Comecei meu dia com uma meditação às 07h30. Às 08h, já no ambiente home office, estava pronta para a primeira reunião. Quem de nós não costuma emendar uma série de videoconferências até o intervalo para o almoço, quando lembra que esqueceu o café na cozinha? Bem, não temos dúvidas de que estamos trabalhando demais à distância. A questão é que “work from home” exigiu uma nova habilidade para os executivos: lidar com a exposição excessiva em um mundo de telas, normalmente, durante muitas horas sequenciais.

Dinâmica cansativa

Tenho conversado com psicólogos a respeito do impacto do trabalho remoto e todos concordam: videoconferências em diversas plataformas ou pelo celular são extremamente cansativas para todos os profissionais. A pandemia do Covid-19 trouxe o grande desafio para as pessoas gerenciarem as emoções em um mundo do trabalho intermediado por interações, para muitos, 100% digitais. “Emoções são difíceis de gerenciar em um mundo de telas porque perdemos muitos comportamentos não-verbais que são essenciais para a compreensão do outro e do mundo à nossa volta. Passamos a ter que inferir certas coisas e, em diversas ocasiões, podemos inferir errado”, explica a Doutora em Psicologia Clínica, Adriana Nunan.

Algumas intervenções de prevenção podem ser usadas em uma situação de estresse para promoção da saúde mental em um “mundo de telas”. Em primeiro lugar, é importante tentar delimitar um espaço de trabalho na sua casa que seja diferente da sua cama. Idealmente um escritório (se for possível), um cantinho da sala, ou até uma mesinha no seu quarto, mas não fique deitado ou recostado na frente de um computador. “Camas são feitas para dormir e, se trabalhamos nelas, isto pode afetar nosso sono, já que nosso cérebro “confunde as estações”, comenta Adriana.

Outro ponto importante é definir um número de horas por dia para ficar em frente ao computador, tablet, celular, e negociar com o chefe e a equipe encontros de 1 hora, no máximo, para que sejam realmente produtivos, sempre com uma pauta acordada antecipadamente. “A criação de uma rotina, que inclua também momentos de desligamento do modo on-line, incluindo atividades físicas, lúdicas e prazerosas, pode ser uma maneira diminuir o estresse. Falar com amigos e parentes é fundamental para a manutenção do bem-estar psicológico”, enfatiza, psicóloga especializada em Psicologia Clínica pela PUC-Rio, Luiza de Medeiros Ribeiro.

Produtividade organizada

Um dos grandes erros que cometemos é não aproveitar o tempo em que estaríamos nos deslocando para o trabalho para praticar uma atividade física ou dedicarmos a um hobby que nos dê prazer entre o acordar e o início do trabalho. “Tome seu café da manhã com calma, arrume-se e só depois disso comece a trabalhar. Estabeleça um horário para almoço (longe da tela) e um horário para encerrar o trabalho. Pode parecer que você está sendo produtivo trabalhando até tarde, mas na verdade só está se desgastando”, comenta Adriana.

E MAIS…

A armadilha do lazer eletrônico

Quando achamos que vamos “desligar” o nosso cérebro das telas das reuniões, acabamos caindo na “armadilha” do Netflix. Muitos de nós temos escolhido momentos de lazer também “grudados” em frente à televisão ou ao smartphone, assistindo um filme, maratonando uma série ou navegando pelas redes sociais. Tem aqueles que também adoram um videogame no fim do dia e os que aproveitam à noite para conversar em videochamadas com a família e os amigos. Difícil escapar dos aparelhos eletrônicos e dar uma pausa.

Apesar de reconhecer que a tecnologia nos ofereceu uma grande oportunidade para mantermos muitas atividades à distância, sabemos que essas escolhas são difíceis e quase inevitáveis no momento da pandemia. Mas existem caminhos para melhorar a nossa saúde mental. “Você pode tentar substituir o e-book por um livro físico (ou até um audiobook) e, em vez de fazer uma videochamada com seus entes queridos, que tal usar o bom e velho telefone? Sua sensação de bem-estar será bem maior, acredite!”, recomenda Adriana. “Ter um hobby que não envolva telas também é uma ótima opção. Pode ser cuidar de plantas, cozinhar, pintar, cantar. Vale qualquer atividade que te dê prazer”, conclui.