O psicólogo Ricardo Wainer é o primeiro brasileiro com certificação avançada e supervisor credenciado pela Sociedade Internacional de Terapia do Esquema (ISST), pesquisador do tema desde os anos 2000. Para ele, a Terapia do Esquema é uma forma avançada de TCC (Terapia Cognitiva Comportamental) e integra conhecimentos derivados de vários sistemas teóricos, como o Construtivismo, a Gestalt Terapia, a Psicanálise e a Teoria do Apego.
Por se diferenciar pela ênfase dada à investigação das origens dos problemas psicológicos na infância e adolescência, período em que grande parte das crenças são estabelecidas, a Terapia de Esquemas também utiliza técnicas emotivas e foca nos estilos disfuncionais e de difícil adaptação envolvidos no enfrentamento do problema.
Desde a sua criação pelo psicólogo estadunidense Jeffrey Young na década de 1990, a Terapia de Esquemas evoluiu muito e, hoje, vem sendo utilizada para praticamente todas as populações (adultos, adolescentes, crianças e casais) com diferentes transtornos psicológicos. Para o psicólogo Ricardo Wainer, essa terapia se diferencia da TCC tradicional ao demonstrar aos pacientes, sobretudo com transtornos de personalidade, como seu funcionamento (hoje desadaptativo) foi a melhor resposta que ele teve para lidar com seus ambientes tóxicos/abusivos e/ou patológicos da infância e adolescência. Leia mais, a seguir:
O que é a Terapia Cognitiva focada em Esquema, quais as origens?
É uma forma avançada de Terapia Cognitiva que foi desenvolvida pela psicólogo Jeffrey Young nos anos 1990 para tratar transtornos graves da personalidade e outras condições refratárias onde a TCC tradicional mostrava-se limitada. Ela avança significativamente no entendimento da gênese e desenvolvimento da personalidade normal e patológica e, sendo uma terapia integrativa (busca integração de diversos campos do saber – Gestalt Terapia, TCCs, Teoria do Apego, Psicodrama etc) tem maior foco em estruturas mais iniciais da personalidade (os Esquemas Iniciais Desadaptativos) e em técnicas emocionais e vivenciais que consigam ressignificar memórias mais do início da vida do indivíduo.
A Terapia do Esquema integra conhecimentos derivados de vários sistemas teóricos, como a Terapia Cognitiva de Beck, o Construtivismo, a Gestalt Terapia, a Psicanálise e a Teoria do Apego. Qual destas teorias você considera mais importante pra trabalhar com os esquemas?
Todas estas teorias têm importantes contribuições, mas, segundo as próprias palavras de Young, a Teoria do Apego e as técnicas experienciais/emocionais da Gestalt Terapia são centrais na TE.
Quais são os tipos de esquema e como cada um se manifesta no ser humano?
As Terapias Cognitivas consideram que nossa mente é estruturada por Esquemas Mentais (estruturas que armazenam crenças, regras, pressupostos sobre determinados assuntos e papéis que temos na vida). A partir da TE, postulou-se que existem Esquemas Mentais mais primitivos (os EIDs-Esquemas Iniciais Desadaptativos e os EIPs- Esquemas Inicias Positivos), desenvolvidos desde a tenra infância e que, além de crenças, também contém memórias infantis muito associadas a estados emocionais, desejos e sensações fisiológicas. Eles se manifestam através de nossos pensamentos automáticos, que são as interpretações que fazemos dos estímulos ambientais, mas também no nosso modo de sentir e comportar. Assim sendo, os esquemas formam nosso modo característico de ser e estar no mundo.
Para quem esse tipo de tratamento é recomendado, e por quê? E em quais casos essa terapia não é indicada?
A TE foi primordialmente desenvolvida para pacientes com transtornos de personalidade e outras condições caracteriológicas (vinculadas a padrões de personalidade). Entretanto, a TE avançou muito, sendo utilizada para praticamente todas as populações (adultos, adolescentes, crianças e casais) e para aqueles outros transtornos psicológicos (depressão, ansiedade, uso de substâncias, transtornos alimentares etc.) onde se identifica um padrão crônico de funcionamento.
O que são os modos esquemáticos e como ocorrem os Esquemas Iniciais Desadaptativos (EIDs)?
Os Modos Esquemáticos são os diferentes modos de funcionamento psíquico e comportamental que todo ser humano apresenta em determinadas situações. Como a personalidade humana é, de certa forma, cindida em diversos “Eus”, os Modos são formas de trabalhar estes diferentes estados de humor, pensamento e ação dos indivíduos, gerando uma enorme facilidade de automonitoramento do paciente dos seus Modos e das situações gatilho que os ativam. Considera-se que um Modo contém EIDs, emoções e estratégias de enfrentamento mais típicas de determinado segmento da personalidade da pessoa.
Como se dá o tratamento com a terapia?
O tratamento pela TE busca enfraquecer a valência dos principais EIDs do indivíduo, bem como diminuir a ativação de Modos Esquemáticos Desadaptativos. Assim, há a busca de ampliar os Modos mais saudáveis (Adulto Saudável e Criança Feliz). Para tanto, há uma etapa de avaliação e psicoeducação do paciente e, posteriormente, a Etapa de Mudança, que trabalhará com diversas técnicas cognitivas, vivenciais-emocionais e comportamentais.
A Terapia de Esquemas também pode auxiliar no tratamento de transtornos de personalidade, em especial Boderline e narcisista. Como a terapia difere de tratamentos convencionais?
Com certeza a TE tem grande impacto no tratamento dos Transtornos de Personalidade Borderline e Narcisista, sendo inclusive indicada como tratamento de excelência para ambos. A TE vai diferenciar-se da TCC tradicional para estas psicopatologias ao demonstrar aos pacientes como seu funcionamento (hoje desadaptativo) foi a melhor resposta que ele teve para lidar com seus ambientes tóxicos/abusivos e/ou patológicos da infância e adolescência. Assim, o paciente consegue não se ver como alguém “defeituoso”, mas sim como alguém que foi privado de Necessidades Emocionais Básicas (NEBs). Com isso, ele pode aceitar suas necessidades emocionais e é ensinado a como lidar com diferentes ambientes e processos emocionais para que obtenha o suprimento (em alguma medida) destas necessidades.
Quais pesquisas têm sido feitas para avaliar a eficácia da terapia do esquema e que resultados foram obtidos até o momento?
As pesquisas têm avançado bastante, tanto no Brasil como no Exterior (em especial na Europa). Os resultados vão desde o impacto da psicoeducação dos pacientes sobre seus EIDs e Modos Esquemáticos; até o efeito de práticas parentais que respeitem as NEBs das crianças para a geração de adultos mais saudáveis. Também há estudos promissores para quadros complexos como Psicopatia e uso grave de substâncias graves.
Como você vê o futuro das psicoterapias e que contribuição a Terapia dos Esquemas trará para este futuro?
Diversos pesquisadores das áreas de psicofarmacologia e terapias biológicas têm pontuado o importante e promissor efeito das psicoterapias para lidar com os transtornos mentais. Além disso, as TCCs e, em especial as Terapias de Terceira Geração (onde se inclui a TE) têm trazido contribuições ricas tanto na reversão de quadros graves, mas, mais relevante ainda, na manutenção a longo prazo de seus efeitos. Portanto, acredito que o futuro aponte para práticas de prevenção e também para metodologias para maior eficiência a longo prazo das Psicoterapias.