“ De maneira alguma a adolescência é uma simples época da vida”.

 Jean Erskine Steward

 A adolescência é um conceito construído desde o fim do século XIX e na primeira parte do século XX para se reconhecer essa fase intermediária desde  da puberdade até o início da idade adulta.

Para Stanley Hall ( 1844 – 1924) pioneiro no estudo científico da adolescência. Em 1904, ele descreve que o período da adolescência é turbulente, carregado por conflitos e alterações de humor. Segundo a sua visão, pensamentos, sentimentos e ações dos adolescentes oscilam entre presunção e humildade, boas intenções e tentação, alegria e tristeza. Um adolescente pode ser desagradável com um amigo em um determinado momento e gentil no momento seguinte; ou ter necessidade de privacidade em um momento, mas, segundos depois, querer companhia.

Os estudos de Hall foi além da especulação e da Filosofia, praticamente tudo que se conhece sobre o reconhecimento da ciência nesse assunto, deve-se à esse grande estudioso.

Identidade físicas e sociais

Nas décadas entre 1950 até 1970, o período do desenvolvimento referido, havia atingido a maioridade. O indivíduo  tinha não somente identidade físicas e sociais, mas também uma identidade legal, pois cada estado desenvolveu leis especiais para jovens entre as idades de 16 e 18 anos. Conquistar um diploma universitário, a caminho de um bom emprego, casar e ter filhos. Nos anos 70, os protestos políticos chegaram ao seu auge, quando milhares de adolescentes reagiram violentamente ao que eles consideravam participação imoral dos Estados Unidos e outros países na Guerra do Vietnã. Com o tempo, essas preocupações foram diminuindo e outras valorizações foram surgindo, como por exemplo, a do desempenho e rendimento escolar para ascenção vocacional. Os interesses materiais começaram a dominar a motivação e a competitividade, e os parâmetros ideológicos começaram a retroceder. 

Nesta mesma época, movimento feminista modificou a descrição e o estudo da adolescência, tornando- se mais evidente para rapazes do que para as moças, no que acabou dificultando a ascenção da mullher no mercado de trabalho.

Avançando as décadas, surge a geração de adolescentes dos anos 80, trazendo como características, a fundamentação da diversidade étnica e a conexão com a tecnologia, sendo considerado em uma análise recente, como adolescentes, confiantes, autoexpressivos, liberais, otimistas e abertos à mudanças. E uma característica impressionante para essa atual juventude é o uso da mídias e da tecnologia, trazendo, provavelmente aspectos positivos, mas também negativos sobre como essa revolução tecnológica está afetando os jovens.           

Explosão de fatores instrísecos

O adolescente não só convive com aspectos sociais, ele também tem uma explosão de fatores instrísecos que perpassam por sua biologia orgânica e pelos seus processos psíquicos emocionais, devido a uma avalanche de hormônios que buscam uma homeostase constante interna do corpo. O adolescente precisa de escuta e orientação, por uma série de questões e incompreensões que provocam alterações comportamentais.

Cuidado com os esteriótipos construídos para os adolescentes. Esteriotipação é uma generalização que reflete impressões e crenças a respeito de uma categoria ampla de pessoas. Todos os esteriótipos carregam uma imagem de como é um membro típico de um grupo específico. Depois de atribuído um esteriótipo, é difícil abandoná-lo, mesmo diante de evidêcnias contraditórias. Por exemplo: os adolescentes dizem: Quer um emprego, mas não quer trabalhar. São todos preguiçosos e só pensam em sexo. O problema de hoje é que os adolescentes ganham tudo com muita facilidade, Eles são autocentrados. Na verdade, durante a maior parte do século XX e o início do século XXI, os adolescentes têm sido retratados como anormais ou desviantes.

Novas interpretações

Atualmente novas interpretações sobre a adolescência vêm sendo repensadas, como ganho positivo dessa fase e desenvolvimento como:

Competência, que envolve a percepção positiva das próprias ações em áreas de domínio específico – social, acadêmico, físico, carreira, etc.

Confiança, que consiste em ter uma noção positiva global de autoestima e autenticidade e eficácia.

Conexão, que caracteriza-se pelas relações com a família, pais, escolas, comunidade.

Caráter, que é o respeito pelo outro nas regras sociais, integridade do certo ou errado.

Compaixão e empatia, ou seja, inteligência emocional ao se colocar no lugar do sofrimento da outra pessoa.

Importante destacar alguns aspectos biológicos que justificam cientificamente o comportamento do adolescente.

O cérebro do adolescente ainda não está totalmente desenvolvido nessa fase, pois, a “malha” neuronal precisa ser fortalecida, e  as conexões aumentam pelos processos da aprendizagem cognitiva, emocional, social.  Durante esta etapa da vida, o sistema nervoso passa por uma reorganização, pelo qual sofre perdas ou podas neurais e que, em alguns organismos alcançam seu ápide de maturação.

Desenvolvimento cerebral

O desenvolvimento cerebral tem dos grandes princípios: a produção de neurônios e conexões nervosas, e logo depois o remodelamento dos sitema nervoso central. Até a puberdade milhões de novas sinapses ocorrem, durante a adolescência e alguns neurônios são desativados, sendo outros fortalecidos, podendo essa fase ser denominada de poda neural, ou seja, o que não é usado é descartado. Esse processo ocorre para que haja um refinamento das estruturas e funções cerebrais, podendo muitas vezes influenciar o comportamento juvenil.

Constata-se que até o período da puberdade a substância cinzenta é formada por uma grande quantidade de corpos celulares de neurônios distribuídas na superfície dos hemisférios cerebrais e do cerebelo envolvidas no controle muscular, percepção sensorial, visão, audição, memória, emoção  fala, nesta fase essa substância diminui, enquanto acontece o contínuo aumento de substância   branca subcortical que é formada de prolongamentos de neurônio, os axônios. 

O aumento em volume da substância branca ao longo da infância e da adolescência correponde ao espessamento das fibras nervosas, resultante da mielinização que isola eletricamente os axônios, permitindo que os impulsos sejam mais rápidos. A formação de mielina funciona como fixador das conexões neurais.

Regiões do cérebro em análise

No desenvolviemto embrionário o cérebro desenvolve-se de baixo para cima em camadas intrincadas de neurônios, e nas laterais da parte mais inferior para a superior, fixando-se através da região denominada aderência intertalâmica, no corpo caloso, que une os hemisférios direito e esquerdo.  

O córtex do lobo frontal é a última grande divisão do cérebro a “amadurecer” (por volta ds 30 anos) em estrutura, funções cognitivas e emocionais mais elaboradas ligadas a planejamento, representações mentais, raciocínio lógico e produção da fala. Ele também é reponsável pela inibição de impulsos e utilização da aprendizagem do passado para aplicar em situações atuais ou criar estratégias futuras.

Essa estrutura cerebral é reponsável pelo desenvolvimento psicossocial, e durante a adolescência é mais bem compreendida como a região da busca do autoconhecimento, de respostas às perguntas “ Quem sou eu?”. As mudanças que ocorrem durante os anos da adolescência, o surto de crescimento, o despertar sexual, o ingresso para uma escola maior e impessoal, mais amizades íntimas e a aceitação de riscos, tudo desfia o adolescente a encontrar sua “identidade”, ou seja, sua autodefinição a estabelecer a integridade da personalidade, ou seja, alinhar as emoções, o pensamento e o comportamento para que mantenham a consistência quaisquer que sejam o lugar, o momento, as circunstância e o relacionamento social.

O córtex do lobo parietal é uma das primeiras regiões corticais a iniciar o processo de amadurecimento, atingindo o seu volume máximo no mennos aos 12 anos e mninas aos 10 anos de idade, período esse onde ocorrem as maiores transformações da puberdade.

A partir dai, começa-se o refinamento sensório motor, proporções corporais o que impacta na autoimagem.

O córtex do lobo temporal durante a adolescência, mesmo que o cérebro já tenha chegado as suas dimensões adultas, ainda se podem observar variações progressivas, mielinização, e regressivos processos sinápticos. O lobo temporal é envolvido nas funções da linguagem, memória e audição, chegando ao ápice da sua expansão durante a adolescência, aos 16 ou 17 anos. Essa área é fundamental para a compreensão da linguagem e para assimilação da memória e o processamento emocional (hipocampo e amigdala cerebral). Um incremento da mielinização dessa área acelera a integração das informações visuais e auditivas que recebe das áreas de percepção primárias e pode melhorar as funções linguísticas como por exemplo a leitura.

Importante destacar que no lobo medial do lobo frontal, acharam-se alterações no volume da amigada cerebral, com correlação positiva nas performances de memória e aprendizagem dos adolescentes; essa região também tem uma importância pela participação no sistema límbico e o processamento das emoções, que são centrais no desenvolvimento social e pessoal do adolescente.

Amigdala cerebral é uma estrutura responsável pela formação de estímulos e recompensas, refletindo em nossas expressões. A amigdala nos alerta de algum perigo, esse sentimento que normalmente é chamado de “medo”. Outra função fundamental está ligada ao sistema de recompensa, “ conjunto de estruturas no cérebro responsáveis por premiar com prazer ou bem-estar comportamentos que acabaram de se mostrar úteis ou interessantes”.

No cérebro, o prazer é proporcionado pela molécula dopamina, que é um neurotransmissor. Os adolescentes possuem um terço dos receptores para a dopamina, por isso, precisam de experiências mais intensas, que estimulem mais a liberação da substância, para sentir prazer.  Essa mudança, por si só, é a principal responsável pela maioria dos comportamentos típicos do adlescentes, como a busca de novidades, os excessos e o comportamento de risco, que também gera euforia e produção de dopamina. E é nessa fase que ocorre a grande descoberta o “ sexo”, cujo o prazer só é possível porque o sistema de recompensa se torna sensível aos hormônios que promovem o prazer sexual. E tudo isso não pode ser considerado ruim, mas um aprendizado com responsabilidade na busca da indepedência e autonomia.Os cérebros dos adolescentes também apresentam mudanças cognitivas significativas.

Neurodesenvolvimento

Embora os adolescentes sejam capazes de emoção muito forte, seu córtex pré-frontal não se desenvolveu adequadamente até o ponto em que consigam controlar essas paixões. É como o córtex pré-frontal não tivesse o “freio” necessário para reduzir a intensidade emocional da amígdala cerebral. Uma análise a ser considerada é que o cérebro do adolescente sofre intensa plasticidade neuronal devido as experiências ambientais vividas e que influenciam o seu neurodesenvolvimento.

É no período da adolescência que se aprende a tomar decisões, quais amigos escolher, com que pessoa namorar, fazer sexo ou não, ir para escola ou universidade. Ser capaz de tomar decisões competentes não garante que os indivíduos façam isso na vida diária, na qual uma série de experiência geralmente entra em cena. A maioria das pessoas toma melhores decisões quando estão calmas do que quando excitadas emocionalmente, podendo ser um a verdade essa condição para os adolescentes. O adolescente precisa de escuta e orientação.

O desejo e a atração sexual na adolescência estão exatamente nas mudanças que acontecem no sistema de recompensa do cérebro, sendo considerado o conjunto de estruturas que premiam com uma sensação de prazer e provoca no cérebro do adolescente a vontade de querer mais e mais coisas que promovam a sensação de bem-estar.


Em contrapartida, a área do córtex pré-frontal é uma estrutura do cérebro humano que atua como autorregulador do processo emocional e de recompensa, e regula todas as reações provocadas pelo sistema emocional.

Educação cognitiva

O córtex pré-frontal é considerado a área do cérebro social,  sendo que no jovem esse sistema está em pleno desenvolvimento e fortalecimento das conexões neurais, que são através da aprendizagem cognitivas que promovem a plasticidade neuronal intencional, sendo essa elaborada e fortalecida pela orientação social ou pela educação cognitiva dos pais e educadores.

É natural que o jovem tenha impulsos sexuais, pois basta estimular o sistema sensorial para toda a “cascata” de hormônios desencadearem um reação neuroquímica no sistema nervoso autônomo e central.

O adolescente apaixona-se com muita facilidade pela tendência de produzir substâncias denominadas fatores neurotróficos que tem a função de promover maior conexão neural, por conseguinte, aumenta a produção de dopamina. Por essa razão, o cérebro do jovem precisa ser orientado, e é necessário moldar essas reações neuroquímicas e fortalecer as conexões neurais do córtex pré-frontal de maneira que o jovem crie valores éticos, morais e consiga promover a percepção acertada das disposições e intenções de outros indívíduos pela cognição social ou “filtro” dos impulsos irracionais.

Os adolescentes precisam de mais oportunidades de praticar e discutir a tomada de decisão realista. Muitas decisões no mundo real como temas sobre sexo, drogas e direção perigosa ocorrem em uma esfera de estresse que inclui restrições de tempo e envolvimento emocional. Um caminho fundamental para reconhecer essas oportunidades é o envolvimento da famÍlia e da escola na integração desse aprendizado com e para os jovens.

E MAIS…

Alicerces na infância

Mesmo a adolescência sendo um período importante no desenvolvimento das habilidades de pensamento crítico, se uma base sólida de habilidades fundamentais sejam elas cognitivas e emocionais, não forem alicerçadas no período da infância, alguns possíveis gaps poderão ocorrer no período da adolescência. Por isso, fomentar o pensamento crítico, torna-se fundamental para a qualidade das conexões neurais do adolescente.

Contudo, família e escola possuem importantes atributos para o pleno desenvolvimento do cérebro cognitivo, emocional e social do adolescente, minimizando conflitos e promovendo mais a escuta, a comunicação, o apoio, a interligação, o limite/controle sem prejudicar a autonomia desejada.

Conclui- se então, o quanto é necessário educar a mente em formação em todos os sentidos. O adolescente em especial passa por grandes questionamentos e conflitos, e muitas vezes, não entende nem a si mesmo e algumas vezes é solicitado a compreender algo mais complexo.

O importante é ter o olhar de “guia” nessa travessia de um “ mar de tormentas”. E educá-los através de estímulos coerentes para que atinjam ao amadurecimento neurocognitivo, emocional e social para assumir a vida adulta.  

Bibliografia:
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Relvas, Marta P., Sobre o Comado do Cérebro – WAK Editora, 2014, Rio de Janeiro.
Valle, Luiza Elena Leite Ribeiro do. II. Mattos, Maria José Viana Marinho de III, Série. Adolescência: as contradições da idade (orgs). 2 ed. – Rio de Janeiro: WAK Editora, 2010.