Não é preciso muito para perceber que as pessoas querem ser felizes. Afinal, elas buscam pela felicidade o tempo todo: há indivíduos que passam horas gastando o que não têm no shopping do bairro. Outros preferem ir até o boteco da esquina, virar várias doses de cachaça barata e o bafo de cana que pague a conta. Isso sem falar nos nervosos digitais, loucos pelo match do dia.
São cidadãos que, por achar que a satisfação provém do lado de fora de si, iniciam uma busca ininterrupta em direção à próxima aquisição que fará com que o seu coração e os seus sintomas se acalmem. Neste sentido, como o sentimento de preenchimento não dura, sempre precisam de um produto novo. Sempre precisam de mais um gole. Sempre precisam de mais um crush.
Possibilidade de plenitude
Seria o fim da possibilidade de plenitude? Longe disso. Para a psicanalista que deu a largada inicial em direção ao estudo dos fenômenos mentais que ocorrem nos primeiros anos de vida do ser humano, Melanie Klein, as pessoas podem, sim, alcançar a felicidade e viver de maneira plena. Entretanto, para que isto ocorra, um determinado processo psíquico deve acontecer.
Na visão da estudiosa, a criança pequena possui uma percepção particular a respeito de sua mãe e, consequentemente, dos outros ao seu redor. Caso a genitora a gratifique e dê aquilo que ela deseja, será percebida pela psique enquanto mãe boa. Todavia, caso esta senhora não faça o que a cria anseia, frustrando as suas aspirações, será tida como mãe má e não se fala mais nisso.
Aparelho psíquico
Sendo assim, à medida que o aparelho psíquico se desenvolve ao longo dos anos, o miniadulto vai ganhando progressivamente recursos psicológicos para analisar e sentir o ambiente com um senso de realidade cada vez mais apurado. Deste modo, a mãe boa e mãe má, que antes estavam separadas uma da outra, começam a se unir, formando uma unidade chamada de objeto total.
Uma vez alcançado este estágio de percepção inteiriça do símbolo feminino, aquele infante que conseguir preservar as características positivas desta imagem, salvaguardando-as dos perigos que provém dos seus próprios ataques sádicos carregados de inveja primitiva, terá à disposição um leque de qualidades para que ele se identifique e firme a sua identidade enquanto sujeito.
Reparar a mãe
“Ah, Renan. A minha infância foi um desastre! Dá tempo de reparar a mãe que habita em mim?”. É claro que sim. Caso não veja nada de positivo nesta senhora que um dia carregou você no colo, experimente iniciar o processo de cura em direção à bem-aventurança introjetando no centro do peito a imagem trazida na frase anterior. Verá como será mais fácil sentir-se grato pela vida.
“Eu não conheci a minha mãe. E agora? Estou em um beco sem saída?”. Jamais. Ainda que o indivíduo homem não tenha vivenciado experiências junto à sua mãe biológica, o psiquismo de quem fez o papel de cuidador costuma transpor o papel designado pela maternidade por conta de um mecanismo chamado de transferência. Logo, reverencie esta pessoa sempre que puder.
O que acontece?
“Sou muito próximo da minha mãe, mas não sou feliz. O que acontece?”. Muitas vezes, a mente cria adoração absoluta para encobrir emoções altamente negativas. Para revelar onde foi parar este aspecto da sua madre psíquica, observe o que o incomoda nas pessoas com quem convive. Esta faceta que irrita nos outros é justamente a sua mãe projetada. Faça já as pazes com ela.
“Não sinto nada em relação à minha mãe. Ela é indiferente para mim”. Será? É bem comum que os indivíduos usem um outro artifício para lidar com os problemas relacionados ao feminino: a repressão. Como uma panela de pressão prestes a explodir, atente-se a ela caso comece a ter rompantes de raiva por aí, trazendo à mente imagens positivas para prevenir o matricídio.
“A minha relação com a minha mãe é bem normal. Nem amigos, nem inimigos”. Bom para você. Sendo a capacidade de desiludir papel indispensável daquela que dá à luz, quanto mais a prole percebe os limites impostos como forma de amor, mais aceitará o seu lugar no papel de filho e, consequentemente, de sujeito. Se esta for a sua situação, apenas olhe para trás e agradeça.
Por fim, se os parágrafos anteriores não conseguiram retratar como se dá o relacionamento com a sua mãe e o que fazer para melhorá-lo, apenas aceite o sentido da frase: “por trás de uma grande felicidade, existe uma grande feminilidade”.
Assim, se você realmente quiser ser feliz, aplique esta sabedoria, compre menos, beba com moderação e, para o crush, não seja fácil não.