A coletânea ‘O corpo que resta… Corpo, luto e memória’, publicada pela editora Appris, traz temas sensíveis ao Brasil que ultrapassou 680 mil mortos pela covid-19. A proposta do trabalho, produzido no bojo da pandemia, é apresentar reflexões sobre a nova relação com o corpo, a necessidade de criar uma memória e a impossibilidade de elaboração de um luto, tanto individual quanto coletivo.

Com organização das professoras Joana de Vilhena Novaes, do Programa de Pós-Graduação em Psicanálise, Saúde e Sociedade da Universidade Veiga de Almeida (UVA), e Junia de Vilhena, do Departamento de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio), o livro reúne 15 capítulos em 250 páginas com olhares e perspectivas de outros nomes de destaque na área, como Auterives Maciel, Daniel Kuperman, Edson Luiz André de Sousa, Joel Birman, Pedro Duarte e Tania Dauster.

Qual sociabilidade será possível depois de tanto isolamento, lutos e traumas vividos? Joana responde a essa indagação que está na introdução do livro: “Em tempos de isolamento, como os que vivemos, a atenção à saúde mental e o cuidado psicossocial tornaram-se prioridade. Mas no Brasil, diferentemente de outros países, o que determinou quem viveu ou morreu em decorrência das complicações do vírus são fatores socioeconômicos, com componente racial muito forte entre os determinantes de risco”, afirma.

Para o psicanalista Joel Birman, que assina o capítulo ‘Trauma, psicanálise e a pandemia do coronavírus’, a recessão econômica e o crescimento do desemprego durante a crise sanitária também trouxeram outros problemas graves. “Não é por acaso que, ao lado das mortes e contaminações provocadas pela pandemia, ocorreram perturbações psíquicas, como pânico, depressão, aumento do uso de álcool e drogas, violência doméstica e suicídios”, relata ele.

O aumento da violência contra mulheres na pandemia é outro tema abordado no livro. Junia, que escreveu o capítulo ‘Silenciando o corpo feminino: considerações sobre o não sexual do estupro’, diz que, com a pandemia, as mulheres vêm sofrendo mais agravos à saúde. De acordo com levantamento do Datafolha, encomendado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, ‘Visível e invisível: a vitimização de mulheres no Brasil’, datado de 2021, 4,3 milhões de mulheres brasileiras de 16 anos ou mais (6,3%) foram agredidas fisicamente com tapas, socos ou chutes. Isso quer dizer que, a cada minuto, 8 mulheres apanharam no Brasil durante a pandemia do novo coronavírus.

A necessidade das utopias e do sonhar, essenciais para a vida, estão no artigo ‘Sonhar juntos para não naufragar’, de Edson de Sousa. E a necessidade da elaboração do luto de diferentes formas inspirou vários autores na coletânea, como Marcos Comaru, Pedro Duarte, Daniel Kupperman, Joana Novaes e Maria Helena Zamora.

Sobre as organizadoras e autoras

Joana de Vilhena Novaes é doutora em psicologia clínica (PUC-Rio), pós-doutora em psicologia médica (UERJ) e pós-doutora em psicologia social (UERJ). Coordena o Laboratório de Práticas Sociais Integradas (Lapsi) da UVA e o Núcleo de Doenças da Beleza do Lipis/PUC-Rio. É professora do Programa de Pós-Graduação em Psicanálise, Saúde e Sociedade da Universidade Veiga de Almeida.

Junia de Vilhena possui graduação em psicologia (George Washington University), mestrado em ciências sociais (Catholic University Of America) e doutorado em psicologia clínica (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo). É professora associada aposentada da PUC-Rio, onde também coordena o Laboratório Interdisciplinar de Pesquisa e Intervenção Social (Lipis).

Ficha técnica

Título: O corpo que resta… Corpo, luto e memória

Organizadoras: Joana de Vilhena Novaes e Junia de Vilhena

Editora: Appris

Páginas: 250