Os aplicativos de paquera nunca estiveram tão em alta. São mais de 1.500 apps de relacionamento em todo o mundo em um mercado que está sempre aquecido com novidades. Com o confinamento doméstico, muita gente solteira e casada foi experimentar as plataformas digitais como meio para conhecerem novos parceiros remotamente. A quantidade de swipes (o famoso arrastar pra lá e pra cá) cresceu vertiginosamente, assim como aumentaram os casos de ansiedade, depressão e transtornos de humor. Afinal, qual o impacto deste comportamento compulsivo de dar likes e dislikes incessantemente para a nossa saúde mental? Por que está cada vez mais difícil estabelecer laços duradouros com os crushes?
O problema é que flertar on line consome uma energia absurda, pois exige um esforço para manter os papos interessantes dentro de um cenário onde muitos indivíduos desejam apenas inflar o próprio ego através de matchs. “Isso se deve ao fato de que a maioria das pessoas não quer de fato desenvolver uma relação, mas apenas se sentir desejada”, comenta a Mestre e Doutora em Psicologia Clínica, Adriana Nunan.
Exaustão virtual
O uso excessivo dos apps pode causar os sentimentos similares aos da síndrome de Burnout, como o esgotamento físico e mental, além de deixar as pessoas deprimidas por se sentirem incapazes de construir relações mais duradouras. Este fenômeno é chamado de “dating Burnout” e, claro, já existia antes da pandemia, mas se agravou com a exaustão entre os usuários que perderam a conta de quantos likes e dislikes andam dando nos celulares.
Para os corajosos que estão nessa tarefa de buscar um parceiro na Internet, não basta criar um perfil bacana e ver se dá match. O filme “Amor garantido” retrata bem a jornada de um jovem que chegou a marcar 1.000 encontros na tentativa de encontrar um amor. Na verdade, o grande desafio para os solteiros é manter uma conversa que ultrapasse o famoso “Oi, tudo bem?”. É preciso reaprender a manter aquela conversa gostosa em um bar, a se interessar de verdade pelo outro.
“As pessoas estão tão centradas em si mesmas que não conseguem demonstrar um interesse genuíno pelo outro. Para estabelecer uma conversa você precisa trocar com o outro, se abrir, e nem todos são capazes, ou estão dispostos, a fazer isso”, destaca Adriana. “O importante é evitar a idealização sobre o novo relacionamento. Conduzir conversas leves e deixar a comunicação fluir sem cobranças são dicas para se construir uma relação de longo prazo”, conclui.
Mais consciência do que desejamos
Na verdade, o isolamento social imposto a todos em 2020 forçou muita gente a repensar o que realmente precisa em suas vidas. Vivemos um momento de muitas incertezas e adaptar-se ao “novo normal” é um desafio para todos nós. Apesar disto, o estudo “Match’s 2020 Singles in America” sugere que há pelo menos uma mudança positiva no cenário de namoro que aconteceu graças à Covid-19: a sociedade está mais consciente sobre o que desejam em um relacionamento.
Estabelecer vínculos afetivos saudáveis dá trabalho. Você precisa ter tempo para cultivar os afetos, acreditar no recomeço, dedicar-se para conhecer novas pessoas. O livro “Relacionamentos Amorosos na Era Digital” (Editora dos Editores) nos mostra que o problema não é a tecnologia em si, mas o uso que fazemos dela. O segredo está em aprender a usar os aplicativos para evitar o “dating Burnout”.
Detox das redes sociais
Por outro lado, há quem escolheu fazer um detox das redes sociais por um tempo e definir 2020 como um ano sabático para o amor. Uma das sugestões de especialistas é restringir a um ou dois apps no máximo. Ser bombardeado de mensagens ao longo do dia só aumenta a nossa ansiedade por encontrar alguém. Quanto mais opções temos, mais tempo necessitamos para gerenciar tudo isso. O processo é realmente desgastante, especialmente depois de uma longa quarentena. Adriana sugere ainda se limitar a olhar somente dez perfis por vez. “Há estudos que mostram que, a partir do décimo, não prestamos mais atenção no que estamos fazendo. Dê um tempo antes de continuar”, destaca.
O comportamento dos usuários em números
Uma pesquisa do aplicativo Happn realizada em agosto de 2020 mostra que 60% dos usuários passam várias horas por dia conectados e 78,4% utilizam mais de um aplicativo simultaneamente. Dados demonstram que 81,4% passam mais tempo curtindo os outros perfis do que conversando com os crushes e 78,4% afirmaram que usam vários apps de paquera ao mesmo tempo. Cerca de 70% dos usuários disseram sentir ansiedade ou que estão perdendo algo quando não estão conectados a um app de relacionamento.