Um trabalho inédito realizado pelo psiquiatra e cientista Isac Karniol e pela psicóloga e psicanalista Patrícia Karniol busca humanizar as terapias psiquiátricas focando não apenas na razão científica, mas levando em conta a “subjetividade” – os sentimentos e as emoções dos pacientes. Para atingir esse novo patamar, os estudiosos se utilizam da arte como linguagem que possibilita a expressão do mundo interior.

Uma dessas experiências foi feita com o renomado artista plástico brasileiro Egas Francisco durante sessões de terapia descritas em detalhes no livro ‘O primordial no homem moderno’, da Zagodoni Editora. A publicação mostra como os especialistas auxiliaram no desenvolvimento do artista, em depressão profunda, na busca pelo primordial, “a energia básica da vida”.

“Ele vivenciava um vazio existencial e raramente se manifestava por palavras durante a terapia, mas por esboços e desenhos multicoloridos. Com isso, conseguiu reconstruir seu mundo emocional”, analisa Isac, professor titular do Departamento de Psicologia Médica e Psiquiatria da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

“A arte traz por meio de outras formas de linguagem as emoções e os sentimentos necessários para o ser humano continuar se desenvolvendo. Somente a razão desenvolvida não é suficiente para atingirmos novas evoluções”, completa Patrícia, especialista em psicanálise pela Universidade de São Paulo (USP).

A obra traz documentos inéditos dos cerca de 500 desenhos produzidos por Egas durante os dois anos de sessões de terapia. Todos nasceram da relação entre paciente e terapeuta. As produções feitas durante as sessões vêm carregadas de espontaneidade e diferenciam-se das obras elaboradas nos ateliês, onde a presença da razão é mais marcante.

Bullying

Outro exemplo desse tipo de abordagem está contido em outra obra da dupla de especialistas em conjunto com a pedagoga Robinéia da Costa Seraphim: ‘Bullying: quem são os alvos?’, da editora CRV. O livro traz a história de um adolescente do ensino público que sofria sistematicamente bullying na escola e tinha dificuldades de relacionamentos com os professores e colegas.

Por meio da interpretação de seus desenhos, a professora Rubinéia percebeu que podia estabelecer uma comunicação mais próxima com o aluno. Seus desenhos, que podem ser observados na obra, expressavam suas angústias particulares e muitas vezes até mesmo a morte.

“Com o sofrimento, ele chegou a planejar comprar uma arma para se vingar daqueles que o maltratavam”, ressalta Patrícia. O benefício obtido durante o tratamento foi evidente. “Ele voltou a estudar e se reconstituiu emocionalmente, conseguindo direcionar até mesmo sua vida profissional”, conclui a psicanalista.

A história do adolescente Seven (nome fictício), que teve a vida renovada pela ação da professora e dos especialistas, será contada também no documentário ‘Arte, ciência e um divã’, com lançamento previsto para breve.

Fichas técnicas

Título: O primordial no homem moderno

Autores: Isac G. Karniol e Patrícia S. L. Karniol, com esboços de Egas Francisco

Editora: Zagodoni Editora

Páginas: 187

Título: Bullying: quem são os alvos?

Autores: Robinéia da Costa Seraphim, Patrícia S. L. Karniol e Isac G. Karniol

Editora: CRV

Páginas: 98