Os organoides cerebrais (minicérebros) foram enviados à Estação Espacial Internacional (ISS) pela segunda etapa da pesquisa em parceria com a Nasa. Com isso, os cientistas pretendem criar uma plataforma para manter esses organoides crescendo sem intervenção humana com o objetivo para testar medicamentos para tratar condições, como autismo.
A microgravidade presente no espaço pode “envelhecer” neurônios humanos, concluiu o neurocientista brasileiro Alysson Muotri, diretor do programa de células-tronco da Universidade da Califórnia em San Diego, nos Estados Unidos.
Análises por células tronco
A conclusão partiu das primeiras análises dos organoides cerebrais enviados para a Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês para International Space Station) pela segunda etapa da sua pesquisa em parceria com a Nasa, a agência espacial norte-americana.
O cientista usou células-tronco pluripotentes. Elas carregam a mesma informação genética das células doadoras e têm capacidade a dar origem a todos os tecidos do corpo. Essas células foram convertidas em neurônios a partir de biorreatores de laboratório. Então esses neurônios foram multiplicados, passando a criar “minicérebros” – os organoides cerebrais. A partir da reprogramação de células doentes é possível investigar as alterações presentes nesta célula desde a sua gênese.
Envelhecer neurônios no espaço
“Nós concluímos as primeiras análises e encontrados diversos dados interessantes, sugerindo que vias moleculares relacionadas ao envelhecimento celular são alteradas nos organoides que estavam na estação espacial. Esses dados precisam ser validados antes de serem publicados. Nossa próxima missão está marcada para novembro de 2021”, disse Muotri ao Portal Sinapsys.
O foguete da SpaceX foi lançado a partir do Cabo Canaveral, na Flórida, nos Estados Unidos, no dia 5 de dezembro de 2020. O objetivo da segunda missão é entender porque ocorre o “envelhecimento” dos neurônios na estação espacial.
Descobertas para autismo
Esse fenômeno permitiria aos cientistas “envelhecer” neurônios no espaço para entender mecanismos até então impossíveis de estudar. Os primeiros organoides foram enviados ao espaço em julho de 2019.
O principal objetivo, segundo Muotri, é desenvolver uma plataforma autônoma para manter esses organoides de cérebro crescendo sem intervenção humana, o que ajudará muito na descoberta de novos medicamentos para várias condições, como o autismo.
O impacto da microgravidade no cérebro
A pesquisa permitiria que os cientistas modelassem um cérebro mais maduro. Atualmente o modelo que os pesquisadores dispõem corresponde ao cérebro embrionário fetal.
O estudo ainda tem por objetivo avaliar o impacto da microgravidade no cérebro, vislumbrando futuras viagens espaciais longas e colonização interplanetária. A missão é descobrir se o ser humano pode se reproduzir fora da Terra.
Os minicérebros cresceram em um cubo autônomo que foi desenvolvido para acomodá-los. Na segunda missão, ao invés de centenas, foram milhares de minicérebros enviados à estação espacial. Quanto às evoluções dos equipamentos usados para esta segunda missão, houve um trabalho de bioengenharia e alta tecnologia.