma fonte valiosa de informação sobre nossas necessidades não atendidas. Ao reconhecer e validar nossos próprios sentimentos, podemos nos conectar mais profundamente com o que queremos de verdade. Dessa forma, é possível tomar decisões mais alinhadas com as necessidades internas e responder à vida de forma mais autêntica e significativa.