Domingo é dia das mães. A mãe que representa a figura da garra e da força da mulher. A mulher que em geral acumula tantos papéis em uma rotina cheia de angústias e que nos impõe experiências de autosacrifício e desrespeito conosco mesmas. Muitas vezes falta até autocompaixão. Afinal de contas, por que nos preocupamos em não deixar a peteca cair? Qual o balanço das nossas emoções no fim do dia? Frustração, medo, euforia, solidão, exaustão, alegria, desespero?
Muitos papéis e um
A pergunta de Freud “afinal, o que querem as mulheres”? nunca esteve tão presente no universo feminino. “No início da pandemia, tudo parecia escuro, muitas angústias surgiram e ainda surgem, uma sensação de que não daremos conta de tudo, mas foi preciso ressignificar todas as coisas, para que pudéssemos atuar em nossos diferentes papéis com a nossa melhor versão”, comenta a psicóloga e pedagoga, Renata Ribeiro, mãe do Breno de 4 anos.
Ela explica como as mulheres que acumulam o trabalho, família e as atividades domésticas tiveram – e ainda tem – que aprender a reaprender todos os dias. “Reaprender não somente a tocar a rotina e o dia a dia que o novo normal nos imprimiu, mas a valorizar o que realmente importa em nossas vidas. Reaprender a amar, reaprender a respeitar, reaprender a dizer não, reaprender a equilibrar os diferentes pratinhos que passaram a rodar de uma só vez, no mesmo lugar”, destaca.
A busca pela perfeição
Investigar o que está por trás desse desejo de dar conta de tudo, é verificar o que dizem as teorias de acumulações de papéis. Penso que o bem-estar psicológico ocorre quando sentimos que existem mais recompensas do que preocupações. Se conseguimos desempenhar vários papéis e o resultado é positivo, estamos felizes, mantemos o comportamento quase que obsessivo de buscar a perfeição.
O problema é que o valor social dessa equação é diferente para cada um. Algumas se sentem extremamente realizados dedicando-se 100% integralmente à carreira e elegem o trabalho como prioridade. Outras mulheres sentem-se culpadas por não conseguir se dedicar na mesma proporção para todas as funções. Percebemos que a Psicoterapia tem ajudado muitas mulheres a compreenderem como podem fazer escolhas sem medo.
“Você aprende que não deve se cobrar para ser o melhor, mas sim buscar ser o melhor que você pode ser naquele momento. Você aprende que não tem que ser essa mulher perfeita, que a mulher maravilha só existe nos quadrinhos, e que tudo bem se você falhar. O importante é saber como lidar com esse erro, como posso fazer diferente de uma próxima vez? Hoje, me considero a melhor mãe, melhor esposa, melhor dona de casa e melhor profissional que eu posso ser nesse momento. É preciso reconhecer nossas fortalezas e reforçá-las dia após dia.”, comenta Renata.
Autocobranças e expectativas
Por que é difícil perceber todo esse processo? A psicóloga e professora de pós-graduação da PUC Rio, Kátia Teles, explica que o maior problema está na forma como as pessoas se posicionam a respeito do que significa o verdadeiro sentido da vida para elas. “Nessa trajetória, conciliar todas essas demandas pode ser mais leve ou árdua. Admitir que, às vezes, somos impotentes em relação a uma determinada resposta pode ser libertador e “o bom” já é o suficiente dentro do que humanamente podemos fazer”, ensina.
Ao ouvir os especialistas, percebo que não é impossível “domar” essa voz crítica que temos dentro de nós. Quantas vezes caímos na armadilha de uma autocobrança pela perfeição e por atender expectativas de tantas pessoas: filhos, cônjuges, amigos, etc. Trago a reflexão de Kátia: “Como você assina a sua própria história e identidade? Que perfeição é essa que deseja alcançar? Uma “perfeição” que te leva ao autorrespeito ou aquela que te aprisiona em dar respostas ao outro?”, questiona.
Para Kátia, a experiência clínica mostra que a principal angústia se dá quando a paciente não se percebe num alto grau de cobrança com relação às expectativas, tanto dela como a do outro. “Aceitar o nosso limite em determinadas situações é o caminho para a saúde física, mental e social”, enfatiza.
Efeitos para o bem-estar psicológico
Uma pesquisa apresentada no artigo “Multiplicidade de Papéis da Mulher e seus Efeitos para o Bem-Estar Psicológico” * mostrou que o fator que mais contribuiu para explicar o índice de bem-estar psicológico foi o poder de decisão, ou seja, um fator que propicia o que muitos autores denominam de controle percebido (Amatea & Fong, 1991; Barnett & Marshall, 1992; Barnett & cols., 1992; Bullers, 1994; Mirowsky & Ross, 1989; Pearlin & cols., 1981).
Segundo estes autores, “é o controle percebido que serve de mediador entre os papéis e o efeito para a saúde; é o trabalho pago que propicia o tipo de recompensas e é capaz de proporcionar o aumento do controle percebido, já que desenvolve uma maior capacidade de lidar com situações novas e complexas, além de aumentar o seu acesso para fontes financeiras e sociais”*. Diante dos estressores diários impostos com tantas tarefas, vale utilizar as técnicas de enfrentamento da Terapia Cognitiva Comportamental (TCC) e buscar a ajuda de especialistas em terapia de família.