Para finalizar a semana em que se comemora o Dia da Conscientização do Autismo, divulgamos um projeto sobre o autismo e música. A Neurodidática avalia que a música exerce um papel significativo na diminuição momentânea de características do autismo, promovendo a interação social e o desenvolvimento da linguagem, sendo de fundamental importância sua prática nos primeiros anos de vida da criança autista.

Incentivo à conscientização

Esse projeto é liderado pelo Instituto Anelo, que há 23 anos promove a inclusão social pela música em Campinas, envolve 18 músicos, profissionais de produção e divulgação, entidades, pais e pessoas com o Transtorno do Espectro Autista (TEA) no processo de lançamento da música inédita “Mundo Azul”.

A canção foi lançada em todas as plataformas digitais em 2 de abril, Dia Mundial da Conscientização do Autismo, e terá mais duas versões: em videoclipe, com lançamento agendado para 9 de abril, e outra acompanhada de uma animação, cujo lançamento será em 16 de abril. O projeto conta com os vocais de Luccas Soares, fundador do Instituto Anelo, da cantora Aline Ramos e participação especial de Amanda Maria, finalista do programa The Voice.

Dificuldades e desafios

Segundo Luccas Soares, a inspiração para a música veio da vivência com seu filho João, de 4 anos e diagnosticado com TEA. Porém, em conversas com pais de crianças autistas atendidas nas aulas do instituto, ele percebeu potencial para um projeto maior, que promovesse conscientização falando sobre “as dificuldades, desafios e, acima de tudo, sobre amor”. “Trocando com muitos pais, vi que se identificaram, que a música era além de casos individuais”, afirma. De forma afetiva e lúdica, mas realista, a ideia é expor a vivência das pessoas envolvidas com esse “mundo azul” (cor que simboliza o autismo), e assim estimular também a reflexão sobre a necessidade de ações para a inclusão social não só dos autistas, mas em extensão de todas as pessoas consideradas “atípicas”, que têm algum transtorno ou deficiência.

Sobre a situação que o despertou para a composição, o músico conta que aconteceu após uma noite insone dele e de sua esposa Geiza, devido à agitação do filho. Pela manhã, ambos cansados, se depararam com um menino sorridente e os buscando para brincar no balanço. “Eh, João, se fosse fácil, não seria você”, reagiu Luccas, pinçando logo esse trecho – Se fosse fácil, não seria você – para iniciar uma nova letra. Uma situação que também indica um dos grandes desafios enfrentados pelos pais de autistas – a própria saúde mental. “Não tenho vergonha de dizer que tive depressão devido à privação do sono, algo muito difícil de enfrentar, e nesse processo comecei a compor. Entre os casais, pais de atípicos, é muito comum que  tenham depressão. Não é só a criança que precisa de cuidados, os pais também.”

Inclusão escolar

Mas, para Luccas, a dificuldade que “mais dói” aos pais de autistas é a batalha pela inclusão escolar. “A maioria das escolas que visitamos, e foram muitas, não estava preparada para atender. O mais triste é que muitas não estavam nem interessadas em saber mais, em preparar professores. E quando a gente procura escola pública, elas proíbem a entrada de acompanhante terapêutico (AT). É uma grande polêmica, pois as unidades proíbem, mas não providenciam pessoas capazes de dar suporte aos nossos filhos. E a educação é uma necessidade básica. Se a escola não incluir, quem vai?”, questiona, ressaltando que a luta dos pais pelos AT é também uma forma de proteger seus filhos de casos de violência dentro da escola, que infelizmente são relatados e atingem principalmente as crianças com maior dificuldade de comunicação. 

“Penso que as escolas deveriam, assim como tem alvará de funcionamento, avcb, ter também o selo de credenciamento de inclusão. Assim, nós, pais de crianças  atípicas, não perderíamos tanto tempo em busca de escolas inclusivas”, sugere Luccas Soares, para o poder público. Luccas é pai de gêmeos, João e Rebeca, sendo que sinais como atraso no desenvolvimento da fala e ações repetitivas do menino, não observados na irmã, levaram os pais a procurar profissionais de saúde e ter o diagnóstico de TEA. 

Homenagem também aos familiares

A gravação do videoclipe contou com autistas atendidos no Anelo, Instituto Ser e Paica (Programa de Atenção Integral à Criança e ao Adolescente), de Campinas, em situações cotidianas de atendimento. Também foi contratado um time para produzir uma animação para a música. Para viabilizar os custos, o projeto conseguiu apoio de verbas sociais do Ministério Público do Trabalho (MPT) e da Unimed Campinas. “Nosso foco é conscientizar, mas, sobretudo, homenagear os familiares, que vivem esta realidade. Sem romantizar, e também não dramatizando, a música busca mostrar esse amor de uma forma real”, conta Luccas. 

Com arranjo alegre, ” Mundo Azul” traz ainda, em um trecho da letra, a frase “Eu te amo, meu amor” cantada em mandarim (Wǒ ài nǐ, Qīn’ài de), indicando duas linguagens diferentes entre pessoas que se amam.  Para isso, os músicos contaram com a contribuição de Jia Sun Costa, professora de mandarim, que ensinou e treinou a pronúncia correta no idioma estrangeiro. Ao se referir ao filho na canção como “Meu mundo azul”, o autor também buscou incluir  o girassol, uma simbologia comum a diversos tipos de deficiência, não só o autismo.

E MAIS…

Ficha Técnica

Composição – Luccas Soares

Arranjo – Fernando Baeta

Voz – Luccas Soares

Voz – Amanda Maria 

Voz – Aline Ramos

Coro– Danilo Oliveira, Denny Araujo, Mark Rodrigues

Sax Tenor – Eric Almeida

Trompete – Gê Ribeiro

Trombone Glaucio SAnt´Ana

Piano – Amanda Camargo 

Contrabaixo – Felipe Fidelis

Guitarra – Fernando Baeta

Percussão – Josi Moraes 

Bateria – Pepa D´Elia

Violoncelo – Ana Clara Ferreira Alves 

Viola – Gabriel Carlin

Violino – Samuel Lima

Violino – Victor Freitas Matos

Áudio – Estúdio do Mário

Captação de Áudio– Henrique Manchúria, Mário Porto 

Edição e Mixagem– Mário Porto 

Masterização – Mário Porto 

Vídeo – Sete Mares-

Direção de Vídeo – Cláudio Alvim

Captação– Cláudio Alvim, Levi Macedo

Edição de Vídeo– Cláudio Alvim

Direção Musical – Fernando Baeta

Arranjo – Fernando Baeta

Produção – Elaine Oliveira, Luccas Soares

Imprensa – Claudio Liza, Débora Venturini

Design Capa – Airton Francisco

Realização -Instituto Anelo, Ministério Público do Trabalho, Procuradoria Regional do Trabalho da 15ª Região, Unimed Campinas

Entidades convidadas – Instituto Ser, Paica (Programa de Atenção Integral à Criança e Adolescente)