Para a psicóloga Maria Tereza Maldonado, felicidade é aproveitar o presente de cada dia da melhor forma possível e cultivar a serenidade interior para enfrentar as turbulências da vida sem desmoronar. “É possível construir a felicidade desenvolvendo o olhar para captar a beleza dos pequenos momentos do cotidiano, na ternura do olhar, no gesto de gentileza, no sentimento de gratidão”, afirma. Nesta entrevista, ela aprofunda o assunto.
Graduada em psicologia e mestre em psicologia clínica pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC Rio), onde lecionou no Departamento de Psicologia, Maria Tereza trabalha como palestrante, presencial e on-line, em todo Brasil. Membro da Associação Brasileira de Terapia Familiar (Abratef) desde 1996, também é diretora da MTM Consultoria Psicológica.
Possui mais de 40 livros publicados sobre relações familiares, desenvolvimento pessoal e construção da felicidade e do bem-estar, com mais de dois milhões de exemplares vendidos. Entre suas obras, está ‘Construindo a felicidade: a ciência de ser feliz aplicada no dia a dia’ (Editora Ideias & Letras), para a qual entrevistou 190 pessoas de 12 a 96 anos por todo Brasil para saber como definem felicidade.
Como definir a verdadeira felicidade?
Há diversas definições. Para mim, felicidade é aproveitar o presente de cada dia da melhor forma possível e cultivar a serenidade interior para enfrentar as turbulências da vida sem desmoronar. É possível construir a felicidade desenvolvendo o olhar para captar a beleza dos pequenos momentos do cotidiano, na ternura do olhar, no gesto de gentileza, no sentimento de gratidão.
Para escrever meu livro ‘Construindo a felicidade: a ciência de ser feliz no dia a dia’, no decorrer de dois anos, em dezenas de cidades de todas as regiões do Brasil, entrevistei 190 pessoas entre 12 e 96 anos para saber como definem felicidade. As respostas frequentes foram:
– Proporcionar boas experiências para si e para outros;
– Tirar da vida o melhor possível;
– Relacionar-se bem com a realidade, uma vez que a dor e o sofrimento fazem parte da vida;
– Sonhar, o que nos motiva para agir, fazer metas e cumprir as etapas até chegar onde queremos;
– Buscar harmonia interior, com o próprio corpo, consigo mesmo;
– Fazer tempo para estar com quem gostamos;
– Cultivar otimismo;
– Ter a capacidade de, nos relacionamentos, valorizar o que é semelhante e respeitar as discordâncias.
O ‘Estudo sobre o desenvolvimento adulto’, a pesquisa mais extensa e longa sobre o desenvolvimento humano, teve início em 1938, na Universidade de Harvard. O atual diretor dessa pesquisa é o psiquiatra norte-americano Robert Waldinger. O que nos mantém felizes e saudáveis no decorrer da vida? Com essa pergunta básica, ano após ano, a vida de 724 homens foi acompanhada a partir do final da adolescência em várias áreas (estudo, trabalho, saúde, vida familiar e social). O que mais se destacou nesse estudo tão longo e minucioso? Bons relacionamentos nos tornam mais felizes e mais saudáveis. Simples assim. A conclusão geral desse estudo é que podemos construir uma vida boa investindo na manutenção de bons relacionamentos. Isso é mais importante do que ter sucesso profissional, fama, dinheiro e poder. Felicidade é ser capaz de amar.
E como definir a paz interior?
Para mim, é uma jornada de autoconhecimento, desenvolver a capacidade de cuidar bem de si e dos outros no decorrer de toda a vida. Acreditar que podemos descobrir recursos para enfrentar as inevitáveis adversidades que a vida nos apresenta. Buscar a conexão com nossa verdadeira essência, valorizando quem verdadeiramente somos, fora da prisão das expectativas dos outros sobre nós e dos padrões impostos pela sociedade. Nutrir relacionamentos significativos que nos propiciam apoio recíproco com amor e dedicação.
De que forma a paz interior contribui para a verdadeira felicidade?
Para mim, estão indissociavelmente ligadas. É uma construção de vida inteira, descobrir essa fonte de paz dentro de nós, mesmo em meio às turbulências do mundo e às dificuldades que enfrentamos.
Quais as principais características das pessoas que conseguem alcançar a paz interior?
Mais resiliência para enfrentar as adversidades, mantendo fé e otimismo para encontrar saídas para os problemas. Valorização da vida, de nós mesmos e dos outros, com amor e respeito. Capacidade de saborear os bons momentos, cultivando alegria e gratidão. Ter um propósito que dá sentido à vida. Acreditar que podemos trabalhar nossa mente para cuidar bem de nossos pensamentos e ações. Valorizar o que está ao nosso alcance, sem lamentar eternamente o que falta ou o que perdemos. Fluir pela vida, mergulhando no momento presente, sem se agarrar ao passado e sem criar imagens de um futuro que não sabemos se vai acontecer. Viver com a alegria de amar e de cuidar. E saber que a construção da felicidade, do bem-estar e da paz interior é um processo dinâmico. Nunca “alcançamos” para sempre, podemos evoluir ao caminhar pelas trilhas da vida.