Disse certa vez o prof. Henrique José de Souza (1883-1963): “A crítica, quando despojada dos seus elementos negativos, se torna a mais alta tribuna do aperfeiçoamento”. É essa crítica que devemos nos ocupar, porque ela nos leva a outra, a tríade a que se refere o prof. Henrique, que é aquela do Pensar, Sentir e depois Agir, e isso significa ainda colocar a mente ao lado do coração. Não devemos criticar somente os jovens e crianças pelo que está acontecendo porque entram nesta questão 3 instâncias fundamentais neste processo, que é a Escola, a Família e a Sociedade. Somos todos corresponsáveis.

Desafios nos alicerces educacionais

Vamos começar exemplificando o que é bullying de forma bem objetiva: ele é a formiga que deixa visível o estrago por onde passa, mas o assédio moral pouco falado é o cupim: você não o vê, mas em surdina, às escondidas, ele está corroendo os alicerces da dignidade humana, na sua escola/empresa e, principalmente neste momento de pandemia, pode estar ocorrendo dentro dos lares de forma velada, bem como o ciberbullying. Tanto um quanto o outro se apresentam 6 tipos de personagem neste jogo: o bulinado (a vítima), o bulinador (termo do verbo “bulinar” que descreve o agressor, ou seja, aquele que coloca fogo no circo), os que assistem o circo pegar fogo e aqueles que não estão nem aí para o que vai acontecer. O sexto tipo é você que vai a busca de uma solução.

Fiquem atentos a todos eles, porque estes são sem dúvida alguns dos maiores desafios de professores e gestores da educação. Eu já ouvi muitos dizerem: esse assunto já cansou? Mas, em realidade, ele continua a ocupar o dia a dia de nossas crianças e jovens nas escolas e fora dela, e muito pior ainda nas redes sociais.

Estragos emocionais do bullying

É um termo inglês utilizado para descrever atos de violência física ou psicológica intencionais e repetidos, praticados por um indivíduo (bully ou “valentão”) ou grupo de indivíduos com o objetivo de intimidar ou agredir outro indivíduo (ou grupo de indivíduos) incapazes de se defender. O cyberbullyng também é muito comum, pois, os covardes se escondem por traz da máscara das mídias e provoca mais estragos e ainda mais devastador, deixando cicatrizes na alma. É muito importante ter cuidado com vídeos que pais e responsáveis costumam publicar de seus filhos, que pode ser muito engraçadinho agora, mas não quando ele for um adolescente.

Tive um caso de um cliente em que o adolescente sofria bullying na escola por causa de um destes videos, pois, a fase da adolescência é uma fase de muito autocritica. Por isso, é fundamental estar alerta, sempre de olho no comportamento e atitudes dos jovens. É preciso dedicar-se aos filhos com qualidade, dando a eles amor, carinho, limites, ensinando sobre valores, através do diálogo e dos exemplos para que fortaleçam sua autoestima, preparando-os a fim de enfrentar as adversidades.

Onde o bullying é mais comum?

O bullying é, hoje, indiscriminadamente um risco em qualquer lugar, e pode começar em casa, porque é ali onde se ensina os valores, a ética, a disciplina e os limites, e depois vai à escola e se espalha pela sociedade. O cyberbullying nas redes sociais tem um peso maior, podendo sair dali e se espalhar pelos pátios das escolas.

As causas mais comuns do bullying, ao contrário do que muitos pensam, não é perda de valores e, sim, a inversão deles e quando isso acontece, como mostra a narrativa da deterioração de uma sociedade.

Como identificar caso de bullying?

Tanto em casa, quanto na escola os pais e professores podem identificar o que está acontecendo, observando crianças e jovens através de mudanças de comportamentos.  Alguns sinais mais comuns: atrasos e faltas na escola, andar cabisbaixo, negligências nas tarefas, baixo rendimento, tristeza, sensível às brincadeiras, se tornar irritável, mau humor, comportamento antissocial, isolamento, desculpas, mentiras, falar mal da escola ou dos colegas, algum sinal visível da agressão física.

Como os pais devem lidar com a criança que sofre ou cometem este tipo de abuso?

Acolher ao invés de criticar e, antes de procurar culpados, buscar saber junto à escola o que realmente está acontecendo. O bulinado normalmente tem vergonha de contar aos pais com o medo de serem repreendidos, principalmente se estes pais são muito críticos.

E o sujeito bulinador, ao contrário do que muita gente pensa sobre esse valentão, também sofre com o medo. Conheço casos não apenas no consultório, mas também do relato de pais em que seu filho (bulinador) depois de algum tempo passa a sofrer discriminação.

Conte com o apoio da escola e de ajuda terapêutica a fim de que a criança ou o jovem possa superar o conflito, impedindo que isto se transforme num trauma. Quanto antes os pais identificarem os sintomas, mas fácil será a resolução do conflito.

E MAIS…

A diferença entre bullying e brincadeira

É possível definir o que é bullying ou cyberbullying de uma simples brincadeira entre crianças. E essa identificação é de extrema importância para proteger e direcionar crianças e jovens.

O bullying é literalmente agressivo nas palavras e nas ações, ele machuca a alma e fere o corpo e vice-versa. A brincadeira saudável é aquela em que crianças, jovens e adultos se permitem, porém, a maneira mais adequada de identificar, se é uma brincadeira ou bullying, não está no que fazemos, mas COMO fazemos. Até mesmo uma brincadeira de roda pode machucar. Procure identificar se a pessoa gosta de ser chamado de apelido, afinal muitos não ligam e realmente se divertem com a brincadeira dos amigos. Mas a partir do momento que o outro se incomoda, aí sim, é preciso saber o limite. O seu limite e o limite do outro para que a brincadeira não se torne bullying e machuque o emocional do outro.