Durante muito tempo a felicidade foi interpretada como um objetivo a se alcançar, um ponto determinado em que as pessoas chegavam depois de uma árdua e longa trajetória. Mas, cada dia mais a ciência vem mostrando que buscar a felicidade tem muito mais a ver com o como se vive a jornada da vida que com encontrar o “pote dourado ao final do arco-iris”.

Por que é tão difícil viver e entender que a felicidade está em como fazemos e vivemos cada dia?

Bem, estas não são questões simples de se considerar, e nem cabe nenhum tipo de resposta genaralista para a situação. Porém, podemos afirmar que a vida feliz exige um fazer, exige a saída de uma zona de acomodação. Para que possamos “alcançar” a felicidade e viver uma vida considerada feliz, precisamos ter hábitos e comportamentos que sejam saudáveis e principalmente o equilibrio emocional.

Ser alguém desacomodado

Ser feliz, portanto, está diretamente relacionado a ser alguém desacomodado. É isso mesmo! Para ser feliz, não se pode ficar esperando que a felicidade bata à porta. É preciso trazer a felicidade para morar conosco.

E como isso é possível? Bem, o primeiro passo é viver uma vida mais reflexiva. Quem não pensa sobre a vida e o viver, certamente viverá alienado a ideia falaciosa da felicidade por se alcançar. Afinal, como saber o que pode trazer felicidade para a vida, quando nem mesmo se reflete no valor desta e da existência?  Ser reflexivo, e não aceitar quaisquer respostas é o primeiro passo para a tal desacomodação que estamos falando.

Viver no automático

Em segundo lugar, precisamos parar de viver no automático. O ser humano tem uma tendência natural a se repetir. E isso tem até explicação. Nosso cérebro, diante das tantas demandas que possui, busca economizar energia. Desse modo, quando nos repetimos, deixamos de “gastar” energia. Isso parece bom por um lado, já que podemos usar a tal energia economizada de outra maneira. Porém, o lado ruim é que nessa acomodação vamos nos tornando “preguiçosos” existenciais.

Imagine você a vida de uma pessoa muito atarefada e que para poder tomar seu café da manhã, engole todos os dias uma bela porção de granola e iogurte. Jogo rápido. Coloca a granola numa tigela, põe o iogurte e voilá! Manda ver na refeição. O que tem demais nisso? Qual o problema? Não teria problema algum, caso isso fosse um elemento de um rico cardápio seminal. Se um dia como a granola com iogurte, que alias é uma delícia, mas no outro dia há espaço para um bom sanduiche de queijo ou para uma salada de frutas. Imagine o quão tedioso e sem sabor seria comer todos os dias a mesmíssima coisa. Este pode parecer um exemplo muito bobo. Mas, nao é. Ele fala da disposição de sair da zona de conforto do preparo de algo instantaneo, para o preparo de algo mais elaborado (e com mais sabor ou pelo menos com sabor diferenciado) e que trará uma porção de felicidade ao café da manhã. Ah, então chegamos no ponto!!

A felicidade pode estar naquela refeição especial, em uns minutos de sossego e descanso, na leitura de um livro, no admirar de uma paisagens, na risada de um amigo e no beijo de um enamorado. Mas, para isso, precisamos ir atrás de cada um desses momentos. Não adianta querer começar o dia feliz, se nem mesmo se é capaz de priorizar o café da manhã dos seus sonhos e não o mais rápido e fácil.

Autoconhecimento

Em terceiro lugar, é preciso se conhecer! O que? Será que você leu direito? Sim! Você leu! É impossivel se sentir feliz se você não se conhece. Certa vez, tive a oportunidade de conversar com uma pessoa que me disse o quão difícil era para ela fazer escolhas em um restaurante. Ela se sentia insegura, pressionada e muito tensa sempre que saia com amigos para locais em que tinha que escolher entre as opções do cardápio.

Ao imaginar a cena que aquela pessoa me narrou fiquei pensando, qual era a dificuldade entre escolher entre filé, salmão ou pato. Ou entre um hamburguer gourmet e um porção de petiscos. Para mim, fazer uma escolha assim é muito facil, porque eu sei do que eu gusto e do que não gusto. Mas, parece que para a minha interlocutora não era bem assim.

Se você não se conhece, não sabe bem aquilo que gosta e o que não gosta, dificilmente poderá trazer para sua vida momentos felizes. Como afinal é possível ver um filme que vai ter agradar, conhecer um lugar dos seus sonhos (aliás, sonhar é outro ponto importante para se viver a felicidade), como experimentar a boa sensação de andar no carro favorito ou juntar o dinheiro para comprá-lo e se alegrar com a Conquista, quando não se sabe o que se quer? É impossível. Muitas pessoas preferem viver a ilusão de que um dia a felicidade chegará, que se conhecer para entender o que precisa fazer por si mesmo e então ser feliz.

E MAIS…

Discursos de tragédia

E por fim, mais não menos importante, para se viver a felicidade, precisamos viver com esperança. Pensamentos autoderrotistas, desilusão, magoa, rancor, são aceleradores da infelicidade e também são sabotadores muito usados para manter o ciclo desta. Lembram que falamos sobre viver no automático? Pois bem, tem pessoas cujo “automático” é o trágico, o ruim, o desesperançoso. São pessoas com discursos de tragédia, de derrota. São aqueles que para cada solução que apresentamos, eles mostram um novo problema. Sem esperança é muito difícil viver feliz. E sem felicidade, a reprodução da desesperança se repete. É um ciclo vicioso.

Para que haja uma mudança real, para que se viva o ciclo virtuoso da felicidade, precisamos entender que ela é algo que se construe. Ela não vai acontecer por milagre. Existe um fazer que é pessoal e particular. Todos temos o mesmo desafio de fazer nossos dias felizes. Se proponha uma pequena reflexão diária e veja como você será mais feliz.

Referências
BEN-SHARAR,Tal. Seja mais feliz. São Paulo: Academia/Planeta, 2018.
ROGERS, Carl. Tornar-se pessoa. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
YOUNG, Jeffrey; KLOSKO, Janet S.; WEISHAAR, Marjorie E. Terapia do Esquema: Guia de técnicas cognitivo-comportamentais inovadoras. Porto Alegre : Artmed, 2008.