O médico Eduardo Sucupira tem larga experiência na área de cirurgia plástica. Ele se juntou com a psicanalista Renata Bento para debater diversos pontos técnicos, psicológicos e comportamentais que envolvem uma cirurgia plástica. Seja ela reparadora, estética ou um desejo do paciente.

Conscientizar os cirurgiões plásticos sobre o crescente aumento de pacientes que podem apresentar algum tipo de transtorno nos consultórios é fundamental para que os procedimentos tenham total sucesso. Pacientes com sintomas depressivos elevados e com “marcadores” de psicopatologia devem ser encaminhados ao tratamento psicológico para avaliação adequada antes de qualquer tipo de cirurgia.

Eduardo Sucupira é Especialista e Membro Titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. Membro titular do Colégio Brasileiro de Cirurgiões (CBC) e da International Society of Aesthetic Plastic Surgery (ISAPS). Membro internacional da American Society for Aesthetic Plastic Surgery (ASAPS). Mestre e Doutor pelo Programa de Cirurgia Translacional da Escola Paulista de Medicina pela Universidade Federal de São Paulo. (www.eduardosucupira.com.br)

Renta Bento é psicanalista e psicóloga. Membro Associado da Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro. Membro da International Psychoanalytical Association – UK.Membro da Federación Psicoanalítica de América Latina – Fepal. Especialização em Psicologia clínica com criança PUC-RJ. Perita ad hoc do TJ/Rj – RJ. Assistente Técnica em processo judicial. Especialista em família, adulto, adolescente. (www.renatabento.com.br/blog)

Ambos debatem a importância do acompanhamento psicológico pré e pós cirurgia plástica e/ou reparadora. Leia a entrevista completa a seguir.

Qual a postura ideal do cirurgia plástico frente as necessidades de seu paciente?

Eduardo Sucupira – Considero que a única postura ideal ou aceitável é aquela em que nos colocamos no lugar do paciente.

Ao nos colocarmos no lugar do paciente, conhecendo sua motivação, suas inquietudes, suas angústias, suas expectativas e, sobretudo, conhecedores das técnicas cirúrgicas e de suas limitações estamos habilitados a conduzir o paciente por esse caminho.

Nem sempre a escolha técnica mais adequada do ponto de vista médico atenderá às expectativas do paciente, assim como nem sempre as expectativas do paciente encontram soluções factíveis do ponto de vista técnico. Ouvir atenciosamente o paciente é fundamental para a sua satisfação.

O que se deve ser analisado criteriosamente durante a consulta?

Eduardo Sucupira – A consulta médica é a oportunidade para identificarmos a motivação daquela condição. Geralmente início a consulta após discreto rodeio com a seguinte pergunta: O que lhe traz aqui? Como posso ajudá-lo?

É o momento de “ouro” para recebermos todas as informações necessárias para um correto planejamento para auxiliar o paciente em todas as suas demandas. Naturalmente existe um roteiro para a consulta, a anamnese (do grego Ana, trazer de novo e mensais, memória). A partir dos dados colhidos na anamnese, como a queixa principal, a história que revela a queixa, o histórico de alterações passadas ou atuais, alergias, uso de medicamentos regulares, hábitos de vida entre outros. Esse conjunto de informações estabelece o estado bio-psico-social do indivíduo e condiciona a viabilidade de uma eventual cirurgia ou tratamento. 

Quais as questões emocionais que envolvem uma cirurgia plástica?

Renata Bento – Todo procedimento cirúrgico envolve risco e de alguma forma, mobiliza uma série de sentimentos (expectativa, medo, esperança, angustia, euforia). O impacto psicológico diante do novo após a cirurgia também pode trazer ansiedade.

O cirurgião ajudará a calibrar com o paciente essas emoções com conversas sobre as expectativas e a realidade e até poderá evitar a cirurgia quando percebe que a busca pela intervenção se trata de algum tipo de transtorno relacionado a imagem corporal.

Corpo e mente não se dissociam; e a cirurgia plástica não materializa uma fantasia, é uma outra coisa. Quais seriam as reais motivações? Melhorar a autoestima, distorção da imagem, quais as expectativas fantasiosas e o que cabe na realidade? Existe uma necessidade de depositar toda a esperança de modificação do corpo em busca de ser alguém diferente? 

O que deve levar em conta na hora de decidir por uma cirurgia mais invasiva?

Eduardo Sucupira – O principal aspecto relacionado a uma cirurgia mais invasiva é, geralmente, o tempo de recuperação. Normalmente cirurgias mais invasivas demandam maior tempo de recuperação porém possibilitam resultados mais expressivos

Qual a responsabilidade moral do cirurgião plástico antes e depois da cirurgia?

Eduardo Sucupira – A responsabilidade do cirurgião plástico, enquanto médico que aplica todo o seu conhecimento e expertise técnica, é de prover todos os cuidados necessários para o seu paciente no período pré, per e pos-operatório. As intervenções possuem aspectos que dependem do cirurgião na formulação e na implementação do planejamento condizente com as expectativas e possibilidades para cada situação. Dependem também do comportamento pós-operatório do paciente e da reação cicatricial de cada indivíduo frente àquela intervenção.

Por que algumas pessoas não aceitam o seu corpo, mesmo já estando em sua melhor performance?

Renata Bento – A importância da representação do corpo na mente humana é inegável. A formação da imagem corporal se constitui a partir das primeiras relações da infância; é a partir do olhar do outro que as primeiras imagens sobre como somos são introjetadas.

Os desdobramentos posteriores podem trazer uma necessidade de busca pela perfeição, beleza e formas idealizadas. Algumas pessoas são fixadas em seus defeitos físicos e de uma forma mais grave, podem deixar de se relacionar socialmente por isso. Essa não aceitação ou insatisfação constante pode esconder aspectos psicológicos mais sérios que levam a uma ansiedade desmedida devida a uma distorção da imagem corporal.  Muitas vezes há um vazio existencial significativo onde a beleza e o desejo de perfeição entram como abafador desse vazio. E como é uma questão interna, não há mudança externa que dê conta. Não gostar de uma ou mais partes do corpo é normal, mas se isso se torna uma insatisfação grave, é preciso verificar com cuidado onde está a raiz dessa insatisfação.

Quais os principais cuidados na hora de escolher um procedimento e o médico para realiza-lo?

Eduardo Sucupira – Considero que é fundamental que o paciente procure por um profissional com lastro, ou seja que seja membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e que, naturalmente, apresente as suas necessidades ou motivo de sua insatisfação para que possa ser apresentada a melhor solução. Considero que o especialista possui melhores condições de orientar a escolha do procedimento.

Qual a responsabilidade do médico diante de uma cirurgia plástica e qual a do paciente?

Eduardo Sucupira – A responsabilidade do médico é de compreender o desejo do paciente, verificar a possibilidade de realizá-lo e orientar a conveniência de sua realização. Da paciente é de apresentar sua queixa da forma mais clara, compreender as eventuais limitações de uma intervenção, eliminar quaisquer dúvidas com o profissional escolhido, assim como cumprir fielmente as recomendações a ele impostas.

De que forma a plástica ajuda na autoestima em uma cirurgia de reparação, por exemplo?

Renata Bento – Sentir-se bem na própria pele e no próprio corpo é um ajuste fino com a própria identidade no seu psiquismo. O corpo envelhece, e isso é inevitável; as formas mudam e muitas vezes algumas intervenções quando não se tornam obsessões podem ser significativas, proporcionando satisfação e atuando na autoestima. Se somos constituídos através do olhar do outro na primeira infância, o olhar sensível do cirurgião plástico tem papel primordial.

Entretanto, a primeira coisa que se pensa quando se fala em cirurgia plástica são questões ligadas a beleza estética, mas é mais que isso. Se corpo e mente estão juntos é possível compreendermos a alegria de quem passou por cirurgia plástica após um câncer, ou queimaduras graves, lábio leporino, entre outros.

Quando as expectativas são conscientes e mais alinhadas com a realidade, a cirurgia plástica pode devolver a alegria a uma pessoa, em se tratando de cirurgia reparadora. 

Quais os procedimentos mais procurados?

Eduardo Sucupira – Lifting facial e de pescoço. Tratamentos minimamente invasivos faciais (Harmonização facial). Rinoplastia (Nariz). Mastopexia ou cirurgia do “levantamento das mamas”. Lipoaspiração a LASER