Existe um elemento no ano de 2021 que imputou e promoveu uma verdadeira aposta de cancelamentos e desejos para que ele seja mais um ano apagado da memória de milhares de pessoas: foram mais 365 dias indescritíveis.
Para muitos, antes de seu fim ele já havia terminado, terminou praticamente logo após ter iniciado. Terminou diante de tantas dores e insegurança que assolaram o mundo.
Misto de sensações
Neste cenário é natural sentirmos um misto de sensações como: a ideia de finitude, emoções afloradas, a esperança pelo que o novo pode nos trazer de bom, com a entrada em uma nova fase da vida, além de angústias pinceladas de melancolia, saudosismos e depressão.
A famosa depressão de fim de ano que é decorrente de uma sensação de tristeza por revivermos na mente traumas passados ou um grande estresse ao longo dos últimos 365 dias.
Estresse pós-traumático
Mas especialistas de saúde mental acreditam que essa depressão poderá ser ainda mais devastadora. O estresse pós-traumático provocado pela pandemia, associado a perdas de milhares de pessoas, certamente, irá proporcionar transtornos psíquicos jamais vistos em anos anteriores.
É na reta final de um ano que, naturalmente, paramos para pensar e fazer levantamentos sobre as nossas conquistas e perdas ao longo dos meses. Nos enchemos de alegria com as transformações vivenciadas, mas também colecionamos expectativas frustradas e muita indignação e dor por lembrar daqueles que se foram.
Além disso, aumentamos nossa culpa interna para justificar projetos ou idealizações em que não obtivemos o resultado esperado. Por isso, para muitos, o fim do ano assume muito mais um aspecto depressivo e triste do que festivo.
Liberdades privadas
Desde 2020, quando teve início a pandemia, vivenciamos a limitação dos afetos paralisando o planeta. O decreto do distanciamento social e do isolamento, que fizeram com que o mundo vivesse algo inexplicável e sem precedentes. A saúde psicológica da maioria das pessoas foi devastada, pois está diretamente ligada aos seus direitos de posse e às suas liberdades.
Ao tirar uma, ou as duas, as pessoas se desintegram emocionalmente. E é o que temos visto, já que estatísticas mostram um aumento considerável dos casos de transtornos mentais. Em poucos meses, o vírus matou milhões de pessoas. Milhares infectados. Cientistas trabalhando incessantemente na conscientização das pessoas para que entendam que as vacinas podem ser a nossa salvação no êxito de contenção do vírus e de suas variantes. A verdade é que, tanto 2020 quanto 2021, foram anos do mundo às avessas. Anos extremamente difíceis de descrever. Onde o seu fim tem sido intensamente desejado por muitos.
Resiliência continua em pauta
Claro que, devemos nos manter esperançosos e resilientes para 2022. Mas para aqueles que perderam integrantes da família, e alguns perderam até mais de um membro em um curto espaço de tempo, inevitavelmente, acabam alimentando sentimentos mais pessimistas. Querem apenas o término de 2021. Querem deletar da memória todo um ano, mesmo que isso seja impossível de ser feito.
Mas é muito radical dizer foram anos perdidos. Anos que devem ser cancelados ou que não deveriam ter existido. Tivemos sim atrasos e retrocessos. Muitos projetos ficaram estacionados. Mas também nos apresentaram transformações e adaptações em todos os campos da vida.
O que vamos fazer com as lições que aprendemos de forma tão inusitada?Apagamos e fingimos nunca ter ocorrido? Não podemos negar que foram anos de grandes aprendizados. Aprendemos a incluir em nossos dias um novo modo de viver. Apesar das graves consequências sociais e emocionais da pandemia, vivenciamos gestos mais solidários. Pessoas que antes não olhavam para o lado, resolveram se mexer e ajudar, de alguma maneira, seu próximo.
O caos mostrou um novo jeito de viver que, através das redes sociais e do online, nos aproximou mais das pessoas que amamos e que, por vezes estávamos distantes. Idosos estão mais inclusivos nas tecnologias e o contato foi facilitado por um mundo virtual que tomou novas proporções.
Todos se reinventaram
Artistas se reinventaram para levar sua arte para a população, assim como médicos e profissionais de saúde mental também aderiram à telemedicina, proporcionando mais conforto e segurança aos seus pacientes. A colaboração com o próximo nunca foi tão intensificada. Exemplos empáticos se espalham pelo mundo.
Ações louváveis, afinal cuidar é um ato glorioso que tende a tornar o mundo muito melhor. A mudança na relação de higiene e cuidado, para se evitar doenças e promover uma melhor qualidade de vida, também se destaca dentro das novas rotinas.
Portanto, um dos pontos fortes foram as soluções encontradas para suportar o isolamento social estimulando a criatividade, o que demonstra que podemos adaptar a nossa capacidade de enfrentamento conforme o desafio proposto. Percebemos, a duras penas, que o decreto das prioridades e o modo operandis da comunicação global, sofreram alterações drásticas, mas, ao mesmo tempo, muito favoráveis.
Parâmetros de uma nova realidade
Estamos aprendendo a planejar horários e a descontruir a necessidade de aceleração, com os quais os conceitos de autodisciplina e autocontrole estão sendo melhor canalizados. Parâmetros de uma nova realidade trazida pela pandemia.
Enfim, não podemos negar que o ano de 2021 também mostrou um mundo diferente. Estamos num momento histórico, desafiador, inimaginável e, portanto, inesquecível, que marcará para sempre a todos que por ele passaram. É fato que, o ser humano se transformou, se não todos, a sua grande maioria.
A percepção de ruptura tem promovido a valorização dos detalhes e a busca por escolhas mais conscientes. Podemos administrar melhor essa sensação de impotência, que faz parte da condição humana, e fortalecer nossas esperanças em relação ao amanhã. Que possamos juntar todos os aprendizados dos últimos meses e transformar em lições, entendendo que apesar de tudo, podemos gerenciar nossas emoções e promover o nosso bem-estar.
Um ano realmente novo
Levando para o próximo ano, as mudanças de hábitos e os novos posicionamentos, que nos faz ser mais fortes, mais empáticos, mais cooperativos e menos imediatistas.
Que possamos assim, valorizar mais os pequenos detalhes, os afetos e, dentro da evolução humana, acrescentar ingredientes apimentados de harmonia, leveza e, principalmente, responsabilidades. Resgatando a esperança da chegada de um ano realmente novo e cheio de oportunidades, conquistas, com a chancela da plena certeza do nosso papel e de nossos valores, através de uma saúde mental equilibrada e saudável.
A valorização do autoconhecimento e equilíbrio emocional ficou evidente
Além disso, um outro ponto super positivo foi a conscientização e entendimento em relação à importância da saúde mental. O número de pessoas em busca de atendimento psicoterápico foi ampliado de forma considerável. A valorização do autoconhecimento e equilíbrio emocional, proporcionados pela terapia, ficou evidente.
Porém, nossa capacidade em ser resiliente está sendo colocada à prova a todo momento. Estamos sendo desafiados a fortalecer nossa percepção de mundo, para que assim possamos lidar melhor com o invisível e com nós mesmos.
Visto que, tudo aquilo que foge ao nosso controle, certamente, poderá desencadear inseguranças, além de transtornos, neuroses psíquicas e desajustes em nosso organismo. Mas constatamos, da pior maneira, que não temos o controle sobre nada. Descobrimos um novo universo que exige do indivíduo muito mais sanidade e equilíbrio, sem fugir da realidade. Gerando a necessidade de conciliar mundo interno com mundo externo de uma forma cada vez mais saudável.
Olhados por outro viés, muitos hábitos adquiridos em tempos de Covid-19, trouxeram a consciência do senso de urgência, o decreto das prioridades e a potencialização do senso de coletividade, como estratégias de contribuição para a evolução humana.
Tempos difíceis que contribuíram também para a aceitação e o reconhecimento dos nossos próprios limites, fortalecendo assim, as relações interpessoais. Trazendo ao consciente as aplicações do senso de pertencimento, da comunicação e da união; excelentes aliados na proteção de nossa sobrevivência física e mental.