Antes de começarem a ler esse texto, sugiro que leiam com atenção essas primeiras orientações:

Primeiro, falarei psicologicamente sobre a primeira temporada do seriado Sex Life, então, se não assistiram, e não desejam spoiler, leiam o texto depois. Segundo, se você romantizou e se apaixonou pelo personagem Brad Simon, esse texto pode deixá-la um tanto quanto triste e/ou pensativa.

Começo explicando, para as pessoas que não se atentaram, que o seriado tem classificação Drama, e não romance erótico.

Erótico romântico

Em consultório, e também de amigos, recebi a indicação empolgada para que eu o assistisse, fazendo referências do cunho erótico presente no seriado. E, aos amantes de Cinquenta Tons de Cinza, psicologicamente falando, um seriado nada tem a ver com o outro. O filme Cinquenta Tons de Cinza, sim possui classificação seriado erótico romântico.

Em Sex Life, a trama acontece na vida de uma psicóloga, Billie Connelly, casada com o personagem Cooper Connelly – um “genro que toda mãe pediu a Deus” – como diria minha mãe. O marido “perfeito”, com todas as características que meus pacientes relatam ao descreverem o que desejam de um marido: estável profissionalmente e financeiramente, bonito (no caso do ator em questão, eu diria maravilhoso rs), pai afetuoso e apaixonado pelos filhos, que cuida dos serviços do lar e ainda fiel, apaixonado pela esposa, pelo casamento e por estar casado. Perfeito, não? Para a personagem Billie, não!

Ela se pega numa depressão pós-parto, o que não é dito claramente no filme e, se assim podemos dizer, nem na vida real. Poucas pessoas sabem que a depressão pós-parto possui graus de gravidade; não é só a mulher que não consegue nem ver o filho e tenta suicídio, é também a mulher que apresenta tristeza, não sabendo exatamente de onde vem, e, o mais importante, a depressão pós-parto, pode não ser imediata, e sim, nos meses seguintes, e até dois anos após o nascimento do filho. Gestação e nascimento de um filho é uma chuva de hormônios, que interfere diretamente nas conexões neurológicas.

Confusão formada

Voltando ao seriado, Billie pega-se nessa depressão pós-parto pensando no “ex-namorido”, com o qual tinha uma química e relacionamento sexual intenso e profundo. Resumidamente, ela vai atrás dessas sensações, tentando resgatar a “Billie Mulher”. Paralelamente, o marido Cooper, lê seu diário, sente-se inseguro, e enfrenta uma crise de auto imagem, indo atrás do Brad, para ver o que ele tem que atrai tanto sua esposa.

Confusão formada! Ah, Fabiana, isso só acontece em filme! Sinto informar que isso é muito mais comum do que vocês podem imaginar.

A fantasia do homem ou mulher perfeitos, a busca pelo complementar, aquele que resolva nosso vazio interno, é tema diário em meu consultório e entre amigos. A dúvida de como seria minha vida “se eu tivesse casado com o ex…”, “se eu não estivesse casada…”, “se eu não tivesse perdido aquele filho…”, “se eu fosse solteira hoje…”, e se, e se, e se…Alucinações (termo utilizado em PNL para falar sobre “não certezas”), puras alucinações de como seria minha vida no ambiente imaginário. Infelizmente, nunca saberemos o “e se…”, pois ele não aconteceu, e mesmo que aconteça hoje, é no hoje, e não no passado ou futuro.

A dúvida

O seriado traz muito a questão do que eles chamam de um parceiro que te completa 85% – o esposo ideal interpretado pelo Cooper – e o que completa 15%, sexualmente falando.

A dúvida e a questão principal, trazidas em consultório, são: “eu fico e quero um 85%, ou eu quero e prefiro ficar com o 15%”. Sim, a verdade é que raramente encontramos um parceiro que tenha ambas as características e, mesmo assim, não existe o perfeito. Mais do que isso, além de encontrar alguém com o profissional, emocional, financeiro, e todas as habilidades desejadas, é estarmos com todas essas características também bem resolvidas em nós, para que seja um relacionamento complementar, o que chamo de “troca justa”.

Putz, Fabiana! Agora você complicou! Sim, agora complicou.

E agora vou complicar um pouco mais a explicação. O 85% não é 15%, ou 100%, porque não possui disponibilidade sexual para tal, e o contrário também – o 15% não é 85%, e nem nunca será 100% (só com muiiiiiita terapia e querer) – porque não possui disponibilidade emocional para isso. Ambos possuem seus traumas e encontraram maneiras de não mexer nesses conteúdos. E, como retrata no seriado, o 15% é a pessoa sexualmente muito disponível, mas emocionalmente indisponível; possui, sim, traumas e problemas bem sérios e complexos com a figura do Pai ou da Mãe; possuem dificuldades no cuidar, em se relacionar e criar vínculo profundo de segurança e confiabilidade, então, suprem a necessidade de contato na relação sexual intensa. Pelo tamanho da complexidade é que eu digo que um 85% pode vir a ser um 100%, pois trabalhar a disponibilidade sexual é menos complexa, a trabalhar a disponibilidade emocional. Assim, o 15% dificilmente – e arrisco dizer nunca – será um 100%.

E MAIS…

Então o que fazer?

Primeiramente, entender que você precisa estar, ou ser um 100%, trabalhar suas disponibilidades e traumas, para só então buscar uma relação e exigência de um parceiro 100%. Não quero dizer que você não encontrará; pode, sim, encontrar, mas a possibilidade de perder é enorme.

Segundo, estar com um parceiro 15% ou 85% é uma escolha, e não existe o certo ou errado. Como sempre digo, o importante é a consciência, a verdade, um contrato bem estabelecido. O que é mais comum, e sempre foi, é casarmos com o 85%, e termos os 15% com amantes. Certo? Eu digo novamente, depende do combinado. Como no texto sobre Relacionamentos abertos, e outras modalidades, essa é uma saída encontrada por algumas pessoas. O que não soluciona se não estiverem minimamente resolvidos emocionalmente.

Terceiro, relacionar-se é uma das tarefas mais complexas dos seres humanos. Então, busquem o autoconhecimento, façam escolhas de modo mais consciente possível, e assumam e honrem essas escolhas e as falhas, se elas machucarem outras pessoas. Entendimento e aceitação são os caminhos para relacionamentos mais saudáveis.

Ainda não assisti a segunda temporada de Sex Life, mas, se o escritor for fiel aos estudos e pesquisas sobre relacionamentos e à psicologia, como foi na primeira temporada, eu imagino qual será a escolha da Billie e as consequências que a aguardam. Prometo contar e comentar aqui com vocês.