O escritor paulista Marcelo De Fazzio transformou a trilogia ‘A Casa dos Esquecidos’ em uma saga com a publicação do quarto volume ‘Infinito’, acompanhado do complemento visual ‘Relíquias’. O romance contemporâneo retrata a história de Sarah R. Maison, internada em um manicômio após ser condenada injustamente pela morte do filho.

Entre a concepção do enredo e a publicação do primeiro livro da série, foram 15 anos, período em que o autor passou por momentos difíceis ao enfrentar o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) e a síndrome do pânico. As lições que tirou dessa fase, após uma profunda reforma íntima, foram determinantes para construir a história e definir com mais riqueza o comportamento dos personagens.

“Os anos seguintes de superação permitiram que a trama tivesse um paralelismo fiel com os sofrimentos que a maioria de nós enfrenta, resgatando a inspiração e servindo de motivação a muitos leitores para retomarem suas vidas com mais alegria e gratidão”, relata Marcelo.

Natural de Catanduva, no interior paulista, o escritor, que já foi vendedor ambulante, tem outros cinco livros publicados e mais de 30 mil exemplares vendidos, sempre com mensagens de inspiração e superação para o público. Confira mais detalhes na entrevista.

Como foi sua iniciação na literatura? Alguma influência em particular?

O primeiro contato, essencial e determinante, foi na quarta série do ensino fundamental, quando então a professora, dona Philomena Pinotti, propôs à classe que produzisse um livro de poemas a partir das poesias elaboradas por cada aluno. A princípio fiquei preocupado, achei que não conseguiria, mas confesso que senti bastante facilidade para escrever meu primeiro poema, que foi o ponto de partida de muitos outros poemas e textos que permeariam minha vida, além de lançar um novo olhar para o mundo dos livros.

Qual foi a sua maior inspiração para escrever ‘A Casa dos Esquecidos’?

Eu comecei com um insight em 2002 e, mesmo tendo a história em minha mente, não conseguia desenvolver a escrita da trama, pois passava por transtornos psicológicos, como TOC e síndrome do pânico. Por fim, acabei retomando a história somente 15 anos depois e, apesar do lapso, hoje vejo que a superação dos transtornos, somada às vivências desse período, foi extremamente importante para conseguir retratar de forma mais fiel e realista todo o drama envolvido e a superação da protagonista (Sarah) durante a obra.

Como foi o processo de pesquisa para a obra? Levou quanto tempo?

A parte de pesquisa se limitou mais ao contexto histórico, principalmente no livro 3 (Origem), e, nos demais, girando em torno de distúrbios psicológicos dos pacientes da Casa. Pesquisa essa que fazia durante a produção dos livros.

A Casa Marrom, epicentro da história, existe de verdade? Como chegou a esse lugar?

A Casa Marrom não existe na realidade, ou será que existe (risos)? O emblemático lugar nasceu e se desenvolveu juntamente com a história e, mais do que um cenário que se torna núcleo da trama, acaba também assumindo papel de personagem. Em muitas ocasiões, se confunde com aspectos de nossa própria mente, na qual nos prendemos e nos libertamos através dos capítulos da saga.

De que forma a espiritualidade influencia o enredo?

Assim como a Casa Marrom se preserva durante gerações inteiras, a espiritualidade vem para o entendimento de que nosso espírito continua além da vida, tirando o papel limitador da morte, dando continuidade à vida em outros tempos, tanto para colhermos as alegrias de nossas boas ações, quanto para enfrentarmos as consequências de nossos erros de outrora.

Qual é a principal mensagem que a saga traz aos leitores?

A saga tem diversas mensagens, mas penso que a principal, em que todas se convergem, é a deixada por Henry quando ele compreende sua verdadeira missão, libertando-o da dor, e que repousa na entrada da Casa Marrom, permeando todos os volumes da obra: “Com a graça de Deus, nesta casa, toda moléstia será convertida em virtude, e, após a superação, os enfermos entenderão que não vieram pela cura, mas pelo aperfeiçoamento da alma”.

Você incluiu poemas no romance. De que forma faz isso e qual a estratégia por trás dessa construção?

Através da intertextualidade, coloco o meu livro ‘Saudade, as pegadas da alma’ dentro da saga, em que um dos personagens principais (Ethel) o trata não só como livro, mas como um talismã, que acaba chamando a atenção dos outros personagens e por consequência também do leitor. Além disso, incluí alguns versos e até estrofes ilustrando com pertinência alguns capítulos.

O livro é escrito em fontes maiores e a escrita fluida, fácil de compreender. Há um público específico ao qual direciona a saga?

Além do todo público que acaba se encantando com a saga, a escrita fluida e com letras confortáveis visa resgatar os leitores com dificuldades visuais, além de ser mais acessível para o público que quer ingressar no maravilhoso mundo da leitura, ofertando maior facilidade e motivação para ler cada vez mais.

Na sua opinião, quais os desafios de ser escritor no Brasil?

Acredito que o desafio é lidar com os contornos estruturais da sociedade, que não dá à leitura sua devida importância e destaque, levando em conta o quanto isso pode refletir positivamente em todos os aspectos na vida das pessoas. Inclusive desenvolvi a palestra ‘Leitura, a vacina da mente’, em que não só apresento as vantagens do hábito de ler, mas também como ingressar de maneira empolgante no fascinante mundo da leitura.

Ficha técnica

Livro: A Casa dos Esquecidos (saga completa): Abismo, Vertigem, Origem, Infinito e Relíquias

Autor: Marcelo De Fazzio

Editora: Rota Vintage