“Não existe certo ou errado referente a relacionamentos! Qual o contrato e combinados do seu?”
Utilizo a frase acima, quase que diariamente, em meu consultório. As pessoas chegam se queixando e reclamando de seus parceiros, e buscam minha cumplicidade e confirmação de que estão corretos em suas queixas, “que seus parceiros estão errados” e, geralmente, são frustrados e saem pensativos com a interrogação acima.
Você, que está lendo esse texto, saberia responder quais são os contratos e combinados do seu relacionamento atual, ou do anterior? Ou, o que gostaria para um relacionamento futuro? Vamos falar, a seguir, um pouco sobre tudo isso.
Não tem certo ou errado
Como podemos dizer que algum comportamento está certo ou errado, se não houve acordos?
“Ah! Fabiana, é obvio!” Não, não é obvio. As únicas coisas que são óbvias, e não necessitam de contratos, são todos os assuntos relacionados a leis e, tirando essas possibilidades, todo o restante é não óbvio.
Quando mudamos de país ou algum acontecimento de menor porte, mas não menos importante, como por exemplo quando mudamos de empresa, ou residência, precisamos ler e nos inteirar das novas leis e regras. Essas, sim, são pré-determinadas, e não há o que contestar – ou aceita ou nem propõe um acordo – lei é lei! Agora, por que quando entramos num novo relacionamento não conversamos e negociamos os contratos e combinados?
Mas o que são combinados?
Muito comum as pessoas dizerem que perguntam e fazem contratos e combinados. Eu pergunto: “me conte alguns”, e as respostas são quase sempre: “que seremos fieis”, “que falaremos a verdade”, “eu sei que ele gosta de esporte, e joga futebol com os amigos”, “eu sei que ela tem dois filhos adolescentes”, “quero um relacionamento sério”, “quero alguém que me dê atenção”, e assim por diante… Desculpem a franqueza (também sou assim em consultório), mas esses combinados e quereres mais parecem aqueles campos que as pessoas preenchem nos aplicativos de relacionamentos, incluindo, abaixo, as fotos sem camisa e ao lado dos seus bens materiais.
Pegando a frase acima “sei que ela tem dois filhos”, os combinados seriam: Como é sua relação com seus filhos, e como desejamos, VERDADEIRAMENTE, que seja essa relação quando estivermos num relacionamento?
Essa próxima frase então é a mais complicada e menos conversada: “que seremos fiéis“. E quando vem acompanhada da “que falaremos a verdade”? Nesse caso, um bom combinado seria perguntar o que é fidelidade e verdade para o parceiro; como se relacionarão quando o assunto for ex-namorada, ex-mulher, com filhos ou sem filhos; se terão acesso aos celulares, redes sociais… Contarão quais verdades? E se, por acaso, se apaixonarem por outra pessoa, se querem ser comunicados ou não, ou como querem ser comunicados. Pois isso são coisas que podem acontecer na vida. Ninguém está imune a gostar de outra por estar em um relacionamento sério. E não se pode catalogar como “uma sacanagem”, afinal pode não ser. O convívio com um colega do trabalho, por exemplo, pode fazer nascer sentimentos inesperados e não quer dizer que não há amor e respeito na relação em que se vive.
Fora o assunto do momento sobre os “relacionamentos abertos”. Ter ou não ter, eis a questão… esse será pauta para um próximo texto.
Maturidade emocional
Vou contar um segredo para vocês, “se relacionar, verdadeiramente, é coisa para gente grande, e com muita maturidade emocional.
Num relacionamento, são dois seres humanos com criações diferentes, expectativas e traumas também diferenciados. “O que é combinado não sai caro!”.
Escrevi, em texto anterior para esse Portal, em que digo que “divórcio é para os fortes!“, mas, permanecer casado ou num relacionamento sério, aberto ou monogâmico, também é para os muito fortes!
Intersecção e autoconhecimento
Relacionar-se é um aprendizado exclusivo dos seres humanos, que mobiliza e mexe com a curiosidade de todos os tipos de estudiosos, há milhares e milhares de anos. Eu digo que relacionamento é a parte da intersecção entre dois indivíduos. Aí é que entra a complexidade, pois cada individuo requer, indispensavelmente, de um super autoconhecimento de si, das suas relações familiares, relações amorosas anteriores, suas atuais vontades e expectativas referentes a uma nova relação ou atual, para só então dividirem, trocarem e iniciarem uma relação com maiores possibilidades de dar certo.
Pode parecer clichê, mas não é. Procurar um profissional especialista, psicólogo, psicanalista ou terapeuta, que melhor adeque ao seu estilo, é indispensável, na busca desse autoconhecimento e na busca de relacionamentos mais saudáveis.
Constelação Familiar Sistêmica para os relacionamentos
Bert Hellinger, pai da Constelação Familiar Sistêmica, diz sobre relacionamentos: “Nosso lugar original é o amor de nosso pai e de nossa mãe. Foi desse encontro que nós nascemos. Mas, mesmo assim, uma linhagem grande, de muitas pessoas que se encontraram e que vieram antes, compõe nossa origem em sua totalidade. E cada uma dessas pessoas amou um amor diferente. Por vezes, movimentos bruscos geraram a fagulha da vida que seguiu adiante. Movimentos que não entendemos e que recriminamos, mas que permitiu que algo tivesse seguido adiante. A dor de perceber isto muitas vezes também está contida na forma de como nos relacionamos, ou mesmo, como evitamos nos relacionar. Ainda que sejamos presentes do amor, somos também resultados de muitas formas de expressão desse amor ao longo do caminho”.
A dissertação acima, de Bert Hellinger, a meu ver, é perfeita para explicar didaticamente o que estou querendo transmitir nesse texto. Somos seres individuais, com nossas complexidades herdadas dos nossos ancestrais, somadas às nossas experiências e vivências atuais. Como relacionar-se sem autoconhecimento de todas essas teias relacionais? Como viver essa intersecção, que chamamos de relacionamento, sem contar ao outro quem nós somos e o que desejamos desse relacionamento, nos detalhes, nas sutilezas, na transparência e na profundidade?