Storytelling é um termo muito usado no âmbito das empresas de vendas. Trata-se de entender e dominar a arte de contar histórias para dinamizar e melhorar as estratégias de marketing das empresas. Afinal, muita gente relutante pode comprar se ouvir uma história que os toque. Que o digam as empresas de viagens, que incentivam seus clientes a contar suas histórias de modo a estimular a compra de viagens a partir de narrativas reais.
Na Educação, a contação de histórias é, no dizer de Fausto Camargo e Thuinie Daros, uma estratégia que “consiste em criar personagens e enquadrá-los em uma determinada situação, desafio ou problema que se busca resolver” (2018, p. 111), a partir de narrativas reais. Dimitri Vieira, em outra perspectiva, considera que “storytelling é a arte de contar, desenvolver e adaptar histórias utilizando elementos específicos — personagem, ambiente, conflito e uma mensagem — em eventos com começo, meio e fim, para transmitir uma mensagem de forma inesquecível ao conectar-se com o leitor no nível emocional” (2019). Para este autor, a própria palavra contém tudo o que é necessário para uma contação de histórias eficaz: story se refere à história em si e à mensagem que é transmitida; telling, diz respeito à forma como essa história é apresentada, tendo relação direta com quem apresenta.
A contação de histórias não é recente. É uma estratégia amplamente usada como compartilhamento de conhecimentos em povos diversos, desde a antiguidade. Da mesma forma, é amplamente utilizada na Educação Infantil e no Ensino Fundamental I, por ser uma forma de atrair a atenção para o que se deseja ensinar, bem como por pais que leem para seus filhos. Esta forma de contação de histórias também é uma forma de proporcionar crianças mais ativas, com maior competência lógica e mais saudáveis física e mentalmente, com menor propensão a doenças mentais, como déficits de atenção e ansiedade, de acordo com a psicóloga portuguesa Clementina Almeida.
Pontos Fortes
Um dos pontos fortes da contação de histórias é exatamente o poder de captar a atenção das pessoas, especialmente quando a história tem relevância e sentido para quem ouve, algo imprescindível para a aprendizagem. Em sala de aula, a contação de histórias tem exatamente este poder, mas grande parte dele advém da capacidade do professor em envolver seu público naquilo que está contando. Uma estratégia interessante neste sentido foi apresentada por Mara Mansani, em seu artigo sobre alfabetização com contos de terror da cultura popular brasileira. Ao falar sobre a cultura popular brasileira, a autora explicita: “São cantigas, histórias, danças, festas, lendas, ritmos, brincadeiras, saberes populares, crenças, hábitos de vida, comidas e muito conteúdo que permanece vivo de geração a geração” (2018).Muitas delas, por causarem medo, fascínio ou mera curiosidade, atraem a atenção e se tornam poderosas ferramentas de aprendizagem.
A contação de histórias, segundo Camargo e Daros, envolve as seguintes competências: “argumentação oral e escrita, criatividade, cooperação e colaboração, e empatia” (p. 111). São atributos-chave que devem ser desenvolvidos em qualquer sala de aula, da educação infantil ao nível superior, e que envolvem profundamente as competências socioemocionais. Portanto, é uma estratégia que têm uma amplitude de aplicações gigantesca, e que possui aquela que talvez seja a principal característica positiva: a flexibilidade.
Dimitri Vieira cita também algumas características bem atraentes das contações de histórias. Inicialmente, o autor frisa que, mesmo que a história seja conhecida, sua interpretação pode conferir uma característica única a ela. Além disso, ele salienta que as histórias levam os audientes em uma jornada, que podem gerar identificação do leitor (a meu ver, um ponto-chave) e que, não menos importante, geram emoções. Este último aspecto é um dos mais primordiais para a utilização do Storytelling para a aprendizagem. E conclui: as histórias seduzem, e podem se constituir em um meio poderoso de passar mensagens.
Durante o Ensino Remoto
Para a educadora Karina Rizek (CECÍLIO, 2020), o faz de conta presente na contação de histórias é repleto de simbolismos e permeou o imaginário infantil durante o período de isolamento social. Ao usar as brincadeiras de faz de conta como elemento de aprendizagem, mesmo remotamente, os professores puderam estimular a imaginação das crianças, com benefícios para a aprendizagem e a saúde mental. Afinal, pode-se utilizar não somente as histórias e contos conhecidos, como também fazer adaptações em conjunto com as crianças e as famílias.
O principal é a participação ativa do aluno, não somente ouvindo, mas também interpretando um personagem dentro da história. Isso faz com que os simbolismos se tornem estruturantes na formação psíquica da criança, contribuindo para seu aprendizado e a formação da sua identidade.
Instrumentos
Há disponíveis vários instrumentos na Internet na forma de ideias para utilizar a contação de histórias na sala de aula. Salientamos aqui o artigo de Camila Cecílio, em que se encontram treze planos de atividades que utilizam a contação de histórias. Em outro texto, Bernardo Nairim apresenta dez atividades que podem ser realizadas utilizando a contação de histórias, inclusive no Ensino Fundamental II.
Como usar com criatividade na sala de aula?
Apresentamos aqui as principais características e como podemos usar a contação de histórias na sala de aula.
- Não necessariamente a história deve ter um problema associado, mas é interessante que tenha um propósito. Histórias sem propósito não engajam a atenção.
- A história deve advir, sempre que possível, da realidade dos alunos. Se não for possível, que tenha a ver com tais realidades.
- Mesmo que a história seja fictícia, deve conter elementos que fazem parte do que deve ser estudado, das experiências dos alunos ou da solução encontrada.
- Carmargo e Daros sugerem que uma história deve ter ao menos cinco elementos; “1) personagem; 2) o personagem deve ter desejos, necessidades, problemas, conflitos ou obstáculos; 3) o personagem deve superar obstáculos; 4) o personagem deve fazer escolhas; 5) o personagem deve passar por um processo de transformação (para melhor)” (2018, p. 112).
- Conte a história com entusiasmo e vigor. Lembre-se que o “telling” é uma parte fundamental da contação de histórias.
- Conduza o ouvinte. Leve-o de um ponto a outro da história, por meio de uma narrativa envolvente e que tenha um encadeamento de ações que faça sentido e proporcione significado.
- Se estiver vinculando a história a um conteúdo específico a ser aprendido, procure ser criativo, utilizando “viradas” na história e “quebras” na expectativa de quem está ouvindo, ou seja, surpreenda! Nada torna mais interessante uma história do que novidades inesperadas.
- Mesmo que a história seja potencialmente permeada por problemas e dificuldades, faça com que proporcione sensações positivas ao ouvinte ao seu final. A sensação que melhor define uma história que marca é o bem estar final que ela transmite.