Em função da pandemia, meu filho adolescente (15 anos) permaneceu um longo período em casa, com aulas virtuais (e um tanto quanto desregradas). Como trabalho fora (e mantive o trabalho presencial mesmo durante a pandemia), não consegui acompanhar muito de perto suas atividades em casa nesse período. Mas percebi que muito do tempo dele foi dedicado aos jogos eletrônicos um tanto sem controle. Agora tem sido difícil mudar certos hábitos dele e temo que o desinteresse pela escola se agrave em 2022. Tem sido difícil nossa comunicação e temos discutido muito. O que é possível fazer para melhorar o ambiente familiar e incentivá-lo a retomar o interesse pelos estudos?

A pandemia trouxe muitos desafios a todos. Houve perda das relações cotidianas, interrupções de planos, restrições físicas, mudanças educacionais, uma diminuição dos recursos da economia, aumento da pobreza, uma carga grande de informações negativas sobre a covid-19, a perda de entes queridos, entre outras situações.

Cada família teve que se reorganizar para conduzir da melhor forma suas necessidades, porém, é certo que todas as crianças e os adolescentes precisam – e durante a pandemia precisaram ainda mais – de acompanhamento, orientações e troca de afeto com os seus familiares, pois eles já estavam restritos ao convívio com os seus pares.

Percebemos hoje os efeitos causados pela pandemia e precisamos ficar atentos à saúde mental de todos. Muitos se queixam de tristeza, frustração, insegurança, medo, ansiedade, cansaço, depressão, falta de motivação, falta de concentração, ou seja, um definhamento advindo da fadiga pandêmica, quando tivemos que lidar com indefinições, sobreposições de papeis, de espaços e de horários.

Maior evidência

Antes da pandemia, a saúde mental dos jovens já era um problema de saúde. Muito se falava sobre suicídio, automutilação, ansiedade, depressão, etc. Com a chegada da pandemia, tudo tornou-se ainda mais evidente. Estudos mostram o aumento de sintomas de depressão e ansiedade entre crianças e jovens durante a pandemia. Seis a cada dez jovens relatam ansiedade e uso exagerado de redes sociais.

Com tudo isso, encontramos atualmente uma baixa tolerância a frustrações, uma sensibilidade exacerbada e certo esquecimento da convivência coletiva, tendo impacto nas escolas e a utilização desenfreada do uso da tecnologia em redes sociais e jogos digitais.

A tecnologia veio para ficar e com ela adquirimos muitas facilidades, porém encontramos muitas dificuldades também. Como avaliamos se o uso está adequado ou se está havendo um excesso ou dependência? Mesmo antes da pandemia, muitos jovens acabavam se isolando nas redes sociais, se encontrando virtualmente com amigos(as) ou namorados(as), e preferiam manter-se em casa em vez de sair para se encontrar presencialmente com alguém ou participar de eventos sociais.

Muitas crianças e muitos jovens apresentam baixa autoestima, timidez, ansiedade, depressão e, claro, dificuldades nas relações sociais. Eles sentem-se aceitos no mundo virtual, criando-se a dependência digital, principalmente naqueles que já apresentavam poucas habilidades nas relações interpessoais.

Educação digital

A educação digital se faz necessária para que todos possam aprender desde cedo sobre as vantagens e desvantagens da tecnologia, como utilizá-la, os conteúdos de riscos e práticas positivas que podem ser substituídas pelo uso excessivo da tecnologia. Os pais devem auxiliar, orientando e proporcionando momentos agradáveis em família, com atividades saudáveis que possam contribuir para a sua conexão com seus filhos.

A dependência tecnológica tem afetado as relações sociais e a aprendizagem, gerando falta de interesse em aprender e déficit de atenção. Crianças e jovens não conseguem manter um autocontrole físico e psicológico, ficam muito agitados, irritados e ansiosos para jogar ou entrar nas redes sociais para estar ciente de tudo o que foi postado e não perder a sensação de pertencimento a algum grupo nas redes sociais.

Com isso, se alimentam e dormem mal, não fazem atividades físicas, prejudicando a possibilidade de terem um dia bom, de manter uma rotina adequada e ter suas responsabilidades. Em 2013, o Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM-5) incluiu o transtorno do jogo pela internet como uma das novas patologias da atualidade.

Conexão

Sugiro às famílias que se aproximem de seus filhos, que tenham uma escuta ativa e sem julgamentos, observem os gatilhos que podem levar a criança ou o jovem a iniciar uma discussão, quais as suas necessidades e o seu pedido de ajuda. É importante se conectar e se relacionar com respeito e cuidado e é necessário para a criança e para o jovem saber de suas responsabilidades.

Eles precisam se reorganizar, se autorregular, encontrando novas opções para isso. O diálogo, em minha opinião, é sempre o melhor caminho, porém, é trabalhoso acompanhar, buscar novas estruturas e possibilidades que possam chamar a atenção. Os pais devem se informar a respeito do assunto por meio de leituras, redes de apoio com amigos, familiares e/ou profissionais capacitados, como psicólogos ou psiquiatras, para receber orientações adequadas para poderem enfrentar esse desafio. A criança ou o jovem também precisam fazer um trabalho com esses profissionais para conseguirem encontrar novos modelos de se relacionar com as pessoas.