O comentarista do esporte Milton Neves enfrenta um luto persistente, seguido por depressão, desde a morte de sua esposa, há quatro anos. Ele relata que o momentos de melancolia e triste são intensos e, raras vezes, consegue segurar o choro que insiste em cair.
O casamento de 42 anos foi interrompido pelo falecimento da mulher, após a descoberta de um câncer. A partir desse fato, a convivência social de Milton diminuiu e ele relata estar passando a maior parte dos dias deitado, revivendo as memórias do período em que sua parceira de vida o acompanhava.
Quando o luto termina?
Antes de tentarmos esclarecer essa dúvida, precisamos definir o luto e suas fases. Identificar qual importância ele tem em nossa vida e quais os benefícios podemos ter se aprendermos a construir internamente esse processo, de forma a minimizar a dor e equilibrar as emoções e os sentimentos.
O luto é uma experiência emocional profunda e individual que se define pela capacidade de lidar com as perdas. É o estado de recolhimento. E esse estado passa por algumas etapas.
A primeira fase do luto é a negação, quando as pessoas negam a situação para combater as emoções que estão experimentando por causa de sua perda.
A raiva é a segunda etapa, que ocorre quando os efeitos da negação começam a se desgastar.
Em seguida, temos a fase de negociação, onde a pessoa de luto pode experimentar pensamentos do tipo “se apenas…”.
Na quarta fase temos a depressão, que surge quando as pessoas têm de enfrentar os aspectos práticos da sua perda. E por fim, temos a fase da aceitação, em que após externar sentimentos e angústias, a tendência é que o paciente aceite sua condição e comece a elaborar estratégias pessoais de adaptação dentro de sua nova realidade.
Mas resistir e pular etapas pode fazer com que o sofrimento seja prolongado e gere assim, traumas emocionais. Por esse motivo, é importante vivenciar o luto, entregar-se à dor e chorar. Respeitando claro, o tempo de cada um.
Não sabemos lidar com a morte
Agimos, instintivamente, na direção da eliminação da dor da perda, e não estamos preparados para tratar disto. Porém, o luto não é doença, assim como a tristeza não é depressão e, é um equívoco acreditar que existe um tempo cronológico para essa tristeza ou essa dor terminar.
O luto não se define por seu tempo de duração, mas sim pelo processo de elaboração sobre a morte, que é feita por cada um. A maneira como compreendemos o momento do luto, pode ser crucial. Temos um tempo interno, que se chama Kairós, ele sim irá designar o tempo correto em que essa dor será amenizada. Diferente do tempo Chronos, o tempo que mede os dias e as horas.
Falar do luto é importante, já que, psicologicamente não poder manifestar sua dor é uma agressão e pode alimentar outras dores e somatizar a angústia. Isso ajuda a elaborar mais rápido. É um recurso muito positivo e muito saudável. Falar e ouvir sua dor.
E aqui, entra uma outra questão importante em todo esse processo: como é difícil aguentar ouvir a dor do outro e como não estamos preparamos ou não preparamos nossos filhos para essa atitude diante do sofrimento alheio.
Cada um vive a sua dor
Nem sempre estamos preparados emocionalmente para esse ato empático. Importante entendermos que, não existe dor maior ou menor. Existe dor e cada um vive essa dor conforme sua própria bagagem de vida. Não existe fim do luto, existe fim do processo de sua elaboração. O importante não é cair, mas voltar a se levantar.
Portanto, por todo exposto, fica claro que Milton Neves ainda está preso em algumas fases do seu luto. Porém, é importante que a perda não seja reprimida.
Do contrário, pode se manifestar posteriormente como algum outro sintoma. Por isso, trabalhar a elaboração da perda é fundamental para estimular, a dura tarefa de encontrar ferramentas para enfrentar as frustrações e dores causadas pela morte.
Afinal, o objetivo é eliminar o desespero e dar lugar a uma maior serenidade, através do enfrentamento consciente da saudade.