Problematizar é uma premissa básica daquilo que entendemos como método científico. Em uma conceituação simples, uma aprendizagem baseada em problemas tem a possibilidade de transformar um “aluno-ouvinte” em um “aluno-cientista”.

Construtor do próprio conhecimento

Moran (2018) considera esta modalidade de aprendizagem como uma das mais interessantes entre as aprendizagens ativas, e não é sem razão: o estímulo à análise crítica e à investigação está entre os principais objetivos de qualquer educador que pretenda que seu aluno seja o próprio construtor de seu conhecimento.

Este método surgiu e se proliferou em Faculdades de Medicina, pois a análise de casos de pacientes proporciona uma rica fonte de informações a serem utilizadas para debate em grupos pequenos e com a orientação de professores-tutores (MATTAR, 2017).

Resumidamente, os alunos levantam questões e problemas acerca de uma temática, sob orientação do professor e, tanto individualmente, quanto em grupo, buscam interpretar de forma coerente e, claro, quais são as possíveis soluções (MORAN, 2018). Conhecida como ABProb (Aprendizagem Baseada em Problemas) aqui no Brasil, e como PBL (Problem-Based Learning) na sigla em inglês, a metodologia pressupõe a pesquisa das diversas causas possíveis para um problema e a(s) solução(ões) possível(is).

Mattar (2017), no entanto, frisa que o objetivo principal da metodologia não é a solução do problema “per si” – esta seria a função da técnica conhecida como resolução de problemas. A ABProb seria utilizada para que o aluno aprenda a aprender, ou seja, identifique quais são suas necessidades, aprenda com os demais membros do grupo e com os professores-tutores, e isso enquanto reúnem dados, entendem o problema, sintetizem as informações e as apliquem ao problema.

Fundamentos da ABProb

Os fundamentos apresentados a seguir foram relatados por Mattar (2017), com a devida adaptação para os propósitos deste artigo (o texto original é atribuído à educação médica).

  1. Aprendizagem em Grupos Pequenos – grupos de 7 a 8 alunos, com tutoria. Um dos alunos é designado para um grupo tutorial (um grupo geral da turma) diferente. Este grupo pode estudar em biblioteca, por exemplo.
  2. Facilitação por parte dos Professores – um tutor conduz o grupo tutorial e estabelece um equilíbrio entre o diálogo do tutorial e o feedback dos alunos, para garantir que as dúvidas sejam efetivamente atendidas para todos.
  3. Uso de Casos – um caso real é apresentado, para que os alunos investiguem e estudem, para o segundo tutorial. Hipóteses são levantadas antes mesmo do estudo, para estimular a utilização dos conhecimentos que já possuem.
  4. Objetivos de Aprendizagem – os casos, em si, não garantem o entendimento dos conceitos, portanto os objetivos garantem que os alunos abordem o conteúdo corretamente e identifiquem em si mesmos os pontos fortes e fracos em relação ao que está sendo estudado. Os objetivos são estabelecidos previamente, indicando o caminho a ser percorrido pelo estudante.

Fases da ABProb

Obviamente, a utilização da ABProb pressupõe um planejamento minucioso e treinamento específico, para que tanto os educadores quanto os alunos possam saber quais são os papeis e as expectativas de cada um dentro do método.

Por isso, Moran (2018, p. 16) relaciona três fases principais da metodologia (em relação à PBL utilizada pela Harvard Medical School – apud WETZEL, 1994):

  • FASE 1 – Identificação do(s) problemas – formulação de hipóteses – solicitação de dados adicionais – identificação de temas de aprendizagem – elaboração do cronograma de aprendizagem – estudo independente.
  • FASE 2 – Retorno ao problema – crítica e aplicação das novas informações – solicitação de dados adicionais – redefinição do problema – reformulação de hipóteses – identificação de novos temas de aprendizagem – anotação das fontes.
  • FASE 3 – Retorno ao processo – síntese de aprendizagem – avaliação.

Considerações sobre a metodologia

A ABProb torna-se mais interessante a partir da perspectiva interdisciplinar, no qual um mesmo caso pode ser abordado por diferentes disciplinas, cada um sob seu ponto de vista. O ideal é que haja tal integração com um mesmo tutor, para que essas diferentes disciplinas possam ser feitas a partir de uma perspectiva integrada, no que diz respeito à aprendizagem do aluno.

No entanto, mesmo que não haja tal possibilidade, a ideia básica da metodologia, ao ser aplicada no ambiente escolar, é a de proporcionar uma perspectiva de resolução de problemas em diferentes disciplinas (mesmo com a ressalva de Mattar a este respeito), na qual o aluno ativamente constrói seu aprendizado e sua capacidade de criar soluções para os problemas que lhe são apresentados. Esta perspectiva interdisciplinar, com diferentes professores em cada disciplina abordando o mesmo caso de estudo demanda uma ação coordenada da Coordenação Pedagógica junto aos professores, para que possam trabalhar no mesmo “timing” e a partir das mesmas premissas, embora com conteúdos diferentes.

A ABProb também pode ser trabalhada em curso à distância ou de forma remota, o que demanda um maior cuidado com o planejamento e com a condução do processo. Neste caso, deve-se tomar cuidado com o excesso de exposição online dos alunos, e o recomendado é que haja um equilíbrio entre suas ações on line e seu estudo e experimentações fora deste ambiente. Coordenar essas atividades on line e off line exigem um controle preciso, que demanda maior esforço dos tutores e da Coordenação Pedagógica da escola.

E MAIS…

Pontos positivos e negativos

A partir de uma experiência online relatada em seu livro, que procurou captar a percepção de alunos e tutores sobre a metodologia, Mattar (2017) relacionou os seguintes:

PONTOS POSITIVOSPONTOS NEGATIVOS
Flexibilidade de tempo e espaço.Ritmo pesado de trabalho on line, com muito dispêndio de tempo.
Profundidade e amplitude das informações disponibilizadas.Frustração com as dificuldades de se tomar decisões.
Alunos se sentem conectados e facilita tomarem decisões pelos chats.Repetição exagerada de informações pelos alunos.
Validações das avaliações sobre o caso geram segurança.Dificuldade de se seguir as discussões nos fóruns.
Experiências de Aprendizagem autênticas, com respostas detalhadas e incentivo ao trabalho.Falta de aprofundamento nas discussões.
Referências
MATTAR, João. Metodologias ativas: para a educação presencial, blended e a distância. São Paulo: Artesanato Educacional, 2017.
MORAN, José. Metodologias Ativas para uma Aprendizagem mais Profunda. In: BACICH, Lilian; MORAN, José (Orgs.). Metodologias Ativas para uma Educação Inovadora: uma abordagem teórico-prática. Porto Alegre: Penso, 2018.
NOEMI, Débora. Entenda o que é a Aprendizagem Baseada em Problemas. Disponível em: <https://escolasdisruptivas.com.br/metodologias-inovadoras/entenda-o-que-e-a-aprendizagem-baseada-em-problemas/>. Acesso em: 25/11/2020.