Os meses de outubro e novembro foram marcadas pela atuação de duas campanhas distintas em seu público alvo, mas que convergiram ai analisar a temática. Estou falando dos movimentos de conscientização “Outubro rosa” e “Novembro azul”.

Criado na década de 1990 o “Outubro Rosa” é um movimento internacional que visa promover a conscientização para o controle do câncer de mama, bem como a divulgação de informações e a viabilização de maior acesso a serviços de diagnósticos, visando auxiliar na diminuição da mortalidade ligada a esta doença que, segundo o Ministério da Saúde, corresponde a 25% dos casos de câncer a cada ano, sendo 29% entre as mulheres brasileiras.

O “Novembro Azul” ocorre em cerca de 21 países anualmente e tem como seu objetivo norteador o alerta acerca da importância de prevenir e diagnosticar o câncer de próstata, que é um dos mais comuns e tem prevalência na população masculina com idade superior a 65 anos. Esta campanha almeja promover uma mudança de hábitos nos homens, estimulando e mostrando a importância da realização de exames e consultas rotineiras com o objetivo de manter uma rotina de cuidados com a saúde.

Modificação de crenças em relação ao diagnóstico

Apesar de serem campanhas com público alvo distintos elas procuram promover o cuidado e conscientização sobre o câncer. Que além de todo o aspecto biológico atrelado ao seu diagnóstico, traz também uma gama de estigmas, crenças e percepções distorcidas que podem prejudicar o paciente diagnosticado no seu engajamento em relação ao tratamento. Sendo fundamental o apoio psicológico diante deste momento.

A Terapia Cognitivo-Comportamental atuará na identificação e modificação de crenças em relação ao diagnóstico, trabalhando no suporte emocional e enfrentamento, procurando compreender as interpretações e sentimentos do paciente nesse momento. Mas antes de aprofundarmos nos aspectos psicológicos advindos desta condição de saúde vamos compreender um pouco do que ela se trata.

A didática do câncer

Há um censo comum que diz que o “câncer resulta da raiva e da tristeza guardada e acumulada”. Na literatura médica, o câncer é a nomenclatura referente a um conjunto de mais de 100 doenças que possuem em comum o crescimento desordenado de células em tecidos e órgãos do nosso corpo. E esse rápido crescimento formam os “tumores” que podem migrar para diferentes regiões. Esses tumores podem ser benignos ou malignos. Os benignos não manifestam grandes riscos à saúde, e geram pouco ou nenhum impacto no cotidiano dos indivíduos. Existem também os tumores malignos, que são mais agressivos e multiplicam-se rapidamente, possuindo a capacidade de atingir outras regiões além da de origem. A cura para esse tipo de tumor depende bastante do diagnóstico precoce e do tratamento adotado.

No cotidiano, podemos ouvir falar que o câncer é consequência de sentimentos que não expressamos ou que não conseguimos lidar, exemplos deles são a raiva, a tristeza e a mágoa. Esse tipo de informação além de não ser verdadeira, pois a repressão emocional de forma isolada não é capaz de gerar a doença, pode gerar uma grande culpa em quem foi diagnosticado.

O que sabemos hoje é que as causas do câncer estão relacionadas a variados fatores, dentre eles os genéticos (histórico familiar) e os ambientais (hábitos de vida). Tratando-se de uma doença ligada ao estilo de vida de cada indivíduo, sendo bastante importante o desenvolvimento de hábitos saudáveis, tanto para sua prevenção quanto para o seu tratamento.

Impactos do diagnostico

São inúmeros os impactos na qualidade de vida de uma pessoa diagnosticada que podem ir desde os sintomas até os efeitos do tratamento realizado, como dores, fadiga e enjoos, levando em consideração também fatores indiretos, que afetam significativamente o manejo do tratamento, como exemplo as interpretações feitas do diagnóstico, que pode propiciar o desenvolvimento de sentimentos de ansiedade, tristeza, culpa e raiva dependendo da perspectiva adotada pelo paciente.

Muitas vezes, o diagnóstico carrega consigo um forte estigma de “sentença de morte” fazendo com que o indivíduo experiencie um constante aumento de sua ansiedade e o desenvolvimento de um quadro depressivo.

Na Terapia Cognitivo-Comportamental, um dos fatores norteadores para o tratamento é trabalhar a forma como o paciente interpreta o que está acontecendo com ele, que sentimento ele está dando para esse momento vivido, analisando e refletindo como essas percepções tem impactado emocionalmente e no comportamento em seu cotidiano.

Uma postura de engajamento referente ao diagnostico, auxilia em vários fatores que podem ir desde a uma busca de informações, observação de opções de tratamento, procura de ajuda e transformação de hábitos e atitudes. E ela pode ser desenvolvida no processo psicoterápico.

Entendimento importante

O aspecto de como o diagnóstico é enfrentado pela pessoa e em que área ele impacta mais significativamente em cada indivíduo deve ser analisado com cautela pelo psicólogo.

Podemos descrever alguns exemplos já avaliados: em pacientes muito ativos que começam a sentir a fadiga devido ao tratamento quimioterápico, pode trazer uma percepção negativa, de incomodo aos que estão ao seu redor, desencadeando, muitas vezes, variados pensamentos distorcidos, como a catastrofização, imaginando o pior cenário diante daquela situação, a atenção seletiva, direcionando o foco para aspectos negativos e desconsiderando todo o resto, e outras distorções cognitivas que podem acompanhar o cotidiano de uma pessoa diagnosticada com câncer.

A análise e mudança desses pensamentos e crenças, tanto da doença quanto do tratamento são pontos essenciais no trabalho da Terapia Cognitivo-Comportamental. Os pensamentos distorcidos juntos com as emoções advindas deles, dificultam o engajamento e adesão ao mesmo. É importante que, mesmo diante de todos os obstáculos, sofrimento e estigmas, possa ser desenvolvido a promoção, o incentivo e a adoção de uma postura ativa na superação da doença, pois auxiliará na evitação de quadros de depressão, ansiedade e estresse, bem como possibilitará tornar todo o processo de tratamento mais responsivo.

Relaxar pode ajudar

A aplicação de técnicas de relaxamento pode auxiliar fortemente na diminuição de uma carga elevada de estresse, e no desenvolvimento de consciência e manejo sobre os sentimentos e pensamentos gerados por esse contexto, trazendo melhoras em relação a ansiedade, medo e tristeza. O convite de familiares e pessoas próximas também é uma boa estratégia no tratamento, em que por meio da psicoeducação das pessoas do convívio é possível ampliar a rede de apoio do paciente indo além dos profissionais de saúde.

De maneira geral, podemos observar que o câncer é uma doença que afeta não só fisicamente, ele também interfere nas suas emoções, crenças e percepções do mundo que construímos. Podendo ser perceptível o questionamento de vários valores e crenças ao receber o diagnóstico. É fundamental o acolhimento e consideração do sofrimento que esse diagnóstico pode gerar na vida de cada um. É importante procurar desenvolver modos de enfrentamento possibilitando uma postura ativa e resiliente diante deste cenário. E para que isso aconteça de maneira sólida é preciso dialogo, informação, uma boa rede de apoio e um bom suporte psicológico.

E MAIS…

Impacto psicológico e emocional

O câncer traz um grande peso para que convive com ele, tanto para o paciente, como para as pessoas próximas que convivem com ele.   Veja um pequeno exemplo de que a maneira como a situação é encarada, pode influencia significativamente no tratamento da doença:

Diagnóstico de Câncer  PensamentoEmoçõesComportamento
Paciente 1“Eu não vou resistir Tristeza/ angústiaEvitar o tratamento por medo 
Paciente 2Não era o que eu esperava, mas preciso enfrentar essa situaçãoTristeza/ esperançaComprometimento com o tratamento