O autismo sem mistério e ao alcance de leigos e profissionais da saúde e da educação. Esse é o objetivo da psicanalista Roberta Ecleide de Oliveira Gomes Kelly com o livro ‘Autismo.S – Olhares e questões’, lançado pela Appris Editora. A autora, pós-doutora em filosofia da educação pela Universidade de São Paulo (USP), mostra a importância do estudo da neurodiversidade: “Longe de uma doença a ser curada, mas que precisa ser bem conduzida no processo educativo e respeitada com a delicadeza das diferenças”.

A obra traz uma breve história do autismo, com definições clínico-diagnósticas, e apresenta debates e discussões de profissionais que atuam no atendimento de crianças diagnosticadas como autistas. Roberta também é doutora em psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e acredita que o principal desafio da inclusão escolar de alunos autistas é a difícil inserção no Brasil da área da saúde na educação. “Ou seja, o diagnóstico do autismo pode não propiciar ajuste, mas segregação”, explica a psicanalista, supervisora clínico-institucional no estado de Minas Gerais (Capsi).

Pós-pandemia

Reflexões sobre os desafios do autismo no pós-pandemia também estão presentes no livro. “No dia a dia dos autistas, os com diagnóstico acertado, vejo que perderam parte dessa diversidade da convivência. Alguns comportamentos já estabelecidos, como dessensibilização auditiva, sumiram e as crianças começaram a ter dificuldade com sons – tenho visto isso até em crianças que não apresentavam hiperacusia (sensibilidade auditiva aguçada). Ou mesmo aprendizados, como alimentação variada e autocuidado, diminuíram ou sumiram. Um dos motivos é que a situação da pandemia levou as crianças para casa e o ambiente doméstico é controlado, pouco desafiante, não permite os erros – condições fundamentais para aprender”, relata.

Roberta ressalta que é importante entender que não há aumento dos casos de autismo. O que cresceu foi o número de diagnósticos. Por outro lado, alerta que, a partir da pandemia, sem a frequência nas escolas e nos espaços coletivos, a indicação precoce pode ter sido prejudicada. “A análise resulta de um processo de construção, estudo de várias condições que trazem a etiologia dos atrasos. O desconhecimento que até alguns profissionais têm das condições clínicas do autismo, fora dessa dimensão de construção, também faz diagnósticos apressados”, informa.

Ficha técnica

Título: Autismo.S – Olhares e questões

Organizadora: Roberta Ecleide de Oliveira Gomes Kelly

Editora: Appris

Páginas: 227