Atualmente, a indisciplina escolar pode ser entendida como atitudes de insatisfação que os alunos expressam quanto a uma situação ocorrida no processo pedagógico, na relação pedagógica entre os sujeitos escolares, ocasionada por diversos fatores. Entre esses fatores, é possível mencionar as relações que ali, na escola, se desenvolvem entre aluno x aluno, professor x aluno, aluno x escola, a insatisfação com o conteúdo desenvolvido, o currículo praticado etc.
Podemos listar – como exemplo de atitudes de insatisfação – conversas paralelas, passividade na participação de atividades, respostas agressivas, não envolvimento em propostas pedagógicas, realização de tarefas paralelas ao conteúdo desenvolvido, utilização do celular sem autorização, entre tantas outras.
Construção do conhecimento
Diante do exposto, podemos pensar a indisciplina como as ações dos discentes – que podem ser originadas tanto por parte dos alunos como dos professores – que interferem na prática pedagógica, incidindo no processo de construção do conhecimento.
Tais ações podem ser desde algo que tenha muita algazarra e mexa com toda a turma até uma atitude individual e de passividade de um educando que se negue a participar de forma produtiva da proposta pedagógica (como por exemplo, aquele aluno que permanece “quietinho” no seu canto sem fazer nada).
Lidar com a indisciplina
As cinco dicas enumeradas e contextualizadas a seguir, e permeadas por outras tantas, são algumas possibilidades para lidar com a indisciplina escolar. Tais sugestões não são apenas ideias teóricas de um pesquisador acadêmico que não foram utilizadas na prática pedagógica do dia a dia, pelo contrário. Foram e são utilizadas no cotidiano pedagógico do autor deste texto.
O professor deve conhecer o conceito de indisciplina escolar. Para que possa lidar com situações de indisciplina é recomendado que o professor conheça não apenas o conceito que circula no senso comum e indica que apenas o aluno é o culpado, mas um pouco de sua discussão acadêmica para ter ciência de que situações de indisciplina podem ser geradas por diferentes fatores. Estes podem incluir tanto os discentes quanto o próprio professor e sua prática pedagógica.
Tendo essa visão, o docente, além de saber diferenciar uma algazarra produtiva de uma algazarra improdutiva e indisciplinar (pois nem sempre barulho nas aulas significa indisciplina), não se sentirá tão angustiado quando tal fenômeno acontecer em sua aula, pois terá ciência de que a indisciplina sempre esteve presente no ambiente escolar, não sendo exclusividade de um ou outro componente curricular.
O docente também deve averiguar o que a escola considera e entende como indisciplina escolar. Alguns professores não se atentam ou mesmo não procuram conhecer como a instituição onde trabalham define e classifica situações de indisciplina escolar, quais os direitos e deveres dos alunos e quais os procedimentos recomendados pelo estabelecimento para lidar com situações que conflitam com a regulamentação disciplinar do colégio.
Componente curricular
Para que as regulamentações e normatizações elaboradas pelo colégio sejam valorizadas pelos discentes, os docentes devem seguir o que ali foi combinado/determinado, caso contrário tal documento será desprestigiado e desvalorizado pelos alunos, não cumprindo seu objetivo que é padronizar algumas atitudes dentro do estabelecimento.
Caso os professores – ou mesmo os alunos – não concordem com o que está determinado naquele documento, deverão, em momento oportuno, participar das discussões e reuniões para elaboração do documento e ali, nas reuniões que envolvem todos os participantes da escola, tentar colocar suas ideias em discussão e não apenas criticar o material sem propor uma melhoria.
Orientações importantes
Expor e combinar o que pode e o que não pode nas aulas. No primeiro encontro com uma nova turma o professor e os alunos devem construir e determinar o funcionamento das aulas, ou seja, devem elaborar os combinados e determinar o que pode e o que não pode ser feito nas aulas.
Será o momento do professor, além de se apresentar para os alunos e eles se apresentarem; conversar e mostrar o que será desenvolvido naquele período (a proposta dos conteúdos que serão trabalhados); como é o seu jeito de dar aula (metodologia); quais serão os critérios e como serão as avaliações; entre outros itens que incidem nas aulas.
Feita a explanação inicial, é hora de abrir espaço para uma discussão junto com os alunos sobre as aulas. Cabe ao docente criar um roteiro para conduzir e organizar tal evento e não apenas lançar a ideia, mas envolver os alunos nesta construção e criar uma situação de comprometimento com o que for determinado naquele momento.
Alguns itens podem ser discutidos e alterados para cada turma, criando uma identidade para aquele grupo (como por exemplo: o posicionamento das carteiras, o deslocamento dos alunos dentro da sala de aula; a sistemática dos conteúdos e de algumas avaliações; o momento de falar e realizar questionamentos, momento de tomar água ou ir ao banheiro etc.) e outros devem ser obedecidos por determinação do colégio (como por exemplo: uniforme, horário da aula, utilização do celular sem fim pedagógico etc.).
Discutir os direitos e deveres
É o momento de discutir os direitos e deveres dos alunos na escola e nas aulas, de apresentar o conceito de indisciplina escolar, construir e mostrar para os discentes quais podem ser as consequências no caso de desrespeito aos combinados. Estas, as consequências, podem incidir na avaliação atitudinal do aluno e, caso acordado, até em comunicados aos responsáveis sobre as atitudes indisciplinares recorrentes dos discentes que atrapalham o desenvolvimento da aula.
Os combinados no primeiro dia de aula devem ser constantemente relembrados e cobrados durante o bimestre/trimestre para não caírem no esquecimento. Uma dica é deixar os combinados anotados no livro de chamada das turmas para não esquecer o contrato pedagógico de cada grupamento. Um contrato que não deve ser algo fixo e imutável, mas que pode ser alterado sempre que necessário e de comum acordo (professor e alunos) para melhorar a relação pedagógica no transcurso do bimestre/trimestre.
Planejar a aula
Se um dos fatores geradores de indisciplina está na própria postura do professor que pode propiciar espaço para situações de indisciplina por não preparar suas aulas, cabe ao docente eliminar essa possibilidade e realizar uma das tarefas de ser professor, ou seja, planejar com antecedência o encontro pedagógico. Isso não quer dizer que as aulas serão amarradas a um planejamento fixo, mas que devem ter um norte para orientar as possibilidades pedagógicas que ocorram nas aulas.
Os alunos percebem, valorizam e respeitam as aulas e atividades quando o professor planeja sua prática, realiza conexões com outras aulas que já aconteceram, resgata que tal conteúdo foi apresentado no início dos encontros e segue os combinados. Ou seja, eles percebem quando o professor se preparou para dar a aula.
Alguns alunos, aqueles mais desafiadores (ou indisciplinados), ao perceberem que a aula não teve um planejamento, e que o docente está improvisando, poderão, além de tumultuar e querer impor uma dinâmica para a aula diferente da pensada pelo professor, testar se o docente lembra o que pode ou não pode fazer na aula e se realmente seguirá os itens elencados, combinados e determinados no primeiro dia de aula. Quando os discentes percebem que o professor não segue o determinado no primeiro encontro, os combinados cairão em descrédito, e as aulas se tornarão mais estressantes.
Desgaste desnecessário
Para evitar um desgaste desnecessário na relação pedagógica e amenizar a possibilidade de indisciplina é interessante que o docente, ao iniciar a aula, realize uma conexão do que já foi trabalhado nas aulas anteriores com o que será trabalhado naquele dia, indicando o que espera da turma e como a aula foi planejada para ser desenvolvida. Nessa hora, as observações realizadas no livro de chamada são importantes para não esquecer o que aconteceu nos encontros anteriores.
No final da aula, no momento de realizar a conclusão do encontro é a ocasião oportuna para conversar sobre os combinados, elogiar as posturas positivas, apontar posturas negativas e, se for o caso, realizar os acertos que foram combinados no primeiro encontro.
Assim, o professor demonstrará que não esqueceu o que foi determinado com aquela turma, que valoriza os acertos e que está de olho nos alunos indisciplinados. É a hora de falar do que gostou e do que não gostou na aula.
Envolver todos os alunos
Para evitar que alguns atos de indisciplina na aula aconteçam nos momentos que os alunos ficam fora da atividade, as aulas devem ser planejadas de uma maneira que todos os discentes estejam realizando alguma ação voltada para a construção do conhecimento ou envolvidos, de um jeito ou de outro, com o objetivo proposto para aquela aula.
Caso não seja possível colocar todos os discentes simultaneamente para realizar as atividades práticas – seja por falta de material para uma prática especifica ou de um espaço maior onde o docente não consiga organizar diferentes estações de trabalhos para que todos os alunos realizem atividades –, o professor pode envolver os discentes na proposta da aula de diferentes maneiras, tais como: realizando a organização dos grupos, analisando o comportamento dos demais alunos, avaliando um quesito proposto para aquela aula, organizando uma equipe, conduzindo uma discussão, entre outras possibilidades que não propiciem espaço para uma ociosidade que gere indisciplina.
Algumas estratégias são interessantes
Evitar a indisciplina no transcorrer das aulas sempre que o docente necessitar falar com o grande grupo é interessante combinar um sinal para que fiquem em silêncio (pode ser um apito, uma contagem, uma música, bater palmas, entre outras possibilidades); quando os discentes se aproximarem é conveniente que fiquem na frente do professor aguardando a explicação ou discussão que será proposta. Com todos em frente ao docente todos verão e serão vistos, postura que coibirá alguns atos de indisciplina, pois negará o anonimato.
Durante a aula o professor deve fazer-se presente, ou seja, mesmo quando os discentes estiverem realizando alguma tarefa, construindo alguma atividade ou discutindo algum tema, o docente deve circular entre os grupos e manifestar elogios, críticas construtivas, correções e apontamentos, indicando que ele consegue visualizar o que está acontecendo em sua aula.
Ao perceber que algum aluno, ou alunos, estão realizando atos indisciplinares, pode aproximar-se deles, chamá-los pelos nomes (negando o anonimato), questionar se tal atitude está de acordo com os combinados e envolvê-lo(s) com a proposta do encontro questionando-o(s) sobre o tema da aula. Com essa postura o docente demonstra que está atento às atitudes que não estão em acordo com a aula e com os combinados.
O professor também deve pensar em maneiras aleatórias e pedagógicas – e não apenas centradas na vontade dos alunos – para organizar duplas, trios ou grupos para realização de determinadas atividades práticas nas aulas. No momento que tal responsabilidade é passada para os discentes, sem um cuidado pedagógico, os alunos, inicialmente, tendem a ser excludentes negando a participação e socialização de algum discente que não pertença ao seu grupo.
O momento da montagem e organização de grupos, caso não seja organizado com o olhar pedagógico do professor, pode ser – além de traumatizante para alguns discentes – propício para gerar situações de conflito e até mesmo bullying.