No artigo anterior, abordei a questão do aluno como centro do processo educativo, e mencionei a respeito das eventuais dificuldades em se aplicar as metodologias ativas de aprendizagem como instrumentos para esta finalidade. Nesta continuação, abordarei as principais metodologias ativas e suas técnicas de aplicação.
Antes, porém, de adentrar nos caminhos específicos de tais metodologias, falarei sobre metodologias ativas de um ponto de vista mais amplo, ou seja, das atividades em si. João Mattar (2017), em seu livro Metodologias Ativas: para a educação presencial, blended e a distância, ressalta que o termo metodologias ativas, lato sensu, pressupõe a atividade do aluno mas, citando Ruth Clark e Richard Meyer, a atividade em si, para representar aprendizagem efetivamente, requer não somente o envolvimento comportamental, mas também – e principalmente – o envolvimento psicológico. O autor acrescenta, ainda, o envolvimento emocional, que também afetaria a aprendizagem.
Diversas dimensões
De fato, quando pensamos em atividades ativas para o aluno, lato sensu, pensamos naquelas em que o aluno está amplamente envolvido no processo, tanto em termos comportamentais e psicológicos, mas também em nível emocional. Porém, levando em conta que não temos como separar processos de pensamento e de comportamento dos processos emocionais, em termos do processamento cerebral, podemos inferir que todo processo comportamental e psicológico pressupõe um envolvimento emocional (positivo ou negativo, já que o comportamento emocional ou a resposta às emoções e sentimentos envolve a qualidade deste comportamento). Ou seja, o processo ocorre como um contínuo das diversas dimensões que compõem o processo de aprendizado do aluno e não há, portanto, como separarmos o que é comportamental, psicológico e emocional de tais atividades.
Portanto, como atividades ativas, temos toda atividade que coloque o aluno como centro do processo educativo, mas que tenha objetivos claros dentro de um planejamento de médio e/ou longo prazo, e cuja função é a de promover o envolvimento deste aluno na construção de seu próprio conhecimento. Neste sentido, lembro muito das aulas de educação infantil, em que os alunos são convidados, em boa parte do tempo, a interagirem e a se envolve ativamente no processo de construção de seu conhecimento. Mesmo naquelas atividades em que o aluno efetivamente reproduz o comportamento desejado, não há como não dizer que ele é um participante ativo. Estas atividades em si, entretanto, não constituem necessariamente metodologias ativas, pois não atendem a todos os quesitos das metodologias como estratégias pedagógicas mais amplas, dentro do contexto educacional. Podem, sim, ser consideradas como técnicas específicas de aplicação dentro de uma determinada metodologia, mas, na prática, raramente vemos uma coerência lógica do uso de tais atividades em um contexto de uma metodologia ativa específica.
Metodologias de aprendizagem
Quais seriam, portanto, as principais técnicas atualmente consideradas dentro das metodologias ativas de aprendizagem? Moran (2018) cita algumas:
- Inverter a forma de ensinar – a base daquilo que chamamos de sala de aula invertida, na qual o aluno age como um pesquisador a partir de temas propostos, estuda antes, durante ou após a aula, e debate em aula com os colegas e o professor sobre os pontos que entendeu, não entendeu ou de que forma entendeu, para uma construção coletiva desse conhecimento.
- Aprendizagem baseada em investigação e em problemas – na aprendizagem baseada em investigação, os alunos são instigados a levantar problemas e questões, individualmente ou em grupo, buscando possíveis soluções e interpretações. Na aprendizagem baseada em problemas, várias questões são levantadas a partir de um problema posto em temas diferentes, que deve gerar soluções a partir de um roteiro ou fases a serem cumpridas.
- Aprendizagem baseada em projetos – os alunos são desafiados a desenvolver um projeto que seja conectado à sua vida além da sala de aula, trabalhando individualmente e em equipe. Neste sentido, este tipo de técnica busca desenvolver a colaboração, pois embora haja momentos de aprendizagem individual, o projeto deve ser elaborado e resolvido coletivamente.
- Aprendizagem por histórias ou jogos – no primeiro caso, ocorre através de narrativas (contação de histórias) e relatos vivenciais (histórias em ação), ou por meio de jogos, que são inerentemente desafiadores, motivadores e despertam a criatividade e a imaginação. Há vários jogos educativos que podem ser personalizados para diferentes conteúdos e necessidades.
Muito além de trazer o debate teórico sobre as metodologias de aprendizado, o mais importante é pensar na enorme relevância prática de tornar o aluno centro do processo educativo, para que ele possa desenvolver o protagonismo que necessitará para as demais etapas acadêmicas e, também, multiplicar essa ação para sua própria vida, tornando-o cada vez mais dono de sua história.
Atividades estratégicas
Esta abordagem foi baseada no trabalho de Camargo e Daros (2018), do qual extraímos algumas atividades interessantes, as quais tem como estratégia fundamental tornar o aluno o centro do processo educativo.
Análise de Todos os Fatores ou Ideias (ATF/I) – é uma abordagem na qual se utiliza um problema ou assunto central que deve ser discutido e debatido pelos alunos para levantarem os fatores ou ideias mais relevantes, que já foram ou não consideradas, sobre o tema em discussão. A turma é dividida em grupos, sendo que cada grupo preenche um modelo ATF/I. Depois de preenchidos, os modelos serão sintetizados em um único formulário, com todas as ideias. Esta estratégia enfatiza o poder da colaboração e da coletividade.
Aprendizagem em Espiral – esta estratégia visa possibilitar maior visão analítica do aluno, bem como poder de crítica e de síntese. A partir de um texto base, disponibilizado antes ou durante a aula, é entregue aos alunos uma ficha modelo específica, com questões previamente escolhidas sobre o tema. Após a leitura inicial, o aluno registra o que compreendeu sobre o texto todo ou parte dele, conforme o que for solicitado, fazendo uma síntese. Em seguida, cada aluno se agrupa com outro par, mais dois ou mais três alunos, e debatem os registros individuais, cada um realizando anotações das ideias do(s) colega(s). Após esta etapa, cada grupo expõe sua compreensão para todos da turma, e todos devem registrar uma síntese de cada grupo. O professor faz a mediação dos debates e aprofunda o conhecimento.
Árvore de Problemas – nesta estratégia, os alunos são divididos em grupos e incitados a resolver um problema, a partir da técnica de brainstorming (tempestade de ideias, na qual as ideias que surgirem a partir do problema devem ser livremente registradas para posterior debate/refinamento). O problema será o tronco da árvore, as causas serão as raízes da árvore e os efeitos ou consequências serão os galhos ou folhas da árvore, que pode ser montada em papel a partir de post-its. Após a confecção da árvore, os grupos debatem, mediados pelo professor, as diferentes visões, com suas convergências e divergências, para tentarem montar um quadro comum de ideias a respeito daquele problema.
Construção de Situações-Problema ou Cenários de Aprendizagem – situações-problema podem ser construídas pelos alunos, com base em informações básicas do professor dentro do conteúdo a ser trabalhado, ou podem ser simplesmente fornecidas diretamente pelo professor. No entanto, enfatiza-se que o problema escolhido deve dar margem a construções práticas, e as situações devem envolver habilidades que os alunos possuem. Igualmente importante é a definição clara do que os alunos devem realizar, por meio de objetivos claros e atingíveis, bem como dos recursos que terão disponíveis para resolver o problema.
Estudos de Caso – trata-se de um problema específico a ser solucionado por um grupo de alunos, que deverão definir os objetivos a alcançar e deverão entrevistar colegas de sua turma ou outras turmas com perguntas previamente elaboradas com o professor. Outra versão é a pesquisa bibliográfica, ao invés das perguntas. A partir das entrevistas ou pesquisa, deverá ser elaborado um relatório sobre a percepção dos alunos entrevistados ou sobre o resultado da pesquisa, que poderá ser posteriormente dividido no grupo.
Mapa Mental – nesta estratégia, um conteúdo a ser definido pelo professor é apresentado à turma, que deverá construir o mapa mental da seguinte forma: cada um deve selecionar uma imagem que melhor reflita o conteúdo trabalhado (pode usar colagem, desenho ou impressão) e, a partir deste desenho central, desenhar linhas com as principais palavras-chave do conteúdo. A partir daí, para cada palavra-chave, estipulará linhas finais. Na linha principal, colocará imagens das ideias associadas. Assim, por exemplo, da linha comunicar, que sai da ideia central Relacionamento, podem sair linhas nas quais se lê celular, televisão, cartas etc.
Estas estratégias são apenas algumas de inúmeras que estão disponíveis no livro dos autores citados, bem como em outras obras e também disponíveis em diferentes canais de informação na internet. O objetivo aqui é unicamente demonstrar a enorme variabilidade de estratégias que devem ser pensadas para a realidade das diferentes faixas etárias, conteúdos e contextos educativos, e propor ferramentas que podem ser exploradas nesse novo contexto da educação em que vivemos.