Codependência é uma nomenclatura da área de saúde utilizada para se referir a pessoas com forte vínculo emocional a uma pessoa com algum tipo de dependência e/ou compulsão.
Vamos lembrar que, de acordo com o dicionário, dependência é “pessoa que não se consegue desligar de um hábito, especialmente de um vício; sujeição: dependência física; necessidade excessiva de auxílio, ajuda, proteção: dependência emocional; o que adiciona conteúdo a ou completa o sentido de; complemento.”
Mas, por que estamos falando sobre dependência e, principalmente, codependência, numa coluna sobre relacionamentos?
Muito se sabe e se fala sobre dependência e codependência química, mas pouco sobre dependência emocional, e quase nada sobre codependência emocional, em especial nos relacionamentos amorosos.
As queixas no self terapêuticos
É muito comum, muito mesmo, pessoas chegarem ao consultório reclamando, e com razão, de seus parceiros, como: “gostaria de ser o celular do meu marido, ficaria contente com 10% do cuidado e importância que ele dá ao celular”, “como posso ter filho com ela, se sou eu quem controla todo o financeiro? Ela não sabe administrar nem a conta corrente dela, o que dirá os custos de uma maternidade!”, ou “ele prefere o vídeo game e o futebol, a fazer sexo comigo. Vira noites no game e não perde o futebol semanal, nem com febre”, ou, ainda, “meu marido já me traiu várias vezes, ele não consegue ficar só comigo. Eu ofereço tudo, mas parece que nada lhe basta. Como faço para ele perceber os prazeres de ter uma família e uma vida estruturada?”.
Após as queixas, eu pergunto: “e o que você faz quando seu parceiro (a) tem esses comportamentos excessivos?” Quase sempre a resposta é: “eu reclamo!”. E o que seu parceiro (a) diz na sequência? – eu pergunto. “Diz que eu reclamo demais, ou que é um absurdo eu estar com ciúmes do celular, game ou amigos”.
Então, vocês se identificaram com alguma parte, ou com o todo, nesses diálogos? Há uma enorme possibilidade de você ser codependente, e estar reforçando o comportamento que você considera inadequado em seu parceiro.
Codependente é uma pessoa que tem deixado o comportamento de outra afetá-la, e é obcecada em controlar o comportamento dessa outra pessoa. Ela quer mudá-la, salvá-la.
Discurso simbiótico
Muito comum, também, é o codependente ter o discurso de “Ele não encontrará alguém que o suporte como eu. Ninguém suportaria isso!” ou “O que será da vida dela se eu separar as nossas contas bancárias?” – e minha resposta geralmente é: “enquanto seu parceiro não entender que é um dependente, e quiser tratamento, ele (a) simplesmente encontrará outra (o) codependente”. E, o mais impressionante, é ver o desespero nos olhos do paciente quando eu digo a frase acima. Muitas vezes, acompanhado da exclamação “Ah! mas isso eu não quero! Não quero que ele fique com outra pessoa!”
O codependente acredita que sua felicidade depende da pessoa que ele tenta ajudar, e assim se torna dependente dela emocionalmente, sendo excessivamente permissivo, tolerante e compreensivo com os abusos do outro, mesmo que este seja excessivamente controlador, perfeccionista e autoritário. É comum que o codependente coloque as necessidades do outro acima de suas próprias, e depois reclama que faz tudo para o outro, e ele não reconhece.
Padrão de comportamento
Estudos em Psicologia referem-se à codependência como um padrão de comportamento que aprendemos para nos proteger da sensação de estar fora de controle. Algum trauma que aconteceu em nossas vidas, algo que estava fora do nosso controle, e agora queremos controlar tudo, incluindo os relacionamentos. Infelizmente, esquecemos que não temos o controle de nada, especialmente do outro.
Por exemplo, uma criança com pai alcoólatra, que o vê frequentemente chegar bêbado em casa, dando vexame e não conseguindo manter-se em nenhum emprego. Há uma grande possibilidade de essa criança tornar-se um adulto que se relacionará com parceiros com instabilidades profissionais, por causa de alguma dependência, muitas vezes velada e, geralmente, que não o alcoolismo. Irá ajudá-lo, auxiliá-lo, fará com que ele cresça em sua carreira, pagando faculdade, cursos etc., mas o parceiro a trai, troca-a por vícios sociais e/ou vícios químicos, e o pensamento geralmente é “fiz tudo para você crescer na carreira, você não tinha nada antes de mim, e é assim que você retribui?”. Vocês percebem, nesse exemplo, que esse adulto tentou salvar o pai, no parceiro? e é assim mesmo. Esse adulto tentará, desesperadamente, salvar o pai, do qual não tinha controle na infância, tentando e achando que pode controlar e salvar os parceiros.
A exigência pela reciprocidade
Pode ocorrer em pessoas que lidam com dependentes químicos, compulsivos (jogos, alimento, sexo), pessoas que possuem algum tipo de deficiência mental ou física, narcisistas, entre tantas outras. Muitas vezes, pensamos que somos a melhor pessoa do mundo, porque agradamos aos outros e não a nós mesmos.
Interrompemos nossas atividades para atender ao chamado alheio. Fazemos sempre mais do que os outros nos pedem e, habilidosamente, antecipamos seus desejos e abrimos mão dos nossos com extrema facilidade. Depois, ficamos chateados quando os outros não fazem o mesmo por nós! Esse é o comportamento, sentimento e pensamento clássico do codependente.
Nem toda forma de apoio, compreensão e altruísmo são problemáticos, eles podem ser muito úteis e importantes para o funcionamento da família; só se tornam problemáticos quando causam grande sofrimento aos envolvidos e não ajudam a resolver o comportamento patológico da pessoa-problema. Cuidado! Não há como ajudar quem não quer, percebe ou acredita que não precisa de ajuda!
Sinais e sintomas
Algumas das características do codependente, segundo o livro “Codependência Nunca Mais“, de Melody Beattie, são:
- Considerar-se e sentir-se responsável por outra(s) pessoas(s) – pelos sentimentos, pensamentos, ações, escolhas, desejos, necessidades, bem-estar, falta de bem-estar e até pelo destino delas.
- Sentir ansiedade, pena e culpa quando a outra pessoa tem um problema.
- Sentir-se compelido – quase forçado – a ajudar aquela pessoa a resolver o problema, seja dando conselhos que não foram pedidos, seja oferecendo uma série de sugestões ou equilibrando emoções.
- Ter raiva quando sua ajuda não é eficiente.
- Comprometer-se demais.
- Culpar outras pessoas pela situação em que ele mesmo está.
- Dizer que outras pessoas fazem com que se sinta da maneira que se sente.
- Achar que a outra pessoa o está levando à loucura.
- Sentir raiva, sentir-se vítima, achar que está sendo usado e que não se sente sendo apreciado.
- Achar que não é bom o bastante.
- Contentar-se apenas em ser necessário a outros.