Criatividade, expressividade e comunicação são práticas essenciais ao bom funcionamento da saúde mental. Nesse contexto, a arteterapia, por meio de suas ações criativas, assegura um canal de autonomia expressiva, diálogo interno e externo e tradução através de imagens e cores de situações emocionais.

Nesta entrevista, o assunto é aprofundado pela psicóloga, arteterapeuta e artista plástica Angela Philippini. Ela é mestra em criatividade pela Universidade de Santiago de Compostela (Espanha) e doutora em ecologia social pelo Programa EICOS da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Entre seus livros publicados, estão ‘Imaginário em arteterapia: a vez e a voz dos personagens’ e ‘Linguagens e materiais expressivos em arteterapia: uso, indicações e propriedades’, ambos publicados pela Wak Editora.

O que é e como funciona a arteterapia?

Arteterapia é uma metodologia terapêutica que utiliza a mediação de modalidades plásticas e expressivas, priorizando canais de comunicação não verbal. As estratégias são construídas considerando especificidade, cronologia e condições apresentadas. O percurso arteterapêutico ativa de forma importante o processo criativo de cada pessoa que é acompanhada, favorecendo o diálogo interno construído a partir de imagens e cores.

Assim forma-se um documentário psíquico perene, abrangendo as produções plásticas ao longo do acompanhamento, em que será possível voltar sempre que necessário, uma vez que configuram um importante mapa psíquico. Cada pessoa acompanhada tem uma singularidade criativa que será considerada e para a qual serão construídas estratégias arteterapêuticas específicas, com modalidades plásticas e atividades expressivas que melhor se adaptem a essa condição.

Quais os benefícios da arteterapia para a saúde mental?

Criatividade, expressividade e comunicação são práticas essenciais ao bom funcionamento de nossa saúde mental. Nesse contexto, a arteterapia, por meio de suas ações criativas, assegura um canal de autonomia expressiva, diálogo interno e externo e tradução através de imagens e cores de situações emocionais que podem ser vividas de forma muito desconfortável e aflitiva.

Para o fortalecimento de núcleos saudáveis de nossa psique, é essencial o exercício da imaginação, a possibilidade de criar alternativas a partir do que é imaginado, e o prazer e fortalecimento emocional de acessar, reconhecer e utilizar as próprias potências criativas na construção de bem-estar e qualidade de vida. Esses são benefícios amplamente comprovados da prática arteterapêutica e acessíveis com facilidade em revisões bibliográficas sobre o tema.

Quais as psicopatologias que podem ser tratadas com o auxílio da arteterapia?

A metodologia arteterapêutica tem estratégias de ampla elegibilidade para cronologias diversas, abrangendo infância, adolescência, vida adulta e velhice. Assim pode tratar de forma adequada uma ampla gama de transtornos e disfunções. No entanto, vale destacar sua produtividade e efetivos resultados benéficos em transtornos psíquicos como ansiedade, depressão e distúrbios psicossomáticos.

De que forma a arteterapia contribui para pacientes com doenças neurodegenerativas como o Alzheimer?

As atividades arteterapêuticas têm aplicabilidades gerais e específicas, considerando a necessidade de adequação a públicos, contextos e cronologias diversas. Em complemento, deve-se considerar também que cada modalidade plástica e expressiva ativa determinados aspectos da modulação cerebral. Existem, desde 1995, estudos voltados para essas características da prática arteterapêutica, quando foi iniciada uma pesquisa com um grupo de arteterapeutas de diferentes países e contextos profissionais coordenados pela arteterapeuta Noah Hass-Cohen.

Esse grupo de pesquisadores investigou e mapeou modulações cerebrais causadas por diferentes ações e modalidades plásticas e expressivas utilizadas no contexto das estratégias arteterapêuticas. Em referência às disfunções neurodegenerativas, em particular nos casos de Alzheimer, nas fases iniciais ou em fases com danos moderados, os benefícios terapêuticos são efetivos. Nesse contexto, destacam-se estudos sobre a modalidade expressiva da colagem, que, operacionalmente, como linguagem plástica e expressiva, aciona simultaneamente várias áreas do cérebro, o que traz uma importante e produtiva estimulação.