Os planos do neurocientista Rafael Yuste, da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, deram origem ao projeto BRAIN (Brain Research Through Advancing Innovative Neurotechnologies ou Pesquisa do Cérebro através do Avanço de Neurotecnologias Inovadoras.), anunciado pelo governo Obama em 2013. O programa previa um investimento de US$ 4,5 bilhões até 2022. Trata-se de uma iniciativa de pesquisa ampla para o avanço das tecnologias para decifrar o cérebro humano. Lembrando o histologista espanhol Santiago Ramón y Cajal, pai da neurociência moderna, Rafael Yuste, pretende investigar “selvas impenetráveis onde muitos investigadores se perderam”.
“Embora tenha havido esforços graduais para explicar como as diferentes regiões do cérebro operam, nenhuma teoria geral da função cerebral é universalmente aceita. Uma limitação subjacente fundamental é nossa ignorância do microcircuito do cérebro, das conexões sinápticas contidas em qualquer área do cérebro”, disse.
Revolucionar a Neurociência
Yuste pretende revolucionar o campo da neurociência com seu projeto. A proposta foi concebida para aumentar a “expertise” dos cientistas sobre o cérebro, decifrando o código neural e desenvolvendo técnicas para alterar circuitos afetados pelas doenças mentais.
A proposta é reconstruir a atividade neuronal de todo neocórtex de um camundongo acordado e, em seguida, prosseguir o estudo com primatas. O objetivo é registrar o pico de cada neurônio, em suas interações com os demais, o que levanta uma enxurrada de dados. O estudo também deve abranger humanos, utilizando eletrônica sem fio para captar e transmitir a atividade neural com o uso de um pequeno transmissor elétrico.
A ideia é criar grandes bancos de dados em que o registro completo da atividade de circuitos neurais inteiros possa ser baixado gratuitamente. O trabalho é comparado ao Projeto Genoma Humano, que gerou um novo campo de investigação a partir desses conjuntos de dados. Assim, poderiam se desenvolver novas áreas da neurociência.
Diagnóstico preciso
Os bancos de dados permitiriam o diagnóstico preciso de determinadas doenças, a partir da recuperação da atividade cerebral. Ele também pode ser usado na biomedicina, gerando benefícios econômicos.
“Isso pode provocar uma revolução na neurociência computacional, já que a análise e modelagem de um circuito neural será possível, pela primeira vez, com um conjunto abrangente de dados”, afirma Yuste.
O objetivo do laboratório de Yuste é compreender a função do microcircuito cortical. Em humanos, é o local primário de funções mentais como percepção, memória, controle de movimentos voluntários, imaginação, linguagem e música. O córtex é semelhante em diferentes espécies e, aparentemente, não mudou muito na evolução desde seu aparecimento.
Neurodireitos e as interfaces cérebro-máquina
As neurotecnologias permitem o acesso a dados mentais das pessoas, que podem sofrer manipulação externa. Por isso, Yuste acredita que os dados do cérebro devem ser protegidos com o mesmo rigor que os órgãos do corpo humano. Em outras palavras, a mente também deve ser protegida contra manipulação e a comercialização.
Juntamente com outros pesquisadores, Yuste publicou um importante estudo na revista “Nature” em 2017, no qual demonstra a necessidade de regulamentar as neurotecnologias e as interfaces cérebro-máquina.