Aristóteles, filósofo grego afirmou que o homem por natureza, é um animal político. Sendo assim a política é uma necessidade imperiosa para a vida humana, tanto para o sujeito como para a existência da sociedade. O humano precisa de um outro humano para ter um provimento de vida, sem o qual não será possível sobreviver, assim, se estabelece um convívio e uma conjuntura socio-política. Isto significa que a política irá influenciar e afetar o corpo e a mente das pessoas, tanto para uma construção produtiva, quanto para um desequilíbrio.

A política é uma arte ou ciência da governabilidade, tem modos de organização dependendo da cultura; o termo refere-se à habilidade de se relacionar com pessoas.  O objetivo global é garantir a vida no seu sentido mais amplo. Mas a política em si, é perpassada pelos afetos, pela moral e pelos preconceitos, assim como o psiquismo.

Impasses da cultura

A Psicologia, por sua vez, diz que somos seres sociais, dependemos uns dos outros para nos constituir como sociais e vivermos em sociedade.

Hannah Arendt, filósofa, diz que a política é a convivência entre os diferentes. A autora coloca que os “homens se organizam politicamente para certas coisas em comum, essenciais num caos absoluto, ou a partir do caos absoluto das diferenças. Este caos remete ao desamparo, alteridade, diferença e a busca de liberdade.

Sigmund Freud, o criador da Psicanálise, em seu conceito sobre o falo, diz que é a diferença que organizará a estrutura psíquica e a sexualidade humana, percebe-se que os conceitos políticos, filosóficos e psíquicos se dialogam na estruturação do humano. A complexidade da formação do sujeito, vai refletir diretamente nas questões do psiquismo e no funcionamento social, tornando impossível uma igualdade entre os humanos.

O inconsciente é político

Freud coloca que há três profissões impossíveis, são elas:  governar, educar e curar.  Não é possível governar para todos, educar integralmente ou esgotar a análise do inconsciente (lugar onde se aloja a causa do sofrimento humano). Desta forma somos engendrados nos impasses da cultura, que gera sintomas físicos, psicossomáticos e emocionais. Os conflitos geram o mal-estar da cultura.

Jacques Lacan, outro psicanalista renomado diz que “o inconsciente é político”, faz parte do discurso do Outro (grande outro – este que fala o bebê). Sendo assim, a constituição de um sujeito, se dá pela relação entre um infante e um adulto que vai “falar” o seu bebê para transformá-lo do filhote à filho do homem.

Como visto acima, os apontamentos de autores renomados na área filosófica, psicanalítica, psicologia mostram que os seres humanos vivem em sociedades políticas e existe a vinculação entre sintomas e a vida política, seja na forma como os sintomas denunciam as massificações dos sujeitos, ou na força de produção de sintomas pela vida em sociedade.

A vida em sociedade demanda certo grau de sujeição, de repressão, que tem a sua participação efetiva na formação de psicopatologias. O atravessamento do social deixa marcas indeléveis no psiquismo e influencia não apenas como as pessoas se portam em sociedade, mas também a singularidade de cada um, formando assim as divergências.

Desamparo social  

Na evolução da humanidade pode-se acompanhar grandes movimentos sociais que marcaram as comunidades, como por exemplo as comunidades mais naturais em que predominavam mais a liberdade entre os sujeitos, que logo veio o banimento, porque uns acreditam nas curas naturais, outros diziam que era bruxaria. Na sociedade vitoriana começa a institucionalização, na contemporânea os embates políticos, o que demostra que a pluralidade das singularidades impera na civilização. Diante disso que Freud afirma no seu texto o Mal-Estar da Civilização que o homem jamais será feliz, não sentirá o sentimento oceânico de plenitude, pois, sempre estará em conflito.

A realidade que estamos vivendo em nosso país, que predomina o discurso de ódio, os conflitos se fazem presentes.  Faz com que as pessoas se sintam de forma extrema o desamparo, isso faz com que aumente e/ ou agrave as psicopatologias, como: depressão, melancolia, síndrome de pânico, violência, suicídios, surtos psicóticos, entre outros.

Aniquilamento mundial

A política hoje no Brasil traz um completo desconhecimento da própria etiologia da palavra, o que é para organizar uma sociedade, se torna uma forma de aniquilamento do desejo, do amor e da fraternidade.

O governo da Nação não governa para todos. Provoca o desgoverno quando incentiva o discurso de ódio, a divisão de partidos políticos, promove fake News, incentiva a violência com slogan de armas, incentiva a discriminação racial, sexual, desmonta serviços públicos de saúde, educação, banalização da vida com o descaso da Covid-19. Atos de negação e desprezo pela vida, pela ciência, pela política em prol do individualismo.  O processo de massificação das informações utilizando as redes sociais criou um “reality show” da desinformação patológica, deixando a sociedade cada vez mais adoecida, totalmente desamparada.

É importante ressaltar que esta política não está acontecendo só no Brasil, pode-se acompanhar nos Estados Unidos, no Reino Unido, Itália, principalmente relacionado ao colapso da saúde provocado pelo Covid-19.  Estes apontamentos sobre posturas políticas desestabilizadoras é para apontar que tem consequências graves no psiquismo humano, aumentando os sintomas e colocando em risco a vida humana como constatado pelo aumento de suicídio.

Políticas públicas urgentes

A complexa realidade de hoje, em relação a saúde psíquica e física da população aponta para a necessidade de um grande esforço das políticas públicas para estabelecer diretrizes, ações, intervenções aplicáveis a todos.

É urgente que retomemos o caminho da governança para que o povo possa novamente sentir-se seguro, protegido e começar a se reerguer do caos que está posto. Está na constituição do sujeito de que necessitamos de um Grande Outro que nos ampare, encaminhe, este Outro na política são os governantes que se colocaram para representar e defender os interesses do seu povo. Quando isto é apenas um imaginário, em que a fala não condiz com uma atitude, cria-se o descrédito, a insegurança e o sujeito sentem-se amedrontado com medo da aniquilação. Este é o processo psíquico que se vive neste momento político, o que provoca conflitos e desequilíbrios mortíferos.

Seria necessário um responsável trabalho de saúde pública que pudesse atender a todos que precisam, mas para isso é necessário que haja um governante. Quanto a política precisa tomar o caminho da ética e fazer valer a sua premissa fundamental que é governar para todos, respeitando a singularidade das diferenças.

E MAIS…

A alta demanda da sociedade adoecida

A contribuição da Psicologia, Psicanálise é significativo no sentido de apresentar teorias sobre o psiquismo, as emoções e suas patologias; e clínicos através dos atendimentos em consultórios, clínicas sociais, como por exemplo a Clínica Ana Joaquina, ligada ao Sindicato dos Psicanalistas do Estado de São Paulo, que atende a população de acordo com as condições financeiras. Tem outras várias clínicas ligadas as instituições formadoras de Psicanálise e nas Clínicas das Faculdades de Psicologia, mas ainda é muito pouco em relação a alta demanda da sociedade adoecida.