Mágico. Gênio. Intuitivo. Original. Simplificador. Criativo. Estes são alguns dos termos que definem quem foi Richard Feynman, um físico teórico com formação no famoso MIT (Massachusetts Institute of Technology) e com PhD na não menos famosa Universidade de Princeton, em Nova Jersey, ambos nos EUA.
Sua personalidade fascinante e conflitante – de quem se entediou com a Física, mas participou da equipe que construiu a primeira bomba atômica, que gostava de andar com prostitutas e frequentava bares de striptease, se casou três vezes e ganhou um prêmio Nobel da Física por seu trabalho sobre Eletrodinâmica Quântica, além de explicar para o público leigo, diante das câmeras, o desastre do ônibus espacial Challenger – só tem comparação com sua capacidade sem igual de explicar, em termos simples, conceitos complexos, tornando acessível a linguagem físico-matemática para muita gente, incluindo seus alunos de graduação.
A história
Para alguém que começou a estudar cálculo diferencial por conta própria aos treze anos de idade, não espanta que tenha criado uma técnica de estudo que ficou conhecida mundialmente como “Técnica Feynman de Aprendizagem Rápida”. Segundo ele próprio conta, quando estava na Graduação, Feynman recebeu um “presente” de seu professor de Física. O professor disse que ele falava demais em sala de aula, por estar entediado, e lhe deu um livro sobre Cálculo Avançado, dizendo: “Vá lá pra atrás da sala, no canto, e estude este livro, e quando você souber tudo o que está nele, poderá falar novamente”. Pois foi o que Feynman fez, e enquanto os demais alunos estavam na aula regular, ele ficou lendo o livro. Durante os dias de leitura do livro que Feynman começou a desenhar sua técnica de aprendizagem.
A ideia, portanto, da técnica, é aprender ou rever um conceito rapidamente, explicando-o em linguagem simples e de fácil entendimento.
A Técnica
A técnica Feynman consiste em quatro passos simples, mas que requerem que o estudante tenha autodisciplina. Na verdade, o que Feynman criou foi um processo de criação de mapas mentais, ou seja, uma forma de explicar como algo funciona.
- Escolha e estude assunto ou conceito
- Escreva o tópico escolhido no topo de uma página. Pode ser qualquer conceito ou ideia de interesse
- Anote tudo o que sabe sobre este tópico e adicione sempre que descobrir algo novo
- Utilize vocabulário o mais básico possível e faça conexões de fácil entendimento
- Tente identificar os pontos nos quais sua compreensão é falha
- Se necessário, desconstrua ou reconstrua seu conhecimento sobre o conceito
- Ensine ou finja ensinar a um estudante ou uma criança
- Explique o tópico a alguém, como se estivesse ensinando – mesmo este alguém seja imaginário – de forma simples e clara, de forma que até uma criança entenda
- Não limite sua explicação a uma simples definição: construa exemplos que coloquem o conceito em ação
- Identifique falhas na própria compreensão e busque suas fontes de consulta
- Ao explicar para o outro o conteúdo, poderá perceber falhas ou “buracos” na própria compreensão
- Se achar que sua explicação contém instabilidades, procure identificá-las
- Revisite o conteúdo e suas fontes sobre o tópico até que consiga sanar tais falhas
- Organize seu trabalho. Revise e simplifique ao máximo
- Revisite seu trabalho, simplifique ao máximo a linguagem, ilustre com exemplos, conecte conceitos, e faça analogias – tudo para tornar a compreensão a mais simples possível
- Leia seu trabalho em voz alta, e caso algo pareça confuso, esteja com muitos termos técnicos ou linguagem confusa, reveja até conseguir a melhor explicação, até o entendimento total do conceito
Considerações sobre a Técnica
Seja para uso próprio, seja para ensinar como técnica de estudo, a técnica Feynman possui vários pontos positivos. Vamos citar alguns:
- Criação de Modelos Mentais – é um dos aspectos mais relevantes. Modelos mentais guiam a percepção e o comportamento, proporcionando uma “caixa de ferramentas” mental de como solucionar problemas e tomar decisões.
- Aumento da Retenção e Recuperação – ao praticar a técnica sobre um conceito ou assunto, o fato de visitar e revisitar o conteúdo, questionar seu conhecimento e fingir (ou de fato) ensinar a alguém, faz com que a retenção e recuperação do conteúdo fiquem otimizadas.
- Motivação – o uso da técnica pode motivar à sua generalização para qualquer conceito ou assunto pretendido, após se verificar o sucesso da primeira empreitada, o que pode contribuir para o hábito de se usar a técnica.
- Desafio – usar a técnica é um desafio. Primeiro, em termos da autodisciplina necessária para praticá-la. Segundo, por exigir do aluno o hábito de pesquisa. E terceiro, pelo compromisso de somente considerar a tarefa concluída após o total entendimento do conceito. O desafio pode aumentar a motivação para a utilização da técnica, até que isso vire um hábito.
- Possibilidade de Reorganização – ao reorganizar um conhecimento, é possível livrar-se de pré-conceitos e de informações falsas, o que possibilita um novo entendimento e uma nova visão sobre o conceito ou assunto.
- Aprendizagem Profunda – o uso correto da técnica garante uma aprendizagem profunda sobre o conceito ou assunto, que vai muito além de meramente saber o nome ou algumas características.
Possíveis aplicações no ambiente escolar
Um dos grandes desafios da tarefa de ensino-aprendizagem, além do próprio conteúdo a ser aprendido, é como aprender esse conteúdo. Aprender um conteúdo de forma mecânica (decorar, por exemplo) é uma das formas, mas não garante retenção de longo prazo e muito menos aplicabilidade em situações diversas. Como estudar, nesse contexto, é tão importante quanto o conteúdo a ser estudado.
Ensinar a técnica Feynman pode fomentar a criação de um hábito de estudo eficaz, que irá aumentar em muito a compreensão, a retenção e a recuperação do material aprendido. Isso, claramente, fica de fácil aplicação no Ensino Fundamental II e no Ensino Médio.
No Ensino Fundamental I e na Pré-escola, a aplicação do método, a meu ver, teria que ser adaptada e orientada pelo docente, a não ser em situações na qual se tivesse uma turma já acostumada a aplicação de técnicas de estudo e tivesse facilidade de aprender novas técnicas. A adaptação é fundamental na Pré-escola, principalmente, pois ainda não há ou não está plenamente desenvolvida a capacidade de raciocínio abstrato. Neste caso, fazer um processo adaptado, sem o recurso da escrita, com menos passos e com objetos concretos pode auxiliar no desenvolvimento do hábito de pesquisa, na formação de um pequeno cientista.
De uma forma ou de outra, o ensino da técnica para seus alunos pode fazer a diferença entre o aluno que não sabe como estudar, para aquele que não só sabe, mas aprendeu a aprender rapidamente, no melhor estilo metacognitivo. Pode ser que nem todos se adaptem ou tenham a autodisciplina necessária, mas fará toda a diferença para aqueles que se identificarem com a técnica.