É preciso reconhecer que os padrões mentais funcionais ou disfuncionais são determinados pelo ambiente e pela genética. Sim, por mais que se tenha tentado negar sua influência, a genética tem uma participação maior ou menor a depender do quanto o ambiente reforçará ou atenuará determinadas tendências – e lembrando o saudoso professor Galdino Loreto: “Genética não é destino, é ameaça de destino”.
Nesse contexto, a genética estaria relacionada ao temperamento: nasceríamos com determinadas tendências, por exemplo sermos mais extrovertidos ou introvertidos, mais ou menos reativos ao ambiente etc.
Estudiosos como Jerome Kagan dedicaram-se a entender a influência do temperamento desenvolvendo estudos com bebês e os acompanhando ao longo da vida numa tentativa de compreender o quanto a maior ou menor sensibilidade percebida nos bebês dos estudos se mantinha ao longo do desenvolvimento. A conclusão foi que o ambiente seria um reforçador ou atenuador de determinadas tendências.
O desafio de mudar crenças
Mas vamos ao que podemos mudar: as relações iniciais terão fundamental participação na formação das crenças mentais do indivíduo, que serão basicamente as concepções que ele vai ter do mundo, das pessoas do mundo, do futuro e dele mesmo.
Mudar crenças não é impossível, mas quanto mais se demora a buscar ajuda, mais elas são reforçadas, e algo internalizado de forma equivocada se manterá firme e forte porque seu cérebro fará de tudo para não abrir mão daquilo que ele já conhece.
Normalmente, tais padrões se impõem por uma necessidade num contexto específico e tendem a ser reforçados ou porque o ocorrido inicial se mantém ou porque a pessoa passa a adotar um comportamento descontextualizado como forma de prevenção. Contextualizar a vida e as pessoas é fundamental, mas quando o medo se sobrepõe fica difícil pensar, e a reação imediata e já conhecida do cérebro vem em toda sua intensidade.
Para tratar não basta entender
Não basta o sujeito saber que seu medo do abandono e desamparo tem a ver com os pais hoje bons, mas imaturos e ausentes que a pessoa teve, por exemplo. Ela vai entender, mas vai continuar lidando com muita dificuldade quando aquela pessoa que ela gosta precisar viajar sem você, por exemplo.
Um fato que para indivíduos que tiveram figuras de apego estáveis será tranquilo, para o sujeito que passou por uma experiência contrária, irá gerar muita angústia e medo de, de repente, aquela pessoa não mais voltar, pela razão que for, e alguns pensamentos podem até surgir e tomar conta reforçando os padrões mentais, tais como: “Não tenho razão para achar isso e me sentir assim”, mas a regressão ao estágio inicial de quando tudo se impôs, trará toda a sensação original daquele medo e desamparo desolador da infância de volta.
E esse medo pode paralisar ou fazer o sujeito hipercompensar, ou seja, pode fazê-lo se isolar na tristeza ou buscar qualquer coisa ou pessoa para ajudar a lidar, da forma que for, com esse desamparo. Nas duas alternativas, a chance de se arrepender é grande porque em ambas adotam comportamentos desproporcionais influenciados pelo medo; e aqui vai um alerta: é preciso tomar cuidado com o que a pessoa faz sob efeito do medo, da culpa e da paixão – não dá pra confiar em nós mesmos. Portanto, quando houver a percepção de que que o sujeito está sob efeito de uma dessas três emoções, incentive-o a racionalizar, esperar, pensar, ponderar e, o mais importante, agir de forma diferente do que agiria sob influência delas: eis a única maneira de atenuar um padrão de resposta disfuncional.
Um esforço recompensador
E vai dar trabalho. Vai exigir esforço e perseverança, mas valerá a pena. Gosto de dar o exemplo da direção: aprendemos a dirigir do lado esquerdo do carro, certo? No início pensamos em cada movimento, mas com o tempo, e a repetição, torna-se automático e nem sabemos mais o que fazemos, apenas fazemos. A hora de trocar a marcha, de apertar os pedais, de olhar pelo retrovisor se tornam tão automáticos que fazemos quase como movimentos involuntários.
Portanto, é a mesma lógica com nossos padrões mentais: tanto os funcionais quanto os disfuncionais. Mas voltando ao carro. Digamos que uma pessoa vai morar na Inglaterra e lá vai ter que dirigir do outro lado. Em meio ao processo já naturalizado, ela logo pensa: “Tranquilo. Dirijo muito bem”. Ela já sabe e entendeu que é diferente, mas quando pega no carro pela primeira vez, se atrapalha com os movimentos, pois eles não são iguais. Não estão no modo automático. E por mais consciência que o sujeito tenha de que é diferente, o cérebro prega peças tentando manter o padrão inicial, o primeiro aprendido, o de dirigir do lado esquerdo. E aquele que se achava tão bom motorista vai se confundir muito, mas se persistir vai desenvolver um novo padrão para conduzir o carro, mostrando ao seu cérebro que no contexto da Inglaterra o aprendizado inicial não serve e que ele não precisa temer o novo.
Em algum momento, o cérebro vai entender, mas a pessoa vai ter que sofrer um pouco no início e não desistir de mudar seus padrões mentais.
Características não saudáveis
Será assim com as característricas não saudáveis do nosso comportamento, mas que nosso cérebro aprendeu e teima em repetir automaticamente mesmo num contexto diferente, trazendo normalmente as mesmas consequências negativas. Se o desejo é ter resultados diferentes, é preciso agir de forma diferente, por mais que aquilo no início não seja exatamente confortável, reconhecido e muitas vezes dolorido, mas se já está entendido que levará a desfechos mais saudáveis do que os que a pessoa tem tido, persistir é a chave do sucesso nessa mudança.
A tríade das mudanças comportamental, cognitiva e emocional
Ser racional usando os prós e os contras já conhecidos ajuda a internalizar um modelo mais funcional de ação. Assim, a mudança comportamental impulsionará a mudança cognitiva e emocional que almejamos, alterando crenças e comportamentos enraizados por toda a nossa vida e trazendo novas perspectivas impressionantes.