Com algoritmos, inteligência artificial e estudos de imagens, a ciência moderna desenvolveu tecnologias que permitem aprofundar o conhecimento da mente humana.

Renomados neurocientistas como Ledoux e Damásio constataram, como exemplo, que emoções, sentimentos, consciente e inconsciente, não são produzidos apenas no Sistema Nervoso Central, no cérebro, mas no corpo como um todo.

O objetivo maior seria manter uma homeostase, uma intercomunicação contínua, indispensável para a sobrevivência. Com robôs, é possível a reprodução deste conjunto, mas eles não têm sentimentos, muito menos a subjetividade e o contato intersubjetivo com o outro.

Vazio existencial

Temos observado que o excesso de atividades com o mundo virtual também conduz muitas pessoas à um vazio existencial. Eles parecem submergir numa bolha, num vácuo, onde o humano pouco transparece. Ou seja, o viver, mais intensamente não é alcançável apenas pela razão, pela lógica.

Subjetividade é o espaço interno do indivíduo onde ele com sentimentos relaciona-se consigo próprio e com o mundo externo. Este último imprime nele marcas singulares inclusive pela religião e civilização.

Destacamos algumas obras recém lançadas que colocam importantes temas em pauta.

Funcionamento mental

Quanto ao primordial no homem moderno, seu predominantemente inconsciente advindo da evolução das espécies, da vida primitiva que ele continua contendo dentro de si, no seu corpo e cérebro, parece indiscutível que transformado ou evoluído em emoções e sentimentos influência não somente a consciência, mas os comportamentos, o prazer e o sofrimento, os afetos.

Quando ocorre uma desorganização do mesmo em grau elevado a doença mental e suas sintomatologias acabam predominando.

Para um conhecimento ampliado do funcionamento mental, considerar várias áreas, várias ciências tanto humanas como biológicas, parecem indispensáveis e essa intercomunicação tem sido tentada através de analogias.

Mundo emocional

No livro O primordial no homem moderno, um artista plástico renomado muito deprimido ou vivenciando um vazio enorme não consegue mais pintar, estava engolfado dentro de um vácuo existencial.

Em terapia, ele raramente manifestava-se por queixas diretas, mas por esboços multicoloridos e eventualmente poesias. Com isto ele conseguiu reconstituir seu mundo emocional, suas ideias do não viver desanuviaram.

Ele inclusive por própria iniciativa suspendeu o tratamento medicamentoso pois percebia que ele prejudicava sua espontaneidade, sua criatividade, sensibilidade.

Neste caso, bem como em muitos outros, Isac e Patrícia utilizaram o contato psicoterápico dual, presencial, diferenciando-se de autores clássicos pioneiros como Nise da Silveira e César Osório que apenas forneciam o material para que a produção artística ocorresse no tratamento das doenças mentais de pacientes internados.

Superação e resiliência

Quanto ao livro sobre Bullying a professora de arte Robinéia também com desenhos, pinturas, poesias e relatos conseguiu uma comunicação maior com um dos seus alunos. Seven (nome fictício), que era constantemente agredido, rejeitado pelos colegas no seu isolamento.

Com o sofrimento ele chegou a planejar comprar uma arma para se vingar daqueles que o maltratavam.

O benefício obtido foi evidente, ele voltou a estudar, o bullying quase desapareceu. Ele se reconstituiu emocionalmente conseguindo direcionar sua vida até profissional.

Portanto, em todos os casos das obras destacadas, é possível ver surgir uma linguagem que não usa somente palavras de dicionário, mas formas de representação e expressão carregadas de vida, sentimentos e emoções. Afinal, a vida é uma arte.

E MAIS…

Documentário no divã

O documentário ARTE, CIÊNCIA E UM DIVÃ, produzido pela Cão Bravo e dirigido por Adriana Siqueira Lopes oficialmente selecionado pela BIMIFF-Brazil International Montlhy Film Festival, onde está sendo indicado para o prêmio de melhor documentário e filme brasileiro, complementa esta trajetória, além de obras de Egas Francisco e Seven e também de outros artistas e pacientes com diversos diagnósticos psiquiátricos, instalações e performances com música e ballet inéditos serão apresentados no MACC-MUSEU DE ARTE COMTEMPORÂNEA DE CAMPINAS em outubro e novembro de 2022.