A tecnologia veio para ficar, novas possibilidades e descobertas fazem parte deste contexto. Basta um click, tudo resolvido!

Na sociedade contemporânea, o uso da tecnologia é fundamental e em muitos casos, essencial para o desenvolvimento de todas as atividades, seja na vida pessoal ou profissional do ser humano. O fato é que o uso de celulares, computadores, internet, software dentre tantas outras, oportunizou interações em grande escala à humanidade, se tornando quase utópico a não utilização de tal ferramenta em diversas situações.

Onde está o perigo

Pensar a negação da tecnologia em um ambiente familiar ou escolar chega ser inconcebível, já que a mesma pode trazer dinamismo ao processo das relações. Na escola o uso deste recurso tornou-se uma importante ferramenta de estudo e pesquisa, e um grande apoio para a aprendizagem ampliada do estudante e de todos os envolvidos no desenvolvimento e aquisição de novas possibilidades dos conhecimentos.

Nos lares, muitos pais permitem que seus filhos fiquem horas a frente das telas dos computadores, tabletes, sem muitas vezes identificarem os conteúdos que os jovens estão acessando. O que chama a atenção é que muitos responsáveis, por exemplo, não permitem que seus filhos possam ir até a padaria para comprar algo, para não atravessarem a rua, por determinadas cautelas com medo de serem atropelados, e permitem que seus filhos fiquem “trancados” nos quartos, com uma “estrada aberta” que oferece um perigo silencioso e velado, a internet.      

O controle e a responsabilidade sobre esse contexto, sem dúvida começa em casa, porém, a escola pode oferecer um diálogo com jovens para que possam refletir sobre essas situações que poderão muitas vezes, trazer danos irreparáveis para a vida dos jovens e de muitas famílias envolvidas. 

Jovens tornam-se vulneráveis

A falta de maturidade e conhecimento para lidar com a internet pode ser muito perigoso, pois muitas crianças que participam de alguns sites, não sabem a real intenção de quem está do outro lado. Em alguns casos, participam devido à pressão dos colegas e acaba que não quer ficar de fora.

Jovens tornam-se vulneráveis a jogos que colocam em risco a própria vida, a exemplo a “Boneca Momo”, têm despertado reflexão entre especialistas e autoridades sobre como crianças e adolescentes são expostos na internet. Muitas famílias não percebem que seus filhos estão envolvidos nessas situações e que, por isso, há a necessidade de reforçar o diálogo com elas. Os pais precisam ouvi-las, fazer parte do universo delas e fortalecer a intimidade aos vínculos de confiança

Os jovens quando não reconhecem suas emoções, podem acabar encontrando apoio afetivo, muitas vezes, nos sites disponíveis na internet.  Dispositivos tecnológicos habituais das crianças e adolescentes, vêm sendo intensificados cada vez mais precocemente. Eles interagem com múltiplos ambientes de forma natural e nativa. Essa geração nasceu na era touchscreen, vive num imenso universo de tecnologia e essa realidade vem provocando uma profunda mutação em seus comportamentos.   

Disfunções comportamentais

O alerta sobre essa situação é que por trás dessa prazerosa vulnerabilidade, os jovens ou as crianças, podem apresentar determinadas disfunções comportamentais, como compulsividade em permanecer horas expostos aos games, sites de internet, etc., e podem estar apresentando determinado traço de ansiedade, sem que os pais ou professores identifiquem. E causa a princípio, pode ser o transtorno de ansiedade, que é uma patologia do sistema nervoso, especificamente cerebral/ mental, e   manisfesta-se como uma das piores experiências sofridas com grandes consequências biopsicossociais, ou seja, os relacionamentos e os convívios sociais, devido aos efeitos estressores causados pelos sintomas.

A ansiedade é um quadro psicopatológico clássico, estudado e acompanhado pela Psiquiatria, Psicologia clínica e Psicanálise. É considerado um estado psíquico muitas vezes silencioso, porém, pode trazer danos sentimentais e emocionais severos.

Estudos apontam que a ansiedade ocorre em todas as idades, inclusive com frequência na infância, adolescência e início da vida adulta, algo entre os 17 e 28 anos de idade, mais ou menos, pois nessa faixa etária as conexões neuronais sofrem ajustes neuromaturacionais e neuroquímicos continuamente como uma “montanha russa”, e um conjunto de genes pré existente que atuam diretamente nessa fisiologia neural.  A base da ansiedade é psíquica e neurobiológica, podendo promover inclusive, a incapacidade para pensar, dificuldade para elaborar respondas emocionais, déficit de memória e atenção, problemas na comunicação a ponto de interferir substancialmente na capacidade de atender as demandas comuns da vida. O transtorno de ansiedade pode ser um sinal do processo depressivo, e o espaço confortável para se esconder-se da realidade, pode ser a estrada aberta e vulnerável, internet.

“Gatilhos” emocionais e psíquicos

O humano é o único animal no contexto dos seres vivos que possui a complexidade da consciência e da autoconsciência, dai, sua constante relação e interpretações com fatores externos e ambientais, as quais são capazes de elaborar pensamentos e linguagens próprias. Existe na organização do corpo humano, uma infinidade de possibilidades que precisam ser valorizadas e escutadas no dia a dia, desde a infância à vida adulta.

O ser humano tem a condição de criar possibilidades, e na medida em que essas não se realizam, por qualquer eventualidade numa determinada situação, a tendência é o indivíduo alterar-se emocionalmente. A pergunta é? O que pode ter desencadeado nesse momento? Quais os “gatilhos” emocionais e psíquicos podem ter estimulados à essa psicobiologia reagir e provocar aparentemente, uma fúria, uma raiva, um desânimo, uma tristeza, um luto, a depressão, ou muitas vezes, calar-se diante de uma ameaça e não reagir. Por esses motivos, os responsáveis precisam aumentar a observação, a escuta e o diálogo com os jovens e crianças, permitindo compartilhar anseios, dúvidas, questionamentos.

A escola pode ajudar as famílias a reconhecer as vulnerabilidades trazidas dos espaços cibernéticos que provocam alterações nos comportamentos dos jovens e das crianças, por meio de abordagens psicoeducacionais, utilizando-se de games que podem ser construídos por eles, sob a supervisão de um professor capacitado para elaborar essa atividade com os estudantes. É necessário, desenvolver a autonomia e autoria de uma aprendizagem que até então, não se tem a percepção que são capazes de realizar.

E MAIS…

Avalie o comportamento das crianças e adolescentes com acolhimento e orientação

Algumas observações e cuidados podem ajudar no diagnóstico de vulnerabilidade perante o mundo cibernético. É importante que professores, pais e responsáveis fiquem atentos. 

1 – O adolescente ou a criança precisa buscar as pessoas para confiar, compartilhar seus anseios, seja no ambiente escolar ou familiar.

2 – Os educadores podem identificar situações de risco entre os estudantes. Não é qualquer jovem ou criança que vai responder ao chamado de um jogo, por exemplo, mas, existe a chance do jovem ou da criança em situações de vulnerabilidade, atender a apelação de um determinado games, site. A escola pode contribuir à construir laços e tem papel fundamental de perceber como os estudantes se desenvolvem e se comportam no dia a dia escolar, e comunicar aos responsáveis.

3 – A criança ou adolescente com autoestima baixa, sem vínculo familiar fortalecido é mais vulnerável a cair neste tipo de armadilha. O que tem diálogo em casa, não é criticado o tempo todo, tem autoestima melhor, tem risco menor. Deixe que ele fale o que está sentindo, é um momento muito importante, propor o diálogo nos membros da família. É importante que a criança ou adolescente expressem suas emoções e sentimentos.

4 – Um jovem ou criança fortalecida em seus relacionamentos afetivos, reconhecem facilmente pessoas manipuladoras presentes na internet, nos sites e jogos.

5 – A escola pode realizar conversas informais ou formais, por meio de palestras, estudos com profissionais capacitados para abordagem interdisciplinar sobre o assunto, com os pais, estudantes, professores.

6 – O fundamental de tudo é a atuação mais efetiva de Políticas Públicas referente a segurança do uso da internet.

7 – A escola também, deve despertar no estudante aprender a aplicar linguagens de programação para criar jogos para computadores, videogame, internet e celulares, trabalhando desde a formação de personagens, roteiros e cenários até a programação do jogo em si. O objetivo é a ajudar os jovens a verem que viver, vale a pena.

8 – As famílias precisam monitorar o uso da internet, frequentar as redes sociais dos filhos, observar comportamentos alterados dos filhos(as) e, sobretudo, conversar com eles(as) a respeito das consequências de práticas que nada têm de brincadeira.

9 – Cuidado com os jovens que apresentam tendência a depressão, pois eles costumam ser especialmente atraídos por jogos como o da Moma, etc.

10 – A escola precisa disponibilizar esse assunto para implementar no currículo escolar, com a finalidade de valorizar a vida, o respeito, a ética, a empatia. Precisamos de escola humanizadora, com uma proposta inclusiva, integrativa, acolhedora. 

Referência
RELVAS, M.P. Cérebro: contexto,nuances e possibilidades, Wak Editora, Rio de Janeiro, 2019.