O processo de adoecer é cumulativo, isto é, vamos adoecendo gradualmente. Com isto, as doenças vão percorrendo um caminho de agravamento, que, uma vez identificado e entendido, vai nortear os tratamentos e mesmo o prognóstico. Uma situação é a pessoa estar com um forte resfriado (gravidade leve aguda), outra é ela estar em uma fila de transplante renal fazendo hemodiálise três vezes por semana para sobreviver (gravidade grave crônica).
Manifestação emocional
Em ambos os casos, a pessoa precisa de tratamento, porém os cuidados clínicos, a atenção dos técnicos, as preocupações dos entes queridos são totalmente diferentes. No primeiro caso citado, a pessoa em uma semana estará em equilíbrio novamente, sendo que, na outra situação, esse equilíbrio irá ser alcançado se o transplante ocorrer e, ainda assim, a pessoa terá eventualmente algumas restrições no seu modo de vida. É importante também considerar o tipo de manifestação emocional frequente em cada gravidade da doença.
Adoecer é um ato complexo, não só no aspecto da perda da saúde, mas também na execução de todo um código implícito que é imposto ao doente, pois o adoecer possui algumas características socialmente padronizadas que se manifestam durante o processo. Geralmente, o fato de estarmos em estado de “doença” nos remete a algumas figuras de linguagem que, por si só, denotam a atitude e o estado de espírito com o qual a vivenciamos, tais como: “colapso”, “cair doente”, “cair de cama”, “sofrer um baque”, “estar de molho”.
No início de um quadro patológico, a maioria das pessoas consegue alguma forma de ganhos secundários, mas, à medida que o tempo passa e a recuperação não ocorre como se espera, o doente vai sendo isolado e sua “imagem social” e sofre profundas transformações. O termo doente passa a ser utilizado como uma desqualificação social e não como uma condição física.
Perda de identidade
Algumas pessoas perdem a identidade para a doença, e a nomenclatura da doença se torna a referência da pessoa. Exemplo: “A paciente com câncer no fígado está chamando”.
Além das características representativas do processo de adoecer, há um ciclo de comportamento pelo qual passa a pessoa doente. O papel dele, como vários outros na sociedade, é regulado e codificado por determinadas expectativas de conduta e comportamento, que incluem privilégios, mas também obrigações exigidas pela família, cuidadores e demais pessoas que o rodeia. Na realidade, durante o processo de adoecer, não há muitas escolhas de comportamento e atitudes.
Quando a doença se instala, seja ela física ou emocional, é destacada a inserção das responsabilidades e das obrigações sociais do doente. Via de regra, há a atribuição da não capacidade de tomar conta de si. Apesar de o doente ficar em evidência e a dependência autorizar naturalmente os mimos, espera-se e cobra-se que o paciente colabore com o tratamento, que seja disciplinado, animado e que corresponda de forma afável e satisfatória ao envolvimento (e atenção) social; que procure e deseje cura e que cumpra as prescrições feitas e recebidas.
Processo doloroso
O paciente perde a liberdade de ir e vir e, também, enfrenta várias ordens de comando e de sugestões “do melhor” proceder para curar-se mais rápido. O continuum de desequilíbrio físico, ou a doença, é uma forma de “resolver” um conflito emocional/psicológico já existente.
Há casos em que a pessoa doente é forçada a parar de trabalhar, muitas vezes fica de cama, e o curso da vida é abruptamente interrompido. O fato de estar afastada das atividades cotidianas abre portas para a vivência de outro processo. Questões interiores que não tinham espaço de expressão começam a surgir e a ameaçar também a psique de quem está adoentado.
Ela então perde grande parte da máscara que todos vestimos socialmente e, assim, aparece a vergonha, o medo, a vulnerabilidade e a dependência. Muitas vezes, a privacidade é invadida por quem não desejamos, e a intimidade é escancarada.
Portanto, essa experiência negativa de estar doente abala a visão de mundo e os projetos futuros, podendo gerar ansiedade, medo e depressão e se instalar um clima de pessimismo e descrença, fazendo com que o processo de adoecer seja ainda mais doloroso.
Categorias da gravidade da doença
Terminais – fase onde todos os recursos possíveis e ao alcance da equipe médica e do paciente foram realizados, e não se identifica mais a possibilidade de reversibilidade da patologia, mas sim o agravamento deste transtorno. O prognóstico é muito desfavorável. A morte é esperada e está associada ao quadro grave da patologia desenvolvida. Nessa etapa, as reações costumam ser fortemente negativa, tendo fases de extrema angústia, depressão, revolta e, também, fases de barganha, abandono e conformismo.
Graves crônicas – Fase onde a pessoa está bastante debilitada, o quadro é preocupante. Os recursos disponíveis estão sendo usados, porém, geralmente, se faz necessária uma intervenção mais drástica, do tipo: cirurgia de alto risco, transplante ou procedimentos invasivos (químico). O empenho da equipe é que não se torne terminal, e sim que haja a reversibilidade do caso. Em geral, os pacientes reagem negativamente, tendo fases de inconformismo, negação, raiva, e fases de desolação, depressão e desesperança.
Graves agudas – Fase onde o inesperado se faz presente. A pessoa transita de um estado de equilíbrio para um de desequilíbrio intenso fisicamente. Podem configurar dentro dos quadros de AVC, um grave acidente de trânsito, ser alvejado por armas de fogo. Nessa fase as reações são múltiplas e indeterminadas que oscilam entre medo, insegurança, depressão, pânico, agressividade, revolta, descrença, negação, crises de choro, ansiedade.
Leves crônicas – Fase onde a pessoa apresenta algum desconforto ou transtorno físico que requer tratamento e supervisão constante, porém não configura ameaça à sua vida. Período também de reações múltiplas, como irritabilidade, descaso, provocações de crises, chantagem, tentativa de manipulação, tristeza, ansiedade.
Leves agudas – Fase onde a patologia é pouco representativa de preocupação, é algo leve e rápido. Mesmo tendo a característica de ser uma manifestação rápida, as reações passam por preocupação momentânea e superficial; tirar proveito da situação; descaso dos sintomas sentidos; desatenção a qualquer alteração orgânica e indiferença em relação à precaução.