Lesões do lobo frontal podem ser associadas ao comportamento antissocial ou psicopatia. Essa região do cérebro é essencial para o planejamento e execução de comportamentos aprendidos e intencionais, constituindo o local de muitas funções inibitórias.
Um caso notório do resultado desse tipo de lesão foi o acidente envolvendo o operário americano Phineas Gage, que trabalhava na construção de estradas de ferro, no século 19. Ele era considerado até então um homem equilibrado, responsável e habilidoso.
Um dia, durante uma explosão, Gage foi atingido por uma barra de ferro que transpassou seu cérebro, entrando pela face esquerda, abaixo da órbita, e saindo pelo topo da cabeça. Gage sobreviveu e dois meses após o acidente estava recuperado.
Transformação
A sua personalidade, entretanto, havia mudado completamente, transformando-se num homem de mau gênio, grosseiro, desrespeitoso com os colegas, incapaz de adequar-se às normais sociais. A partir daí ele não conseguiu manter vínculos afetivos e trabalhar como de costume.
Mais de um século depois, o caso foi investigado pelo premiado neurocientista português Antonio Damasio. Enquanto trabalhava na Universidade de Iowa, o neurocientista usou técnicas de visualização do cérebro para determinar a localização mais provável da lesão de Gage.
Sua equipe empregou um modelo tridimensional de um crânio humano médio. Esse protótipo foi “deformado” a partir de imagem computadorizada para adaptá-la às dimensões do crânio do operário americano.
Lobo frontal
Os estudos de Damasio levam a crer que um déficit do funcionamento do lobo frontal ventromedial poderia estar relacionado à personalidade antissocial.
Doença de Huntington, traumas e alguns tumores também podem levar à psicopatia. O quadro também pode surgir com a demência frontotemporal, em que ocorre degeneração de um ou de ambos os lobos frontais e temporais do cérebro.
Essa condição é caracterizada por alterações de comportamento, personalidade, conduta social e expressão verbal. A memoria geralmente está preservada nesses quadros, porém, esses pacientes começam a violar as regras sociais e passam a se comportar de forma socialmente inadequada.
Escolhas arriscadas
Em parceria com Damasio, o pesquisador Antoine Bechara, da Universidade de Southern California, descobriu o que acontece com o cérebro de pessoas com lesões na região ventromedial, núcleo localizado no hipotálamo. Essa área está associada a comportamento impulsivo, agressividade, jocosidade e inadequação social.
A região do cérebro é responsável pela escolha da resposta comportamental frente a estímulos arriscados, especialmente em situações sociais. Em seu estudo, Bechara demostrou que pacientes com lesões nessa área fazem escolhas arriscadas em um experimento que simula um jogo de azar.
Baralhos virtuais
O objetivo do jogo é ganhar o máximo de dinheiro. Os voluntários recebem baralhos virtuais de cartas na tela do computador. Cada baralho contém cartas que permitem uma recompensa ou uma perda.
Pacientes com disfunção região ventromedial escolheram resultados que geram altos ganhos imediatos, apesar de maiores perdas no futuro. Bechara e seus colegas explicam esses comportamentos a partir de uma explicação biológica.
Jogo simula tomada de decisão
O experimento de Bechara foi chamado de “jogo de Iowa”. Trata-se de uma tarefa psicológica criada para simular a tomada de decisão na prática e tem sido empregada por diversos pesquisadores ao redor do mundo.
A pesquisa permitiu, pela primeira vez, detectar a deficiência desses pacientes com disfunção na região ventromedial e investigar as causas de origem biológica para esse problema.