Você consegue tolerar a incerteza e o estado de impermanência da vida? Por quê alguns profissionais não “surtaram” mediante o enfrentamento da pandemia do Coronavírus e mantiveram com autodisciplina suas atividades (claro, respeitando a natureza de cada trabalho), e outros estão sentindo uma desconexão fora da sua rotina habitual?

Nossas mentes foram convidadas a aprenderem a desaprender, a serem disruptivas, a desenvolverem a capacidade de mudança rápida entre tantos conceitos que estimularam o nascimento de diversos negócios. Parece que muitos cumpriram o seu dever de casa, mas veio a pandemia da Covid-19 para mostrar – acima de tudo  que este movimento precisa acontecer primeiro dentro de cada um de nós. O que me move e faz sentido para a minha carreira e para a minha vida?

De onde saem as melhores ideias? Na aceleração ou desaceleração dos pensamentos? É comum ouvir de colegas: “mal tenho tempo de respirar”.

Teorias de gestão revisitadas

Na quarentena, muitos profissionais foram obrigados a parar. Alguns tiveram suas jornadas reduzidas. Outros permanecem no piloto automático sem parar. Paradoxalmente, no mundo hiperconectado e apressado, fala-se muito sobre mindfulness, ou seja, a capacidade de mantermos a nossa atenção plena no presente e não nos distrairmos constantemente.

Do que valeram dezenas de treinamentos corporativos, ferramentas para aprimorar nossas habilidades sociais, capacidade para trabalhar sob pressão com objetivo de elevar ao máximo a produtividade? Muitas teorias de gestão serão revisitadas. Estávamos desatentos ou na rota certa?  Descobrimos que as reuniões de videoconferência por plataformas, como Zoom ou Skype, por exemplo, podem, sim, resolver boa parte dos problemas e não exploramos a tecnologia em todo o seu potencial antes. 

A gestão do trabalho home office, da casa e da educação dos filhos tem levado muitos profissionais a refletirem sobre a importância das competências emocionais para o êxito na carreira e nos relacionamentos, em geral. No caos desse cenário, será que aprendemos de fato a sermos inteligentes emocionalmente? Falta capacidade para a prática da resiliência verdadeira: aceitar a impermanência de tudo. Na prática, sermos capazes de lidar com o imprevisível de forma criativa é uma grande vantagem competitiva. Daniel Goleman em “Trabalhando com a Inteligência Emocional” cita a iniciativa, a vontade de realizar, flexibilidade, adaptabilidade e a empatia como habilidades interpessoais essenciais para o sucesso.

Um convite ao ócio criativo

Te convido a refletir em qual momento nas últimas semanas você realmente ouviu a sua intuição, deu importância aos insights criativos (pequenas explosões de ideias que podem revolucionar o negócio), meditou durante cinco minutos por dia, manteve-se aberto para um momento de criatividade.

O primeiro pequeno insight de Einstein com relação à teoria da relatividade foi fruto de uma dúvida adolescente: se ele viajasse à velocidade da luz, que aparência as ondas de luz teriam? Em toda a história da ciência, há muito esforço, empenho, testes das hipóteses, análise das pesquisas feitas anteriormente. Se ficamos seduzidos apenas pela vaidade e pela recompensa material é porque não guardamos o nosso propósito em seu devido lugar: no coração.

Saímos ávidos por caçar ideias inovadoras, soluções mágicas para a crise, encontrar o tom exato para a comunicação das mudanças para os empregados e clientes. O que fazer para não colapsar o organismo, as relações, o ambiente de trabalho virtual e levar o corpo e a mente em um estado destrutivo? Por quê alguns estão “pirando”, trabalhando de casa, se a sua casa deveria ser o seu porto seguro, o seu lar, o local onde você está com as pessoas que mais ama? No fundo, muitos estão desacompanhados de si mesmo. E essa é uma boa reflexão para antes de se conectar com o mundo do  trabalho e com os afazeres de  cumprir tarefas no automático: se conectar consigo mesmo para tudo fluir mais naturalmente e com o prazer que merecemos.

E MAIS….

Aprender a desaprender é fundamental

As superposições de tarefas e acúmulo de pensamentos dirigidos apenas para fazer, fazer, fazer, fazem sentido? Persistência é necessário, errar e corrigir falhas nos processos também, aprender a desaprender, abandonar a resistência ao novo. “Você realiza um experimento porque sua própria filosofia faz com que você deseje conhecer o resultado. É difícil demais, e a vida é curta demais para que você passe seu tempo fazendo algo porque outra pessoa disse que é importante. Você precisa sentir isso dentro de você”, afirma o físico indiano Amit Goswami, em seu livro “Criatividade Quântica”.

A psicoterapeuta Tamythê Engler diz: “Nietzsche dizia que no caos de nós próprios é que se originam estrelas. Só deixamos sorrir, porque um dia também tivemos que chorar. Sei que muitas vezes estamos diante de situações que fogem às nossas expectativas e precisamos nos reinventar. Mas o caminho sempre existe e nos permite a chance de ver o bonito. Aproveite a sua vista. Aproveite o seu momento. Aproveite a vida. Se deixe olhar”. Como bem disse Freud, em última análise, precisamos amar para não adoecer”.