Estudo afirma que a prática de exercícios físicos é uma ferramenta muito importante nesse processo. Isso é o que reforça o artigo “A contribuição do exercício físico para a resiliência cerebral”, publicado pela revista Frontiers in Behavioral Neuroscience.
De acordo com a revisão literária realizada no estudo, o exercício físico possui fortes relações com o desenvolvimento da resiliência, atuando na redução do estresse físico e psicológico, melhorando a cognição e aumentando a saúde cerebral como um todo.
História de vida
Dito isso, é possível ver a materialização das comprovações em um triatleta brasileiro: Samuel Bortolin, portador de paralisia cerebral de grau severo e que viu no esporte a oportunidade de se desenvolver ainda mais do que os diagnósticos dados ao decorrer da vida apontavam ser possível. Samuel carrega o título de primeiro brasileiro com esse grau de paralisia a completar um triathlon.
Devido ao diagnóstico, ele só deu seus primeiros passos aos sete anos de idade, após uma cirurgia. Aos 34 anos, em 2022, o atleta precisou passar por uma nova cirurgia ortopédica complexa. Segundo ele, esse segundo procedimento já era previsto desde a realização do primeiro.
O motivo é que pelo estirão na adolescência, crescimento ósseo e articular, o padrão com as pernas dobradas e viradas para dentro acabou retornando e trouxe também deformidades ósseas e dores. Samuel contou que ficou 68 dias internado em um hospital. Outro ponto difícil relatado por ele foi o fato de ter ficado tanto tempo longe da família.
“Fiquei também 90 dias sem colocar o pé no chão. Meu corpo e enfraqueceu, fiquei muito debilitado fisicamente. Não podia permitir que a mesma coisa acontecesse com a parte mental. Não é um processo linear, teve muitos altos e baixos. Porém, tem uma frase que levo comigo quando as coisas estão ou muito boas, ou muito ruins: fase não é fim! Entendi rápido que ia doer, mas ia passar. Precisava manter a sanidade mental”, comentou.
Resiliência e inteligência emocional
Voltando a falar do apoio da família, Samuel detalhou que teve ao lado os pais, irmãos, filho e esposa. “Isso me deu forças! No meu momento de maior fragilidade física, foi também meu momento de fortalecimento o lado espiritual. A dificuldade quando é grande, não te deixa outra alternativa a não ser acreditar que as coisas vão melhorar. Hoje, ainda em reabilitação, vivo em estado de graça, gratidão por cada passo, cada vitória e cada etapa vencida. Tive o meu maior estado de graça da vida inteira tomando um banho de chuveiro, após mais de 2 meses tomando banho no leito, auxiliado por 2 enfermeiros (…) comemorei tomar um banho sozinho tanto quanto finalizar o primeiro triathlon”, falou.
O estudo menciona ainda que desenvolver a resiliência está diretamente ligado com a inteligência emocional, que juntas formam um duo capaz de amortecer o estresse causado pelo estilo de vida moderno e ser um suporte para transpor obstáculos, além de fortalecer a saúde física, o que é fundamental.
Pioneirismo como paratleta
Samuel Bortolin foi o primeiro triatleta com grau de paralisia cerebral severo a completar um triathlon.
Hoje ele se destaca entre os paratletas brasileiros também como meio maratonista.
Apaixonado pelo esporte, logo passou a participar de provas de rua de 5Km. Em 2014 ele enfrentou seu primeiro desafio esportivo: participar da famosa corrida de rua Night Run, etapa de Brasília. Já fazendo os 5 km, decidiu tentar os 10Km. Fez a prova em 1 hora e 28 min.
Atualmente ele também viaja por todo o Brasil ministrando palestras pautadas em seus exemplos.