Para não entrar em contato com uma realidade dolorosa, algumas pessoas usam a negação da doença, que é uma das maneiras de não ter que elaborar e lidar com o processo do adoecer. Neste tipo de comportamento, muitos sintomas são negligenciados em nome do “bem-estar” geral da família, dos entes queridos e, ilusoriamente, do próprio doente. O maior problema surge quando a doença já está em estado avançado, não sendo possível nem sua negação tampouco a cura.

Acolher as sombras

Como disse Jung, “a função inferior é a porta pela qual todas as figuras do inconsciente chegam à consciência”. A negação é uma atitude de revolta do ego contra as impossibilidades impostas pela doença. A aceitação seria uma atitude nobre da consciência, visto que poderia, dessa forma, acolher o “outro” inferior em nós, que vem por meio do estado de adoecer, embora a dificuldade em praticar esse acolhimento é autoexplicativa, uma vez que, se conseguíssemos acolher as sombras, provavelmente não precisaríamos passar por essa experiência de desconstrução e desmoronamento (a vivência da doença).

Em determinados casos, o desmoronamento é tão acentuado que a entrega a um estado de desmotivação é progressivo, podendo levar à morte. A reconstituição de uma nova estrutura sempre se faz necessária quando a experiência e a vivência da doença for significativa e se houver perdas conscientes (atividades, autonomia, lazer), e também se o sofrimento for suficiente para abalar e alternar a visão de mundo.

Tipos de personalidades

Nesse processo, há algumas reações de comportamento que estão inseridas no mecanismo de negação relacionadas ao tipo de personalidade de cada pessoa que demonstram modos diferentes de lidar com a doença. Para um tipo mais extrovertido, a reclusão e o isolamento de uma cama podem resultar em um estado depressivo e negativo, pois significa ter de introverter-se compulsoriamente e entrar em contato com aspectos sombrios. Em geral, fogem da reclusão, do isolamento, da solidão e precisam sempre do objeto exterior estimulador.

Tem uma adaptação rápida ao meio ambiente, se bem que, no início, é mais propenso à depressão e à negação diante da doença, visto que sua tendência é descuidar-se do próprio corpo em detrimento às exigências externas. Quando uma doença força a pessoa a se isolar e se introverter, pode gerar aspectos positivos, se bem trabalhados, pois dessa experiência, que geralmente não é aceita no início, pode aflorar uma maior plenitude de sua personalidade, integrando os aspectos valorizados e aceitos com os desvalorizados e ocultos.

Para o tipo mais introvertido, o desagradável e penoso é ser hospitalizado, depender e se submeter aos outros, tendo sua privacidade invadida e ter de extroverter-se, também compulsoriamente. Entrar em contato com seu lado sombrio extrovertido, geralmente, nesta situação, seu humor se altera e, reativamente, pode agir de forma agressiva, tentando delimitar seu campo territorial perdido involuntariamente.

Os tipos introvertidos, em geral, se isolam e delimitam seu campo e espaço territorial a fim de se proteger de experiências externas. Quando adoecem e precisam buscar ajuda externa, são forçados a entrar em contato com o mundo exterior, a doença a força a se extroverter e sair de sua redoma da proteção. A adaptação a essa condição é mais lenta, porém reagem primeiramente de forma mais positiva, pois sua tendência é estar demasiadamente voltada a si e ao próprio corpo.

Ocorre também o tipo misto, onde a pessoa apresenta uma ciclotimia dos tipos descritos anteriormente. Apresenta os dois e alterna de acordo com algum fator externo que a aborrece, alguma ansiedade, algum medo ou mesmo uma notícia de um resultado de exame. Fica muito sensível e suscetível a mudanças de humor e de postura por estar na situação de convalescência em que se encontra.

Outras variações

E ainda encontramos no tipo misto as seguintes variações: Misto Geral, presenta a oscilação com todas as pessoas, sendo elas próximas ou distantes. A oscilação de postura e humor é geral, com familiares, amigos e mesmo com o corpo clínico que o assiste. Está em uma gangorra emocional entre introversão e extroversão. Demonstra um conflito intenso entre polos distintos e a tentativa, não muito bem-sucedida, de lidar com essa angústia de estar dependente e com a sua rotina de vida suspensa temporariamente.

Misto Especifico, apresenta postura fixa com cada um dos núcleos, não há oscilações dentro do núcleo, porém, com o outro, age fixo também, só que com uma postura oposta. Exemplificando: com a família, será sempre introvertido, já com a equipe que o cuida, será sempre extrovertido. Essa mudança bastante visível se dá pelo fato de que, ao se manter extrovertido, retira muito da sua energia, e não consegue a constância nesta fase. Então, com os mais próximos, não se importa em ser o mal-humorado.

Sinais e sintomas

O conceito de doença é um conjunto de sinais esintomas específicos que afetam um ser vivo, alterando o seu estado normal de saúde. É caracterizada como ausência de saúde, um estado que ao atingir um indivíduo provoca distúrbios das funções físicas e/ou mentais, que pode ser causada por fatores exógenos (externos, do ambiente) ou endógenos (internos, do próprio organismo). Portanto, seja ela qual for, pode ser entendida como uma perturbação, não resolvida, no equilíbrio interior do ser e em sua interação com o ambiente que o cerca. 

Podemos supor que o indivíduo vive uma eterna luta entre a não doença/ doença/ não doença, e são muito tênues esses limites, já que o equilíbrio contínuo em todas as instâncias necessárias é muito difícil ou praticamente utópico. Mas, como consequência a primeira reação do organismo é tentar restabelecer o equilíbrio, seja eliminando o que perturba, seja se adaptando à nova situação. De uma certa forma, a negação pode ser vista até como um processo “natural” pós diagnóstico.

E MAIS…

O conceito de saúde transcende à ausência de doenças

A “Organização Mundial de Saúde” (OMS) define a saúde como “um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não somente ausência de afeções e enfermidades” Ou seja, o conceito de saúde transcende à ausência de doenças. Em outras palavras, a saúde pode ser definida como o nível de eficácia funcional e metabólica de um organismo a nível micro (celular) e macro (social). É interessante perceber que hoje o termo ultrapassa só o orgânico, mas insere esse orgânico no meio social em que habita. É uma grande evolução e avanço no conceito de saúde, pois amplia a referência de equilíbrio e do que pode trazer o desequilíbrio, isto é, a doença.