O filme Sociedade dos Poetas Mortos, de 1989, acompanha o professor de inglês John Keating (Robin Williams) e seus alunos em uma conservadora escola preparatória para jovens, a Welton Academy. Na história, os jovens, inspirados por Keating, passam a ter uma nova visão da vida e da literatura.

Conhecendo o roteiro, não pude deixar de pensar nos impactos que um psicólogo escolar poderia ter nesse cenário. Será que a história seria diferente? Teríamos outro final? Como não podemos mudar o que aconteceu, me resta escrever para vocês sobre as possibilidades da atuação de um psicólogo escolar na Welton Academy.

Ao longo do filme, podemos observar questões centrais para a psicologia escolar, como o desenvolvimento emocional, a pressão social, a importância da expressão e o papel do educador na formação integral dos estudantes. Por meio da figura do professor, o filme nos incita a refletir sobre como o ambiente escolar pode ser um espaço de transformação e crescimento, mas também de conflitos e desafios.

Regras rígidas

O professor cai de paraquedas em uma escola tradicional e conservadora em que os alunos precisam seguir regras rígidas e atender às expectativas de suas famílias. Para tornar o aprendizado e os momentos mais leves, Keating incentiva seus alunos a pensarem por si mesmos e a valorizarem a expressão individual.

Com o conceito de carpe diem (aproveite o dia em latim), os jovens se sentem encorajados a perseguirem seus sonhos com autonomia. Essa preocupação e o incentivo à autonomia e à criatividade estão alinhados com os princípios da psicologia escolar, que defende a importância de um ambiente educacional que promova não apenas o aprendizado, mas também o desenvolvimento emocional e social.

Inspirados pelo professor, um grupo de meninos trazem de volta a Sociedade dos Poetas Mortos como um espaço para compartilharem a literatura e suas paixões. Um lugar seguro para expressão artística que todos buscavam, simbolizando a procura por liberdade, expressão criativa e individualidade em um ambiente opressivo.

No entanto, o filme também mostra os conflitos e os desafios que surgem quando os alunos tentam romper com as normas estabelecidas. Neil Perry (Robert Sean Leonard), um dos estudantes mais talentosos e idealistas, enfrenta uma crise emocional ao se ver dividido entre sua paixão pela atuação e as demandas rígidas de seu pai, que planeja sua carreira sem considerar seus desejos. E é aqui e com esse personagem que a psicologia escolar poderia ter um papel transformador em sua vida, oferecendo suporte emocional e ajudando os alunos a lidarem com o estresse.

Campo

A psicologia escolar é um campo da psicologia que se dedica ao estudo e à intervenção nos processos de desenvolvimento, aprendizagem e comportamento no contexto educacional. Seu objetivo principal é promover o bem-estar psicológico e o sucesso acadêmico de estudantes, além de apoiar professores, famílias e a comunidade escolar como um todo.

A psicologia escolar surgiu e foi se consolidando com contribuições de psicólogos como Wilhelm Wundt e William James, que estudaram processos mentais e comportamentais, abrindo caminho para a aplicação da psicologia na educação. Ou Alfred Binet, na França, que desenvolveu os primeiros testes de inteligência que foram usados para identificar crianças que precisavam de apoio educacional especial.

Nas décadas de 1950 a 1960, a psicologia escolar se consolidou como uma área específica, com a criação de associações profissionais e a definição de práticas voltadas para o ambiente educacional. Já no Brasil, a psicologia escolar começou a se desenvolver na década de 1960, com a regulamentação da profissão de psicólogo e a inserção desses profissionais nas escolas, atuando em diversas frentes, sempre com foco no desenvolvimento integral dos estudantes e na melhoria do ambiente educacional.

Funções

Na promoção da aprendizagem, esse profissional busca identificar e intervir em dificuldades de aprendizagem, desenvolver estratégias para melhorar o desempenho acadêmico e trabalhar com métodos de ensino que respeitem as diferenças individuais. No apoio ao desenvolvimento emocional e social, busca promover habilidades socioemocionais, como empatia, resiliência e autoconhecimento, prevenir e intervir em situações de bullying, violência ou conflitos interpessoais e ajudar no manejo de questões como ansiedade, estresse e baixa autoestima.

Atuando na orientação vocacional, irá auxiliar estudantes na escolha de carreiras e projetos de vida, além de trabalhar o autoconhecimento e planejamento de futuro. Sendo uma área muito vasta e diversa, também podemos incluir o trabalho com os professores, oferecendo formação e suporte para lidar com desafios em sala de aula, além de desenvolver práticas pedagógicas inclusivas e eficazes.

Pressão

Neil Perry é um jovem brilhante e idealista, que encontra na atuação uma forma de se expressar. No entanto, seu pai, Mr. Perry (Kurtwood Smith), é uma figura autoritária e controladora que tem planos rígidos para o futuro do filho, insistindo que Neil siga uma carreira em medicina, ignorando completamente os interesses e talentos do filho, não vendo a atuação como uma carreira viável ou respeitável.

Quando Neil consegue um papel principal na peça Sonho de uma noite de verão, ele esconde isso do pai, temendo sua reação. Ao descobrir, Mr. Perry obriga Neil a abandonar a peça. O papel da psicologia escolar seria de mediar uma conversa entre ambos, promovendo um diálogo aberto e compreensivo, ajudando o pai a entender a importância de apoiar os interesses e talentos de seu filho e como a pressão excessiva pode ser prejudicial.

A pressão constante e a falta de apoio do pai levam o jovem a um estado de desespero e desesperança em que se sente preso, incapaz de seguir seus sonhos e sem espaço para expressar sua verdadeira identidade. A cena em que Neil tira a própria vida é um momento devastador que ressalta as consequências trágicas da falta de comunicação e de apoio emocional.

A presença de um psicólogo poderia ter sido crucial na prevenção dessa tragédia. O profissional poderia identificar os sinais em Neil, oferecendo suporte emocional imediato e intervindo junto à família e à escola para garantir que ele recebesse o apoio necessário. Além disso, o psicólogo poderia implementar programas de prevenção ao suicídio e de promoção da saúde mental na escola.

Podemos ver o impacto que a psicologia escolar causaria em outros personagens, como Todd Anderson (Ethan Hawke), um aluno extremamente tímido e inseguro, que enfrenta dificuldades para se expressar. O psicólogo poderia trabalhar com Todd, utilizando técnicas para ajudá-lo a superar sua timidez e construir autoconfiança, o incentivando a socializar e interagir mais.

Suporte

A psicologia escolar também tem impacto para os professores, oferecendo suporte, ferramentas e estratégias que podem melhorar a prática pedagógica, o bem-estar emocional e a capacidade de lidar com os desafios do ambiente educacional. No filme que estamos analisando, a presença de um psicólogo escolar poderia ter ajudado não apenas os alunos (como vimos acima), mas também os professores, especialmente o professor John Keating, que, mesmo com sua abordagem inspiradora, enfrentou resistência e conflitos dentro da escola.

Um psicólogo poderia oferecer suporte emocional aos professores, ajudando-os a lidarem com o estresse, a frustração e a sensação de desvalorização, trabalhando técnicas de gestão do estresse e prevenção de burnout, promovendo um ambiente de trabalho mais saudável e equilibrado.

Ele também poderia atuar como um mediador entre os professores e a administração, facilitando o diálogo e a compreensão mútua. Ele poderia ajudar a escola a encontrar um equilíbrio entre métodos tradicionais e abordagens inovadoras, promovendo um ambiente mais colaborativo e menos conflituoso. Ainda existiria a possibilidade de oferecer treinamentos e aulas de capacitação para os professores, a fim de identificar sinais de problemas emocionais nos alunos, como depressão, ansiedade ou conflitos familiares.

Prevenção

O filme nos convida a refletir sobre o papel que a psicologia escolar poderia desempenhar em cenários rígidos como o da Welton Academy. A presença de um psicólogo escolar poderia ter oferecido suporte emocional e estratégias para lidar com as pressões enfrentadas pelos alunos, além de auxiliar os professores. A psicologia escolar não apenas teria ajudado a prevenir tragédias, mas também teria promovido um ambiente acolhedor, inclusivo e equilibrado, onde a expressão individual e o desenvolvimento integral dos estudantes fossem valorizados.

Embora não possamos mudar o desfecho do filme, ele nos serve como um poderoso lembrete da importância de integrar a psicologia escolar no cotidiano das instituições de ensino. Você se interessa por essa área de atuação da psicologia e quer saber mais? Confira o livro Abordagens cognitivo-comportamentais no contexto escolar (Juliana Mendes Alves), disponível no site da Sinopsys Editora.