A ciência tenta investigar a predisposição neurobiológica para a criminalidade. Em alguns casos, o comportamento criminoso estaria associado ao que os especialistas chamam de psicopatia (sociopatia ou transtorno de personalidade antissocial). Manipuladoras, essas pessoas são incapazes de manter uma relação e de amar. Elas têm dificuldade de sentir afeto e compaixão, pensam que o outro não passa de um obstáculo a ser removido: mentem, roubam, abusam, trapaceiam, negligenciam suas famílias e parentes.

Em geral, o perfil de um psicopata é uma pessoa que sai à caça de novidades e que tem gosto pelo perigo. Ele não sente necessidade de fugir de situações de ameaça e tem pouca dependência da aprovação dos outros em relação à sua conduta. Ou seja, sua vontade é sua lei.

Imagens emocionais

Vários estudiosos já observaram a incapacidade dos psicopatas em responderem a imagens com expressões emocionais. Daí conclui-se que não é possível recuperar esses sujeitos a partir da psicoterapia, pois de nada adianta dizer ao psicopata que ele deve ter compaixão pelas pessoas.

Pioneiro no uso da neuroimagem para investigar o cérebro de assassinos, o psicólogo britânico Adrian Raine, da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, passou quatro anos em duas prisões de alta segurança na Inglaterra, trabalhando como psicólogo penitenciário. Ele ficou conhecido por sua premiada obra “Anatomia da Violência”. Em seus estudos, ele analisa desde crianças até presos em cadeias para investigar a psicopatia.

As pesquisas de Raine apontam que pessoas com psicopatia têm alterações no volume do lobo frontal e uma redução do volume da matéria cinzenta pré-frontal, que estava associada a uma diminuição da resposta a um evento estressor provocado experimentalmente, no caso, a realização de um discurso.

Corpo caloso

O psicólogo ainda verificou-se que pacientes antissociais apresentavam várias anormalidades no corpo caloso, estrutura do cérebro que é responsável pela comunicação entre os dois hemisférios. Esse dado sugere que essas pessoas têm alterações no neurodesenvolvimento.

Outros estudos demonstram reduções bilaterais do volume de hipocampo posterior. Essa região do cérebro é uma parte integrante do sistema límbico e tem papel essencial na aprendizagem, na codificação e na consolidação da memória.

Um achado importante que está relacionado ao comportamento de criminosos violentos é o volume da amígdala, área responsável por respostas emocionais relativas ao comportamento social de humanos e outros mamíferos. Ela é também umas das principais áreas do controle da agressividade.

Jovens infratores

Outro pesquisador que se investigou as raízes neurobiológicas da psicopatia foi o psiquiatra Lindley Bassarath, da Universidade de Toronto, no Canadá. Bassarath era considerado especialista em questões forenses envolvendo jovens infratores. Era frequentemente procurado por juízes e advogados para orientação em casos complexos.

Ele destacou o que o comportamento antissocial está envolvido com alterações no córtex pré-frontal, especialmente regiões mediais e laterais. Esse comportamento ainda é associado a reduções do metabolismo em estruturas subcorticais do sistema límbico, hipocampo e núcleo caudado.

Contexto histórico

O psiquiatra francês Philippe Pinel observou que havia indivíduos que se comportavam de maneira socialmente inaceitável, embora tivessem plena consciência dos resultados nefastos causados pelos seus atos. Esse comportamento era marcado por conduta cruel, sem prejuízo da cognição.

 Pinel escreveu sobre os indivíduos que possuíam todas as características da “mania”, mas que careciam do delírio. Esse conceito de “mania”, para ele, consistia no ímpeto do comportamento do sujeito, isto é, a sua personalidade. A alteração na personalidade seria a causa de comportamentos desumanos.

Em 1812, uma condição conhecida como “desarranjo moral” foi descrita pelo médico americano Benjamin Rush. Em sua obra “Investigações Médicas e Doenças da Mente”, Rush relatou casos de sujeitos que mostraram comportamentos desviantes sem nenhum sentimento de arrependimento e culpa.

Determinação genética

Posteriormente, o estudo do psiquiatra inglês Henry Maudsley, em 1874, conduziu à noção de “determinação genética” do comportamento desses infratores. Ele levantou a hipótese da existência de um centro cerebral específico para sentimentos morais. Portanto, haveria pessoas que, desde o nascimento, não apresentavam sensibilidade moral.

Em “O Homem Delinquente”, publicado em 1876, o médico italiano Cesare Lombroso desenvolveu sua teoria sobre a delinquência. A obra de Lombroso teve influência da frenologia, estudo que pretendia determinar a personalidade das pessoas a partir da análise craniana. Apesar da falta de credibilidade dada a essa teoria, o psiquiatra a explorou no desenvolvimento de sua obra. Lombroso mediu a forma e o tamanho da cabeça de vários criminosos e concluiu que os traços desses indivíduos eram semelhantes aos dos homens primitivos e que suas tendências antissociais estavam presentes desde o nascimento. 

Até o início do século 20, o psiquiatra alemão Emil Kraepelin examinou a chamada “síndrome psicopática”. Kraepelin era defensor da ideia de que as desordens mentais tinham bases genéticas e biológicas. Ele destacou como certos indivíduos podem ser afetados, predispondo-os ao desenvolvimento de desarranjos de personalidade durante toda a vida. 

E MAIS…

Fatores ambientais e psicológicos determinam psicopatia

Crescer em um ambiente hostil, pura e simplesmente, não torna uma pessoa criminosa. O risco estaria na soma dos fatores ambiental (experiência de vida) e a predisposição genética. O comportamento transgressor não é observado quando somente um deles aparece.