Baseada nos princípios da amorosidade e autoridade, que se aplicam utilizando bondade e firmeza no relacionamento com as crianças. Parte do pressuposto que o ser humano é um ser social que necessita conexão emocional, se constitui em seus vínculos e desde criança busca pertencer e cooperar, interessando-se por se adaptar ao ambiente familiar e social, respeitar as regras de convivência, ser aceito e respeitado.

Ao escolher essa abordagem rompemos com a permissividade (excesso de liberdade) e a rigidez (excesso de controle e autoritarismo) ou com as oscilações entre essas duas atitudes, tão comuns na hora de educar.

Sem adicionar sofrimento

É possível educar e disciplinar sem adicionar sofrimento, sem usar nenhum tipo de humilhação, punição ou violência, nem provocar propositadamente vergonha ou culpa nas crianças.

Em geral, para que uma criança coopere e se comporte de forma adequada, tudo que ela precisa é se sentir amada, aceita e ser encorajada. Havendo limites, consequências, orientação e diálogo focado em soluções, qualquer problema de comportamento pode ser solucionado. Nessa perspectiva falamos de cooperação, que se baseia no respeito mútuo e direitos iguais para crianças e adultos, e não de obediência, que se baseia no medo e na hierarquia rígida.

Importantes habilidades sociais

Uma pensadora na sistematização e difusão dessa metodologia é a terapeuta familiar, psicóloga e educadora Jane Nelsen, nascida nos EUA, vive na Califórnia e em 1981 publicou o seu primeiro livro. Ela defende que existem cinco critérios para que a abordagem seja eficaz: proporciona na criança um forte senso de conexão com a família, comunidade e escola; promove o respeito e o encorajamento, junto com os limites e regras; é eficaz para gerar comportamentos adequados à longo prazo pois considera o que a criança está criando, sentindo, pensando e decidindo sobre si mesma e seu mundo para viver e conviver bem; desenvolve importantes habilidades sociais para a vida, como autodisciplina, autocontrole, responsabilidade, autonomia e o gosto genuíno por ajudar; convida as crianças a solucionarem problemas, participarem de decisões, perceberem que são capazes de realizar tarefas, confiarem em si mesmas e em seu poder pessoal.

É importante dizer que as contribuições do psicólogo Alfred Adler e seu discípulo Rudolf Dreikurs são as bases sólidas da disciplina positiva. Adler (1870-1937) foi discípulo de Freud na Sociedade Psicanalítica de Viena, mas logo que começou a divergir de seu mestre formou seu próprio grupo e voltou seus estudos para o que chamou de sistema holístico da psicologia do desenvolvimento individual, focando em estudar a formação da personalidade, interessando-se por estudar crianças que eram enfermas, rejeitadas ou superprotegidas. Dreikurs (1897-1972), foi um psiquiatra e educador que desenvolveu o sistema de psicologia individual criado por Adler chegando em um método pragmático, que culminou na disciplina positiva, para o entendimento das causas do comportamento repreensível em crianças e para estimular um comportamento de cooperação, sem usar punição e recompensa.

Bem-estar social

Para Adler, o ser humano é capaz de colocar o bem-estar social acima do interesse próprio, adquirindo um estilo de vida que é formado na primeira infância, predominantemente orientado para o meio externo. A base de sua teoria é o interesse social, ele define o ser humano pelo seu objetivo final maior que é a vontade de poder, também chamado de busca por superioridade. Segundo sua teoria, os sentimentos de inferioridade decorrem de um senso de imperfeição em alguma esfera da vida e não são indícios de anormalidade, mas sim a causa de todo melhoramento na vida humana. Portanto, o sentimento de inferioridade e um senso de imperfeição, em dose certa, é uma grande mola propulsora da humanidade.

Adler e Dreikurs estudaram as influências que predispõem a criança para um estilo de vida desadaptativo ou patológico. Alertaram para os males da superproteção, que gera déspotas com dificuldade de empatia, que irão burlar regras sociais e impor aos demais seus desejos egoístas. E também sobre os males da rejeição, pois em geral, as crianças maltratadas na infância desenvolvem uma concepção de que o mundo é seu inimigo e um estilo de vida patológico, baseado em uma necessidade de vingança. Segundo Adler, as crianças com enfermidades físicas e mentais sofrem muito e irão se sentir fracassadas e deficientes diante das demandas da vida, no entanto, mesmo essas crianças ditas doentes, se tiverem pais e mães compreensivos e encorajadores, podem compensar suas inferioridades e transformar sua fraqueza em força.

De acordo com Jane Nelsen, encorajamento é a premissa básica da disciplina positiva e é a melhor forma de ajudar uma criança que está se comportando mal. Ao encorajarmos ela saberá que é capaz de mudar, que pode pedir ajuda, que pode influenciar o que acontece com ela e como ela responde ao que lhe aconteceu. O mau comportamento surge basicamente do medo de não ser aceito e amado ou de outros medos decorrentes desse medo básico, que são fatores geradores de ansiedade na criança.

Pontos fortes

As práticas de encorajamento incluem: respeito mútuo, tempo positivo, não esperar perfeição e sim melhorias, ênfase nos pontos fortes, redirecionar o mau comportamento, promover reparações, evitar a pressão social e ter momentos especiais com a criança. O encorajamento vai despertar o melhor em nós, sem correr o risco de gerar crianças que associem amor com ser aprovadas a todo tempo e em tudo o que fazem. Já o elogio é algo importante, mas prejudicial se for em excesso, pode gerar dependência da aprovação e apreciação do outro para nos sentirmos valorizados, pode tornar as crianças bajuladoras e inseguras. Um efeito do encorajamento na autoestima é que a longo prazo a criança se valoriza, mesmo quando o outro não lhe dá total aprovação, ela aprende a se autoavaliar de forma realista e encoraja a si própria ao invés de se cobrar e criticar duramente.

Percebemos que o mau comportamento, as vezes é só um comportamento mal interpretado pelo adulto, muitas vezes um comportamento causado por falta de maturidade e conhecimento. É também uma ausência de habilidades eficazes e comportamentos adequados do ponto de vista do desenvolvimento, podendo ser causado pelo desencorajamento. Por isso o mau comportamento é um pedido de amor e ajuda, quando a única opção que a criança encontra é a disputa por poder, vingança, desistência ou uma comunicação ineficaz para receber atenção.

E MAIS…

Crenças equivocadas de comportamento

Jane Nelsen define os quatro objetivos e crenças equivocadas de comportamento (p.60)

“1. Atenção indevida – a crença equivocada: Eu me sinto aceito apenas quando tenho a sua atenção.

2. Poder mal dirigido – a crença equivocada: Eu me sinto aceito apenas quando sou o chefe, ou pelo menos quando não deixo você manda em mim.

3. Vingança – a crença equivocada: Eu não me sinto aceito, mas pelo menos posso me vingar.

4. Inadequação assumida – a crença equivocada: É impossível ser aceito. Eu desisto.”

Mas muitas pessoas acreditam que a punição funciona e se perguntam se punir e recompensar não seriam estratégias mais eficazes para solucionar problemas de comportamento. É preciso ficar claro que a punição e recompensa podem ser eficazes a curto prazo, mas a longo prazo a punição e a rigidez trazem efeitos muito nocivos. Crianças que são educadas com frequentes punições e um controle rígido dos pais vão apresentar alguns sentimentos e comportamentos negativos como resposta: ressentimento, retaliação, rebeldia, recuo com dissimulação e redução da autoestima.

“De onde nós tiramos a ideia absurda de que, para levar uma criança a agir melhor, antes precisamos fazê-la se sentir pior? Pense na última vez que você se sentiu humilhado ou tratado de forma injusta. Você sentiu que estava cooperando ou melhorando?” (Nelsen, p.10)

Sabemos que grande parte dessa ideia que temos sobre educar com violência, castigos, gritos, críticas, controle e sermões usados para disciplinar veio do militarismo e de conhecimentos já ultrapassados. Hoje temos muitos avanços de estudos sobre o desenvolvimento infantil, no campo da neurociência e psicologia, que corroboram com a abordagem da disciplina positiva e comprovam os seus benefícios para formar sociedades e indivíduos mais felizes e saudáveis.

A disciplina positiva apresenta cerca de 52 estratégias que podemos utilizar no dia a dia, oferecendo uma verdadeira mudança de paradigma, muito mais cooperativo, amoroso e que ajuda a desenvolver a disciplina e a inteligência emocional de adultos e crianças, nos lares, escolas e outras instituições.

Referências:
NELSEN. “Disciplina Positiva”. 3°edição, revisada e ampliada – ed. Manole, São Paulo, 2015.
REIS, MAGALHÃES, GONÇALVES – Alfred Adler e a psicologia individual, cap.3 In: “Teorias da Personalidade”, ed. Pedagógica e universitária, São Paulo, 1984.