A eco-ansiedade se constitui como uma síndrome atual, recente, à qual todo humano está vulnerável, geradora de sofrimento e desperdício energético seja com pensamentos, rituais ou hábitos ineficientes no que diz respeito tanto à solução do problema climático como do mal estar vivenciado seja pessoal ou coletivamente.

A Associação Americana de Psicologia (APA) define a eco-ansiedade como o medo crônico de sofrer um cataclismo ambiental ao observar o impacto das mudanças climáticas no planeta, causando assim uma real preocupação com relação ao futuro da humanidade. Em relatório “Saúde mental e nosso clima em mudança: impactos, implicações e direcionamento”, publicado em 2017, há uma profunda sensação, aparentemente irrevogável, de perda e frustração por percebermos que não podemos fazer o suficiente para barrar as mudanças climáticas. E essa impotência é sentida no âmbito individual e coletivo. Porém, um primeiro passo para lidar com a eco-ansiedade é dar voz ao que estamos sentindo. É por isso que fazer a pergunta “Como você se sente?” é tão importante quando se fala de mudanças climáticas.

Renovação comportamental

Essa discussão aberta pode ajudar a reduzir a ansiedade em torno da mudança climática e da degradação ambiental e nossa avaliação dessas ameaças[1]. Todos estes mecanismos são chamados de estratégias de enfrentamento centradas na emoção. Embora sejam essenciais para “iniciar o trabalho”, geralmente não levam às mudanças comportamentais necessárias e ao engajamento necessário para provocar a transformação.

Outra estratégia de enfrentamento é focada no problema: ao tentar resolver o problema, o que inclui se informar e compartilhar esta informação com outros, nos sentimos fortalecidos. E ainda assim, o que acontece se você não conseguir resolver o problema? E se a solução parecer fora de alcance? Neste caso, mesmo com um alto nível de comprometimento comportamental, sentimentos de desânimo, desilusão e ansiedade ainda podem estar presentes…

Uma terceira abordagem é o que Ojala[2] chamou de “abordagem centrada no significado”: neste caso, as pessoas colocam o problema ambiental em perspectiva e confiam nos cientistas para encontrar soluções. Elas desenvolvem esperança e sentimentos positivos que ajudam a amortecer as emoções negativas, e sentem-se fortalecidas e experimentam uma maior satisfação na vida.

Conexão do Eu com a natureza

Outra técnica para lidar com a eco-ansiedade é fortalecer nossa conexão com a natureza e o ar livre, o que pode ter um efeito terapêutico em nossa ansiedade e pode melhorar nosso bem-estar.

O engajamento no ativismo social também pode desenvolver nosso senso de confiança como agentes de mudança social e ambiental… Também é importante ter em mente que para as pessoas que tendem a ficar ansiosas e que se preocupam excessivamente, o ativismo pode não ser a melhor solução. Ao invés disso, elas devem considerar dar um passo atrás em relação às fontes de ansiedade potencial, como a mídia, como ponto de partida.

Destas técnicas apontadas, podemos depreender que sim, as mudanças climáticas demandam por nossa atenção e ação, qualquer desespero difuso é compreensível da perspectiva humana, mas inútil do ponto de vista prático. Não sabendo o que fazer, o melhor é se mexer, procurar por outros, criar links e compartilhar as próprias vivências em relação ao tema, se afastando de motivações paralisantes e sugadoras de potência. Não há outro caminho fora da concertação em todos os níveis humanos para que nossa existência nesse planeta não seja tão breve como se enuncia e que daí emerjam novas soluções, estas também ainda fora de nosso real e mesmo imaginário, mas apontando para um futuro positivo e de esperança.

E MAIS…

Reflexão motriz: é preferível a ação que o conformismo

Como desdobramento da eco-ansiedade, podemos assumir nossa impotência e diminuir nossa própria atividade, como um organismo que se recolhe para economizar suas parcas energias. Este recolhimento limita ou impede agenciamentos com outras pessoas ou grupos, única forma de atualizar nossa potência de agir, ou, como diria Espinosa, filósofo do século XVI, nossa capacidade de afetar e ser afetado.

Dentro da ética espinosana, que rege tudo o que existe, a tristeza como paixão passiva não promove ampliação nem contato. A alegria, expansão de minha capacidade de agir, decorre dos bons encontros e acoplamentos, com outras pessoas, outros grupos, outras línguas, outros saberes. Então a ação, mesmo que desnorteada de propósito, é preferível à paralisia emocional frente aos desafios.

Referências:

[1] Carpenter, J. K., Andrews, L. A., Witcraft, S. M., Powers, M. B., Smits, J. A., & Hofmann, S. G. (2018). Cognitive behavioral therapy for anxiety and related disorders: A meta‐ analysis of randomized placebo‐controlled trials. Depression and Anxiety, 35(6), 502–514.
[2]  Ojala, M. (2012). How do children cope with global climate change? Coping strategies, engagement, and well-being. Journal of Environmental Psychology, 32(3), 225–233.