Neste texto, vou trilhar um caminho diferente dos habituais que escrevo nesta coluna. Vou compartilhar minha experiência pessoal como forma de evidenciar a importância que tem a aprendizagem quando realizada pelo próprio aluno, com base em seu protagonismo e automotivação, além de enfatizar como faz diferença quando o aluno é ensinado a aprender. Vocês verão, ao lerem este relato, que há muito de Neurodidática em minha história.

Eu nunca fui um aluno brilhante. Não, pelo menos, até chegar à faculdade. Fiz um Ensino Fundamental razoável e, apesar de nunca ter sido reprovado, nunca ter ficado de recuperação ou sequer de prova final, houve muitos momentos em que “passei raspando” ou precisei da ajuda de um professor particular (o que atualmente também são chamados de “explicadores”).

Quando passei para a Universidade Federal do Rio de Janeiro no 2º semestre de 1987-2 (é, já faz bastante tempo), tomei uma decisão pessoal. Na verdade, foram duas decisões: a primeira, é que eu queria ser o melhor aluno de minha turma da Faculdade de Educação Física. A segunda, é que eu queria, um dia, ser professor universitário. E eu consegui as duas. E vou compartilhar com vocês como.

A primeira coisa que fiz, antes mesmo de começar as disciplinas universitárias de primeiro período, foi pensar em como faria para melhorar meus estudos. E, em um primeiro esforço de metacognição, reconheci que não sabia como estudar. Eu lia, eu fazia exercícios, mas isso não fazia com que eu tivesse rendimento acadêmico alto. Eu era apenas um aluno regular. Como fazer então para passar a ser um aluno de alto rendimento?

Divisor de águas

Em um dado dia, ao passar por uma livraria sebo (para quem não sabe, era um tipo de livraria que vendia livros usados) me deparei com um livro de capa vermelha chamado “Como Estudar”, de James e Ellen K Deese. Este livro foi um divisor de águas. Pena que o emprestei e nunca mais o vi. Nele, aprendi três coisas fundamentais.

1 – A necessidade de escolher uma técnica de estudo que mais se aproximasse de minhas características como estudante. E acabei adotando a técnica de fichamento. Comprei uns cartões classificadores na papelaria e comecei a utilizá-los. Mas aí me deparei com outro problema: como resumir.

2 – A necessidade de ter técnica para resumir. Não raro, se você pedir a um estudante para resumir um texto, utilizando um marca-texto, praticamente todo o texto ficará marcado. O livro ensinava a como extrair apenas a ideia central do texto, eliminando a “gordura” restante. Assim, comecei a fazer os fichamentos de um capítulo inteiro de muitas páginas em apenas uma ficha.

3 – A necessidade de gerenciar o tempo. Eu não tinha a organização necessária para estudar com eficiência e eficácia. Meu tempo era muito desperdiçado e eu procrastinava muito. O livro também me ajudou a conseguir ter a disciplina de estudo necessária.

No primeiro período, inobstante minhas boas notas, não tive um resultado surpreendente. Mas do 2º período em diante, em que apliquei mais fortemente as técnicas do livro e me inteirei melhor de como fazer as coisas, tudo ficou muito fácil. Para vocês terem uma ideia, em muitas vezes, ao estar fazendo uma prova e ler uma dada pergunta, me vinha na tela mental a ficha que eu tinha feito e estudado, e eu simplesmente copiava o que estava escrito. Era sensacional. Sem contar que eu guardei tais conteúdos por muitos anos.

Análise da questão

Para dar um exemplo de como isso foi importante, vou relatar o caso ocorrido na disciplina de Fisiologia. Na prova, o professor tinha me dado 9,0 de nota, pois segundo ele eu tinha errado uma questão. Fui analisar a questão, e no que estava lendo a resposta, veio em minha tela mental a ficha de estudos. Comparei a resposta, e vi que estava correta. Falei com o professor, que se negou a me dar o ponto, alegando que eu não estava com a razão. Não me fiz de rogado: na aula seguinte trouxe o livro junto com a prova. A resposta era exatamente igual à que eu tinha colocado na resposta da prova. O professor não teve como não considerar minha questão correta e me dar o ponto. Resultado: mais uma nota dez dentre as muitas que tirei durante o período da faculdade.

E assim foi por todo o percurso da faculdade, até a conclusão em 1991. Um bom tempo à frente, resolvi fazer pós-graduação e mestrado. Simultaneamente. Embora eu não recomende à ninguém, o período entre 2001 e 2003 foi um dos mais frutíferos de minha vida. Pude aplicar, em um nível bem alto, o gerenciamento de tempo necessário para dar conta de todo o estudo necessário, ao mesmo tempo que trabalhava durante mais de cinquenta horas semanais na faculdade e na prefeitura do Rio de Janeiro. Não foi fácil, mas aqueles princípios que aprendi naquele livro de Como Estudar foram essenciais para isso.

Identificar os pontos essenciais

Um outro ponto importante: o fato de aprender a identificar os pontos essenciais dos parágrafos e fazer resumos tecnicamente corretos me auxiliou em outra tarefa importante: fazer redações bem-feitas. Pode parecer não ter relação alguma, mas tem. Ser capaz de focar nos pontos essenciais de um texto e selecioná-los, me tornou mais fácil a tarefa de pegar um tema e desenvolver com desenvoltura e retidão de informações. Isso, porém, me fez utilizar uma outra capacidade que desenvolvi muito antes, durante minha formação no Ensino Fundamental: o hábito da leitura.

Sim, eu li muito, diferentes autores, diferentes textos. Gostava muito daquela coleção “Para gostar de ler”, com diversos autores nacionais, que tinha títulos muito interessantes. Eu devorava os livros. Não se engane, ler é de fundamental importância. Através da leitura e da interpretação de texto, consegui fazer redações excelentes – cheguei a tirar 10,0 na redação de uma prova de um Concurso Público, o que me fez passar em primeiro lugar.

Ler muito também me fez falar nossa língua corretamente, escrever corretamente e ler corretamente. Me deu um vocabulário extenso. Me fez, inclusive, conseguir compensar uma deficiência que sempre me acompanhou: a gramática. Sempre fui péssimo, confesso. Mas sempre consegui passar em português, inclusive em concursos. No último que prestei, no mês passado, consegui acertar 9 em 10 questões. Um resultado surpreendente, confesso. Mas, com certeza, só consegui por ter uma base boa de leitura, de interpretação de texto, de escrita.

E MAIS…

Moral da história

Desculpem pelo título deste encerramento, mas sempre quis escrever isso. Não é um moral da história, é um encerramento deste artigo. Mas, de certa forma, é um moral da história mesmo, à guisa de conclusão dentro do que a minha história de vida aqui narrada pode proporcionar. Vou condensá-la em tópicos.

  1. Leia muito – sei que na era do digital e dos vídeos, a leitura tem ficado um pouco negligenciada pela geração mais jovem. Mas ainda assim, pode-se procurar temas que sejam de interesse e ler livros que tenham a ver com isso. Esta é uma parte fundamental para o sucesso de qualquer pessoa, em qualquer área do conhecimento. Leia. Leia muito. Acredite: um novo mundo vai se descortinar na sua frente.
  2. Busque conhecimento – neste tópico, vou contar rapidamente outra história – de como me tornei professor de informática. Sou da época dos primeiros PCs (Personal Computers), como o PC XT. Foi meu primeiro computador, com inacreditáveis 256Kb de memória RAM e 4Mb de HD. É isso mesmo que você está lendo. Mas já faz décadas. Enfim, comecei a estudar, pois eu queria entender como funcionava. Por minha conta. Sem ninguém mandar. De tanto que estudei e entendi, comecei a ministrar pequenos cursos. Até que num destes, uma pessoa gostou da minha didática e me chamou para ministrar cursos no SENAI. E assim começou. Foram bons anos ministrando cursos de informática. Bons tempos. E daí surge o terceiro tópico.
  3. Seja protagonista – não fique esperando te mandarem estudar. Estude porque é bom. Estude porque vai fazer a diferença na sua vida, inclusive profissional. Não tenha motivo para estudar, estude porque você é protagonista da sua vida. Os resultados? Você vai colhê-los em algum momento de sua vida. E tudo vai valer a pena.
  4. Aprenda a aprender – no melhor estilo da metacognição, aprender como aprender melhor. Não existe uma forma única. Você tem a sua forma própria, então encontre técnicas  – há vários livros e apostilas que as ensinam. Teste uma aqui, outra ali, até achar uma que você goste e com a qual se sinta confortável. Você verá que vai fazer total diferença.
  5. Aprenda a fazer resumos – não é só uma necessidade técnica ou para uma disciplina em específico, é para toda a vida. Aprender a fazer resumos e tirar somente o essencial de um texto te torna mais efetivo para entender conceitos e extrapolar este conhecimento, aplicando a outras áreas. Tudo fica mais fácil quando você aprende a resumir, pois é menos “coisas” que você tem para armazenar. Neste caso, menos é mais.
  6. Gerencie seu tempo – em uma era em que perdemos tanto tempo em frente ao celular com um monte de besteiras (perdoem-me a sinceridade, mas a maioria são meras besteiras mesmo), e ficamos praticamente viciados em telas, gerenciar o tempo se torna cada vez mais essencial. Não se trata de abandonar o smartphone – até porque isso não é possível, mas sim de ter a disciplina necessária para ter tempo para tudo. É, se você é uma dessas pessoas que diz constantemente que não tem tempo, pratique uma gerência de tempo – uma questão de hábito – e você verá como o tempo irá aparecer. Disciplina de estudos é fundamental para o sucesso acadêmico.
Referência
Deese, James; Deese, Ellen K. Como estudar. 14.ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1990.