A hipnose clínica é uma ferramenta que utiliza uma linguagem capaz de gerar novas perspectivas nos pacientes por meio do estado alterado de consciência, em que o profissional consegue ter acesso a dores e traumas de forma mais leve e segura. Quando é encontrada a programação negativa que está afetando a vida do paciente, esse evento é ressignificado e, no lugar, são instaladas programações positivas.

Nesta entrevista, o tema é aprofundado pela hipnoterapeuta paulista Débora Diniz.

Formada em hipnoterapia pela OMNI Hypnosis Training Center, ela é um dos grandes nomes da hipnose no Brasil, utilizando essa ciência em suas consultas para auxiliar seus pacientes a encontrarem uma maneira saudável de controlar seus medos e comportamentos negativos.

“Ser um hipnoterapeuta é mais que uma profissão, é um estilo de vida. A hipnose nos ajuda a conhecer o poder da nossa mente e a transformar a nossa própria vida”, afirma Débora. Ela quer desmistificar a visão tortuosa que se têm da hipnose, como algo místico ou de adivinhação que beira o charlatanismo. “Hipnose clínica é ciência e não magia”, frisa.

A senhora afirma que “ser um hipnoterapeuta é mais que uma profissão, é um estilo de vida”. Fale a respeito.

Esta afirmação vem da conclusão de uma reflexão que fiz a respeito de mim mesma, dos meus anseios e de minhas buscas, procurando conciliá-las com as possibilidades que a realidade profissional me oferece, com a construção de um projeto de vida e carreira, tendo como principal premissa a maneira como poderei contribuir para a sociedade e para a vida das pessoas com a minha atividade profissional. Saber que posso utilizar a hipnose como ferramenta para o meu desenvolvimento pessoal e superação é incrível. A hipnoterapia é apaixonante, é a estrada que desejo seguir, o estilo de vida e o tipo de atuação que desejo ter. Tudo isso está intimamente relacionado à minha saúde e ao bem-estar. Ser hipnoterapeuta é ter a certeza de que o meu trabalho vai transformar a vida de alguém que busca por essa grande mudança.

De que forma a hipnose ajuda as pessoas a conhecerem o poder de suas mentes e a transformarem suas vidas?

Tudo isso parece subjetivo, mas efetivamente quer dizer que, por meio da hipnose, podemos mudar nossas programações internas. Uma “programação interna” faz com que a pessoa continue a ter bloqueios emocionais. Se esta programação interna for modificada, isso mudará a forma como ela se relaciona com seus sentimentos e provocará mudanças positivas no seu comportamento. Essa é a grande proposta da hipnoterapia: uma mudança da mente para alcançar mudanças de comportamento. Entretanto, o paciente precisa participar ativamente do processo terapêutico. Assumir um papel de responsabilidade e se reconhecer como o agente da transformação em sua vida.

Outra afirmação sua é que hipnose clínica é ciência e não magia. Explique.

Provar que hipnoterapia é ciência pode parecer algo estranho já que o nome remete a um processo terapêutico, o que é algo sério e cientificamente comprovado. Mas muitas pessoas questionam os efeitos da técnica há décadas, e o papel dos cientistas é fazer a famosa “prova dos 9”. Diversos estudos publicados em revistas médicas de renome comprovam os seus resultados e benefícios no tratamento de pessoas com diferentes traumas e doenças. No Brasil, a primeira entidade da área de saúde a aceitar a hipnoterapia como prática médica foi o Conselho Federal de Medicina (CFM), em 1999. No documento, a hipnose é reconhecida como técnica que pode ser usada tanto para terapia quanto para ajudar no diagnóstico. Porém, é ressaltado que só deve ser realizada por pessoa capacitada. No ano seguinte, foi a vez do Conselho Federal de Psicologia (CFP) reconhecer e autorizar seu uso com a publicação da Portaria 013/2000. Na sequência, o Conselho Federal de Odontologia (CFO), em 2008, e o Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (COFFITO), em 2010, também regulamentaram a utilização da hipnose clínica por seus profissionais. Em 2018, o Ministério da Saúde acrescentou à Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) o uso da hipnoterapia no Sistema Único de Saúde (SUS).

A senhora também afirma que a hipnose é rápida e acessível a praticamente todos os seres humanos. Fale a respeito.

Na hipnoterapia, o objetivo é resolver problemas rapidamente por meio de técnicas avançadas de reprogramação mental. Normalmente em três ou quatro encontros os resultados são muito satisfatórios, com uma taxa de sucesso próxima ou acima de 90%. Todas as pessoas podem se beneficiar desse tipo de tratamento, pessoas de qualquer idade, desde crianças a idosos, exceto pessoas com esquizofrenia ou outra doença em que exista uma alteração da percepção da realidade, como alucinações visuais e/ou auditivas. Aliás, a hipnose para crianças é bastante efetiva, pois elas respondem bem às sessões por possuírem naturalmente um desejo por novas experiências e ideias. Além disso, o público infantil tem menos preconceitos ou medos em relação à hipnose do que os adultos e alta habilidade de visualização. Contudo, algumas pessoas são mais resistentes ao transe hipnótico que outras. O estado hipnótico pode ser mais difícil de alcançar em algumas pessoas, especialmente aquelas que têm dificuldades com confiança e não estão dispostas a “baixar a guarda”. Tendo em vista que a hipnose depende do relaxamento do paciente, é necessário estabelecer uma relação de confiança entre hipnoterapeuta e paciente para que a indução do transe hipnótico funcione.

E de que forma a hipnose auxilia no autoconhecimento?

O autoconhecimento proporciona a busca, no próprio indivíduo, das condições que são favoráveis à sua performance porque promove a automotivação para que ele se sinta melhor como pessoa e como profissional, percebendo a importância não só do seu conhecimento técnico, mas também do seu conhecimento comportamental. Sendo uma habilidade importantíssima para o nosso equilíbrio emocional. Muitas pessoas acham que se conhecem, mas na verdade não. O autoconhecimento é algo mais profundo, ele nos ajuda a entender as origens dos nossos comportamentos, os nossos limites e os nossos reais desejos. No transe hipnótico, o paciente é levado a fazer uma imersão dentro de si mesmo. Ele consegue relembrar, por exemplo, da origem de traumas recordando situações da infância. Também consegue entender o porquê age de tal maneira em situações diferentes. Por meio da hipnose, ele consegue desvendar os gatilhos e os motivos do seu comportamento e dos seus hábitos. Entende o sobe e desce dos estados emocionais que atravessa durante o dia e como essas emoções afetam a sua vida. Além de ser hipnotizado, o paciente pode aprender a auto-hipnose. Assim, sozinho ele conseguirá entrar novamente em estado de transe e conhecerá cada vez mais os segredos de seu subconsciente. Com essa técnica, a pessoa desenvolve um sistema de autopercepção. Esse sistema permite que ela seja capaz de perceber as alterações que estão acontecendo em sua mente. Controlar os seus estados emocionais para manter uma atitude positiva em qualquer situação, além de fortalecer, em si mesma, o domínio das habilidades que precisa para alcançar as metas que deseja.

De que outras formas a hipnose clínica pode auxiliar as pessoas para que tenham saúde plena, ou seja, física e mental.

Nossa mente e corpo nascem com a programação de como se desenvolver e se regenerar, porém o estresse, os traumas e as emoções negativas podem bloquear essa habilidade, originando e agravando doenças. Com a hipnose, expandimos nossos conceitos sobre como tratar doenças e problemas e podemos alcançar resultados incríveis com a autocura. Não é por acaso que a definição dada pela OMS para saúde é: “O estado de completo bem-estar físico e mental”. A busca por um bem-estar em saúde física e mental e qualidade de vida tem aumentado nos últimos anos, porém, quando se fala em saúde mental, logo se pensa na relação direta com doença mental, todavia saúde e bem-estar mental é mais que a ausência de doença. É entender que não somos seres perfeitos, que sentimos e temos múltiplos sentimentos, como raiva, amor, tristeza e felicidade. Além de corrigir disfuncionalidades emocionais, a hipnoterapia pode ajudar pessoas a alcançarem um melhor desempenho em atividades que já fazem bem e potencializar o desenvolvimento pessoal. Por exemplo, atletas que desejam melhorar a sua performance nos esportes podem usar a hipnose como um meio para alcançar suas metas com muito mais agilidade e eficiência. Os estudantes de todas as áreas podem utilizar a hipnose para aumentar seu foco e concentração e assim atingir resultados melhores nas provas. Concluindo, a hipnose pode nos deixar melhor preparados para enfrentar as adversidades do dia a dia, não temer obstáculos e ser mais focados em nossos objetivos.

Para quais transtornos mentais ela é indicada e por quê?

Atualmente, a hipnoterapia é indicada no tratamento de uma grande variedade de enfermidades, como distúrbios emocionais e transtornos mentais, depressão, ansiedade, síndrome de burnout, síndrome do pânico, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), fobias, vícios (alcoolismo, tabagismo, abuso de substâncias), transtornos alimentares, enxaquecas, dores crônicas, manejo das dores em pacientes oncológicos, insônia, transtornos sexuais, bruxismo, entre outros. Isso acontece porque, por meio da hipnose, podemos fazer sugestões e mudanças no nível do subconsciente. A partir do momento em que seu subconsciente recebe uma nova ideia, ele passa a agir de acordo com ela. Dessa forma, diversas pessoas conseguem mudar hábitos que não conseguiam antes, como fumar, roer as unhas, procrastinação, entre outros. Grande parte desses problemas é causada por eventos do passado, principalmente aqueles que aconteceram na infância. Por isso, é comum que as pessoas não consigam identificá-los, às vezes por não se lembrarem que eles aconteceram, outras por não entenderem o tamanho do trauma ou peso que aquela situação gerou. E com a hipnoterapia, é possível identificá-los para que a pessoa consiga transformar a sua mentalidade e, consequentemente, a sua vida.