No momento atual, vivemos o que a Organização Mundial de Saúde chamou de “Infodemia”. Segundo o relatório “Entenda a infodemia e a desinformação na luta contra a COVID-19” de abril de 2020, “Infodemia seria um excesso de informações, algumas precisas outras não, o que torna difícil encontrar fontes idôneas e orientações confiáveis quando se precisa. Esse termo foi cunhado para referir “um grande aumento no volume de informações associadas a um assunto específico, podendo se multiplicar exponencialmente, em curto período de tempo, relacionada a um evento específico. Os rumores e desinformações, além da manipulação de informações com objetivos duvidosos, foi amplificado pelas redes sociais e se alastra rapidamente, como um vírus”.

O principal impacto das Fake News na pandemia de COVID-19 foi a insegurança e o medo propagados por elas. A desinformação fez com que pessoas deixassem de acreditar na existência do vírus, não se cuidassem, e mais recente, se negassem a tomar as vacinas disponibilizadas.

Mais rápido que a luz

Claro que sabemos que as Fake News não surgiram no âmbito da pandemia de coronavírus. No Brasil, já observamos o impacto delas nas últimas eleições presidenciais, que levou a divisão e a ampliação de dicotomias entre eleitores. Essa disseminação de sentimentos de raiva, ódio, intolerância e preconceito gerados pelas Fake News, nos leva a questionar o impacto dessas desinformações no psicológico social.

No mundo globalizado, as desinformações viajam mais rápido que a velocidade da luz, e o consumo delas pode trazer danos à saúde mental. No âmbito da pandemia, vimos muitas pessoas adoecerem mentalmente, mesmo sem ter quadros prévios de doença mental. Ao compartilhar uma desinformação, por mais que seja algo em que acreditamos, e que não façamos isso de forma proposital, impactaremos de forma negativa o cérebro do indivíduo que lê. Pense: Como você se sente ao receber uma “manchete” carregada de emoção (que podem ser expressas pelas famosas carinhas (emojis) ou mesmo a manchete em si pode ser impactante) através de um link via whastapp?! A mão coça e todos nós compartilhamos para o maior número de pessoas possíveis, afinal, que absurdo isso acontecer, não é mesmo?! O problema é que não checamos se aquela informação é verdadeira ou se o conteúdo do link realmente corresponde à manchete.

O porquê desse comportamento?

O que faz com que acreditemos nas Fake News? Segundo Adam Waytz, Professor de gestão e organizações e pesquisador das áreas de Psicologia Social e Neurociência da universidade de Kellogg, existem dois mecanismos psicológicos bem conhecidos que ajudam a explicar a nossa suscetibilidade duradoura as falsas notícias.

O primeiro é o “raciocínio motivado”, que seria a ideia de que somos motivados a acreditar no que confirma nossas opiniões. Por exemplo: Se eu considero um determinado artista vulgar, eu tendo a acreditar mais em histórias que corroborem com a minha opinião, mesmo que elas não sejam verdadeiras.

 O segundo é o “realismo ingênuo”, que refere sobre a nossa tendência em confirmar que a nossa percepção da realidade é a única que é precisa, e que todos que discordam de nós são desinformados ou tendenciosos. Esse mecanismo ajuda a entender o porquê algumas pessoas tendem a rotular qualquer relato que desafia sua visão de mundo como falso.

Desse modo, podemos inferir que a nossa predisposição às notícias falsas está relacionada às formas como nosso cérebro faz conexões. Com isso em mente, podemos dizer que o impacto à saúde mental se faz, em suma, de duas formas:

1ª) No momento em que o indivíduo lê: Toda vez que lemos um conteúdo ele gera uma emoção. À nível cerebral, essa emoção faz uma marca. Essa marca é guardada para que, em outras situações, usemos novamente essa habilidade que está sendo desenvolvida. Quanto mais marcas positivas ou negativas tivermos, mais ou menos capazes seremos para regular as nossas emoções. Infelizmente, sabemos que o impacto dessas Fake News geralmente é negativo, pois elas potencializam sentimento de impotência, insegurança, medo e ansiedade.

2ª Muitos links usados nas Fake News são estratégias para roubo de dados dos usuários que caem nesses golpes. Roubar dados é crime, e configura um furto de bens. Quando alguém lhe rouba um cordão na rua, ou uma bolsa, geralmente não nos sentimos violados? Com raiva? Com medo? A mesma coisa acontece quando alguém lhe rouba seus dados. Lembrem-se dos relatos das pessoas que tiveram suas fotos íntimas vazadas, ou mesmo daquelas que tiveram suas contas bancárias zeradas após clicar no link milagroso que prometia perder 20Kg em 2 semanas.

E MAIS…

Então, o que devemos fazer?

Devemos aprender a distinguir uma notícia falsa de uma verdadeira. Para diminuir a polarização ocasionada por essa disseminação desenfreada de Fake News, precisamos lembrar que aprender a processar uma informação de forma mais profunda, à luz dos mecanismos mentais que explicamos anteriormente, permite que a hostilidade diminua. Entretanto, a ponte entre visões opostas só poderá ser feita com fontes de notícias mais embasadas e um estudo mais aprofundado que vai além do que as mídias sociais podem fornecer.

Para isso, autocontrole é a palavra do dia. Não compartilhe um conteúdo por impulso. Busque sites certificados internacionalmente de checagem de notícias. Sempre tenha o cuidado de atualizar seu antivírus e ler as notícias pelo computador. Quando tomamos esses cuidados, há grandes chances de diminuirmos a ativação cerebral de sentimentos negativos e evitar conflitos desnecessários com nossa rede de contatos cibernéticos.