Quando se trabalha o self terapêutico sob a luz da Psicanálise, ao se falar do ego descrito por Freud, o profissional pode entender que a fala terapêutica diz respeito ao “eu mesmo e de quem eu sou”?

Nem sempre! Falar de ego é falar de desalinho, de desarranjo no psiquismo. É falar de instância psíquica e, ao mesmo tempo, de conceitos, grafia e espelho. Um emaranhado de coisas e fenômenos simultâneos. Falar de ego diz muito sobre nós e muito sobre os outros. É falar de nós mergulhados em nós mesmos, e de nós em relação com o outro e vice versa.

É muito comum usar a expressão para falar sobre si mesmo como EU. Porém, atualmente, nos avanços das pesquisas da era moderna e na própria pós modernidade, o nosso EU, tem uma estreita relação com o nosso SELF, ou seja, uma relação de ego para Ego.

Para alguns autores, a inicial minúscula da palavra ego tem relação com o “ego” que Freud irá situar em meio às instâncias do Id e Superego, ou seja, um componente do Aparelho Psíquico. Para Freud, em sua ‘Segunda Teoria do Aparelho Psíquico’, o “ego” seria encarregado de tratar da realidade como ela é. A parte deste aparelho que se responsabiliza por fazer com que os nossos desejos, opiniões, censuras e inclinações sejam crivados e passados pela instância acordada e, portanto, mais perto da realidade como ela é. É o nosso ego.

Pensando no ego como aquela instância psíquica encarregada de nos trazer de volta à realidade quando algo sai do normal, este mesmo ego com “e” minúsculo, torna-se também o atilado “personagem” que irá se encontrar dentro de si mesmo, com o self, o Ego fotografado e contido dentro do primeiro EU.

É este jogo de relações entre um ego e outro que nos permite alinhar algo entre o que eu devo, eu quero, eu posso e com o que eu não devo, eu não devo querer e eu não posso. Também trata do que recebo, processo e ajo, ou seja, do que o outro diz, eu abraço e me desfaço.

Nesse sentido, no tratamento terapêutico, esse conceito pode embasar o profissional a entender o relato de seu cliente nas entrelinhas da visão inconsciente que ele tem dele mesmo. Afinal, ao fazer uma self para enviar a um amigo, a primeira e mais importante imagem projetada na tela da câmera fotográfica, é a de si mesmo.