Uma revisão realizada por um grupo de pesquisa da Universidade Federal do ABC (UFABC) mostra que a falta de vitamina B12causa prejuízos ao desenvolvimento do cérebro de recém-nascidos.
Isso acontece porque mulheres grávidas precisam de uma quantidade maior de vitamina B12 em comparação com a população em geral, pois é necessário suprir às necessidades nutricionais do feto por meio da absorção pela placenta. A ingestão insuficiente desse nutriente pela mãe durante a gravidez resulta em sua deficiência no leite materno e na corrente sanguínea do feto.
“É natural supormos que sua deficiência pode resultar em carência semelhante no feto. E é o que de fato acontece”, diz psicóloga Bruna Petrucelli Arruda, doutoranda em Neurociência e Cognição, na UFABC, uma das autoras da revisão.
Deficiência em veganos
A deficiência nutricional de B12 é comum em veganos, uma tendência de rápido crescimento em muitos países ocidentais. “Embora a maioria dos adultos possa suportar uma dieta com deficiência de vitamina B12, sem desenvolver sintomas clínicos, bebês possuem reservas hepáticas limitadas, e a deficiência dessa vitamina pode trazer sintomas clínicos precoces”, diz Arruda.
Boa parte dos estudos sobre o assunto foi realizada na Índia, onde o consumo de carne é escasso. Uma pesquisa com filhos de mães vegetarianas identificou atrofia cerebral na maioria das crianças que passaram por exame de neuroimagem. Além disso, a maioria dessas crianças apresentava hipotonia, que é a diminuição do tônus muscular, sendo considerado, na grande maioria dos casos, um sintoma de disfunção neurológica.
comprometimento vascular
As crianças ainda mostravam movimentos involuntários, que podem ser decorrentes de danos à mielina (estrutura ao redor dos nervos que permite a condução dos impulsos elétricos ao longo da fibra nervosa). “Todas essas alterações, resultantes da deficiência da vitamina B12, corroboram prejuízos no desenvolvimento cerebral, principalmente na mielinização, que deve acontecer ainda ‘in útero’”, diz Arruda.
Em estudos de laboratório, foram observados o comprometimento vascular, diminuição da formação de novos neurônios (neurogênese) na estrutura do cérebro chamada hipocampo, levando a prejuízos na memória e aprendizagem.
A deficiência de vitamina B12 está associada a deficiências no comportamento exploratório, funções de aprendizagem e memória. Os prejuízos cognitivos ainda podem ser causados pela rarefação da microvasculatura do hipocampo.
Alterações cerebrais
Uma pesquisa mostrou filhos de mães com deficiência em vitamina B12tiveram pior desempenho em testes de atenção sustentada e memória de curto prazo, demonstrando que as alterações cerebrais, principalmente no hipocampo, resultantes da deficiência dessa vitamina refletem num prejuízo cognitivo.
Pesquisadores projetaram um modelo de célula experimental deficiente em vitamina B12e seus resultados sugerem a deficiência da vitamina produz crescimento mais lento, com uma diferenciação mais rápida de células de um tipo de câncer infantil que cresce em partes do sistema nervoso.
Relação com o DNA
A vitamina é essencial para a síntese de DNA e sua divisão celular, portanto, a carência dessa substância pode ainda modificar a expressão da informação contida no DNA. Além disso,pode prejudicar a metilação necessária para a síntese de proteínas, lipídios e neurotransmissores.
O nutriente é importante na mielinização, o processo de desenvolvimento do cérebro que envolve a camada que protege a condução nervosa dos axônios, tornando-a mais rápida e eficiente. Além disso, a vitamina ajuda na fabricação da acetilcolina, um importante neurotransmissor do sistema nervoso.
Benefícios nutricionais e danos gerados pela deficiência de ingestão
A vitamina B12mantém a cognição, prevenindo a degeneração das células. Esse nutriente é encontrado em alimentos de origem animal, como carnes vermelhas, frutos do mar, peixes, ovos e leite.
Há ainda uma relação entre a ingestão inadequada ou baixa da vitamina B e o acúmulo da homocisteína, aminoácido presente no plasma do sangue que está relacionado com o surgimento de doenças cardiovasculares, podendo ocorrer o dano nos vasos sanguíneos, por irritação e risco aumentado de aterosclerose (que é a inflamação, com a formação de placas de gordura, cálcio e outros elementos na parede das artérias).
2 respostas
Olá!
pode compartilhar o acesso à fonte original do estudo da UFABC?
Olá, Laudiceia!
A matéria foi escrita com base no capítulo do livro “Vitamins D and B12, Altered Synaptic Plasticity and Extracellular Matriz”. O texto foi acessado no site intechopen.com/oline. Posso enviá-lo, caso necessário. Entre em contato com a redação.