O suicídio é um problema de saúde pública global. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, aproximadamente 800 mil pessoas morrem por suicídio a cada ano no planeta, representando 1,5% de todas as mortes. Um dos grupos com maior número de vítimas são jovens entre 15 e 24 anos. Estima-se que os custos sociais sejam da ordem de mais de 93 bilhões de dólares por ano apenas nos Estados Unidos. Portanto, é cada vez mais urgente que a sociedade tenha acesso a dados e que sejam aprimoradas as políticas públicas de saúde para combate ao problema.
Os dados no Brasil não são recentes, mas foram registradas 50.664 mortes por suicídio entre 2010 e 2014, e a taxa média de mortalidade por suicídio foi de 5,23 por 100 mil habitantes. Os municípios brasileiros com as maiores taxas foram Taipas do Tocantins (TO) com 79,68 óbitos por 100 mil habitantes; Itaporã (MS) com 75,15 óbitos por 100 mil habitantes; Mampituba (RS) com 52,98 óbitos por 100 mil habitantes; Paranhos (MS) com 52,41 óbitos por 100 mil habitantes; e Monjolos (MG) com 52,08 óbitos por 100 mil habitantes.
“Só falar sobre suicídio em setembro não é o suficiente. É necessário agir e levar informação de qualidade para a população para reduzir o número de casos no país. O lançamento dessas diretrizes específicas para a realidade da saúde mental do nosso país é de extrema importância para que os profissionais estejam aptos a abordar, avaliar e identificar fatores de risco em um suicida em potencial e evitar que mais pessoas venham a óbito”, afirma Dr. Antônio Geraldo da Silva, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).
Fatores de risco e proteção
Existem muitos fatores de risco para a tentativa e o suicídio, não havendo um único fator capaz de prever eventos de curto ou longo prazo. Portanto, a avaliação deve ser completa, individualizada e considerar a combinação de múltiplos fatores, com ênfase particular na história pessoal e familiar de comportamento suicida, presença de doença mental aguda e estressores que os indivíduos têm dificuldade em lidar. Além disso, o suicídio é uma emergência médica e requer uma avaliação rápida e eficaz. Por isso, recomenda-se que o atendimento ao paciente suicida deve começar como em qualquer outra emergência médica.
Uma das formas de reduzir as chances de uma nova tentativa ou o óbito é ampliar as redes de proteção. No entanto, identificar fatores de proteção não substitui a presença de diversos fatores de risco. A vigilância e o tratamento precisam ser constantes. São fatores de proteção: sono reparador de oito a nove horas de duração; religiosidade; confiança nas próprias habilidades para enfrentamento de situações difíceis, entre outros.
Nem sempre a família é uma aliada e participa do processo de acompanhamento dos pacientes com ideação suicida. Essa é uma situação que agrava muito as chances de tratamento. Como acolher o paciente com comportamento suicida quando não há redes de proteção familiares? “Se um médico psiquiatra recebe um paciente de risco no consultório deve fazer contato direto com um amigo ou alguém da família. Muitas vezes, é necessário pedir a internação com a observação do comportamento de risco. A tentativa do suicídio pode ocorrer dentro do hospital e, por isso, a vigilância é diária e as estratégias terapêuticas com uso de antidepressivos entre outras medicações são essenciais”, alerta o psiquiatra Dr. Pedro Ernesto Silva.
Desencadeador do evento
O estudo identificou 61 fatores de risco para tentativa de suicídio até o momento com maior evidência: uso agudo de álcool, transtorno dismórfico corporal, maus-tratos infantis, uso crônico de maconha, transtorno de humor, obesidade e suicídio de parentes, entre outros. Vale enfatizar que nenhum fator isolado é preditivo de tentativa ou suicídio consumado. Geralmente, a soma de vários fatores é o desencadeador do evento.
Em números absolutos, a mortalidade por suicídio atinge o pico na faixa de 15 a 29 anos. Entre crianças de 10 a 14 anos, o suicídio é a terceira causa de morte mais comum e a segunda causa de morte mais comum até os 34 anos. A proporção entre homens e mulheres varia de acordo com diferentes estudos e regiões. Alguns estudos mostram que orientação homossexual ou bissexual, ser filho único na família, ter baixa escolaridade, ser solteiro e estar preso podem ser fatores de risco.
Evidências cientificas sugerem também contribuições genéticas para o risco de suicídio. O comportamento suicida é alto em familiares de indivíduos que tentam ou completam o suicídio. No entanto, as alterações genéticas no comportamento suicida ainda são controversas, e até o momento, não há nenhum gene identificado direcionado ao suicídio.
O desenvolvimento das novas diretrizes
O projeto envolveu 11 profissionais brasileiros da área de Psiquiatria, selecionados pela Comissão de Emergências Psiquiátricas da Associação Brasileira de Psiquiatria. Para o desenvolvimento das novas diretrizes, foram revisados 79 artigos, de 5.362 coletados inicialmente e 755 resumos. O levantamento está disponível em inglês no website: https://www.abp.org.br/post/abp-lanca-diretrizes-tratmento-comportamento-suicida.